Centelha por Viriato Caetano Dias (viriatocaetanodias@gmail.com )
A pintura de um edifício não altera a estiagem estomacal dos seus famélicos habitantes. Transformem o mundo, não a retórica dos discursos. Extraído de uma conversa com meus sobrinhos
Eu compreendo a intenção do governo em mudar o fardamento da Polícia da República de Moçambique, porque o anterior parecia não dignificar a corporação, que se confundia com as “cores do diabo.” Muita gente, sem sofrer de daltonismo, tinha dificuldades em identificar o polícia do ladrão: o fardamento e a forma de actuação era praticamente o mesmo. Foi, então, que as chefias pensaram no seguinte: um povo que coabita com a miséria não demorará a esquecer que aqueles cinzentinhos pouco faziam para garantir a segurança e a tranquilidade públicas dos cidadãos. Tudo isso entrará em maré de esquecimento.
Não por falta de vontade, mas porque carecem de meios económicos e financeiros. As chefias não pensaram mal. Entre o cinzentinho e o azulinho há uma grande diferença na luminância. Pelo menos, por esses dias, nenhum agente da polícia anda esfarrapado.
O único problema que se cometeu em todo este processo é que a mudança de uniforme não foi acompanhada de apetrechamento de meios suficientes para que a PRM não seja uma “instituição mendiga” que depende, muitas vezes, da esmola de empresários para fazer roncar as suas viaturas. Mudou-se de fardamento, não das dificuldades que enfrentam os polícias: baixos salários e vulnerabilidade em vários outros domínios.
O novo fardamento cairá em descrédito quando os velhos problemas vieram ao de cima. Os fardamentos novos não detectam agentes corruptos e nem sacia as fomes de agentes que sacrificam a vida para dar um pouco de sossego aos cidadãos. Receio que, dentro de alguns anos, tenhamos que pensar no novo fardamento devido ao ciclo vicioso da corrupção, que mais uma vez, poderá não honrar a corporação. É apenas uma hipótese. Zicomo (obrigado) e um abraço nhúngue à Lourdes, leitora do WF e das minhas centelhas, em Paris.
NOTA: O Senhor Gabriel Júnior, apresentador do programa Moçambique em Concerto, deve moderar a sua linguagem quando fala com os seus colaboradores. Vezes sem conta, diante de qualquer erro nos procedimentos, chama os seus colaboradores de bêbados, falhados, distraídos, etc. Este é o problema de quase todos os chefes que não conseguem ser líderes e encontram nos subordinados saco de pancadas onde descarregam as suas frustrações e nervosismos. Raramente ouço dele a utilização de expressões como “por favor”, “obrigado”, que são totalmente grátis. É urgente, no país, a criação de um provedor dos telespectadores. Este reparo não retira a admiração e carinho que tenho por aquele apresentador, mas uma achega para que ele se torne o melhor dos melhores apresentadores.
WAMPHULA FAX – 10.12.2018
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