A fotografia de Alaa Salah tornou-se viral e é a nova imagem dos protestos no Sudão contra o regime de Omar al-Bashir.
Desde Dezembro passado que multidões ocupam as ruas do Sudão a pedir o fim do regime de Omar al-Bashir, no poder há três décadas. Apesar de o país estar a reprimir com violência os manifestantes, os protestos têm vindo a intensificar-se. Nos últimos dias, a luta sudanesa ganhou uma nova imagem: uma mulher vestida de branco, em cima de um carro, a falar para a multidão de braço erguido durante um protesto na capital, Cartum.
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Depois de a fotografia se tornar viral nas redes sociais, a jovem foi identificada. Trata-se de Alaa Salah, 22 anos, estudante de arquitectura. Em declarações ao jornal The Guardian, a jovem conta que, desde Dezembro, vai todos os dias para a rua em protesto. “Os meus pais ensinaram-me a amar a nossa casa”, disse ao jornal inglês.
“No dia em que tiraram a fotografia, fui a dez concentrações diferentes e li um poema revolucionário”. No poema – que é conhecido entre os manifestantes, tendo sido cantado nos protestos de Setembro de 2013 e Janeiro de 2018 – Alaa Salah destaca um verso: “A bala não mata. O que mata é o silêncio das pessoas.”
“No início encontrei um grupo de seis mulheres e comecei a cantar. Elas começaram a cantar comigo e as pessoas começaram-se a juntar”, acrescenta.
Lana Haroun, jovem sudanesa que publicou a fotografia no Twitter na segunda-feira (dia 8), partilhou, à CNN, que Alaa “inspirou todas as mulheres e meninas no local. Ela contou a história das mulheres sudanesas”.
A professora e blogger Hind Makki, que tem nacionalidade americana e sudanesa, disse, ao The New York Times, estar convicta de que esta fotografia será “a imagem da revolução”, principalmente devido ao simbolismo do vestuário da jovem. Os brincos dourados e redondos são característicos no país e simbolizam a feminilidade. O véu branco não é o mais comum entre as jovens sudanesas; normalmente é associado às mulheres mais velhas, que o vestiam quando marchavam nas ruas contra as ditaduras militares.
A cor branca foi também adoptada por estudantes, em Março, durante as manifestações na Ahfad University for Women (AUW). Desde então as mulheres vestidas de branco começaram a ser designadas de Kandakas – fazendo referência às rainhas núbias do antigo Sudão, conhecidas como mulheres com força para lutar pelos seus direitos.
No sábado, milhares de pessoas juntaram-se em frente à residência oficial do Presidente Omar al-Bashir em Cartum, a capital do Sudão, exigindo que abandone o poder. As forças de segurança usaram gás lacrimogéneo para dispersar a manifestação, que a agência Reuters descreve como a maior desde que estes protestos começaram.
Foram feitas várias detenções, como tem acontecido nestas manifestações — a Human Rights Watch denunciou a “total impunidade” com que têm operado as forças do Governo, disparando contra manifestantes desarmados.
Bashir, além de estar no poder há 30 anos, é denunciado por múltiplas violações dos direitos humanos e é procurado pela justiça internacional por crimes de guerra cometidos no Darfur. Em Dezembro, o Partido Nacional do Congresso (NCP), presidido por Bashir, apresentou uma emenda constitucional para pôr fim ao limite de mandatos e permitir ao Presidente de 75 anos, que chegou ao poder num golpe de Estado em 1989, voltar a candidatar-se em 2020.
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