Navios estavam na península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014. A Rússia já admitiu ter capturado as embarcações. Presidente ucraniano Petro Poroshenko vai pedir ao parlamento que aprove lei marcial
A marinha ucraniana acusou neste domingo a Rússia de abrir fogo e apreender três dos seus navios militares no Estreito de Kertch, que liga o mar Negro e o mar Azov, na Crimeia, segundo a BBC. Recorde-se que a tensão em Azov disparou desde que Moscovo construiu, em maio passado, a ponte da Crimeia, que une a península, anexada pela Rússia em 2014, com a parte continental do país.
Seis tripulantes ucranianos ficaram feridos, adiantou ainda a marinha. Alguns órgãos de comunicação dizem tratar-se apenas de três tripulantes. Segundo o comunicado, os navios Berdyansk, Nikopol e Yany Kapu foram atingidos e forçados a parar quando estavam a deixar a área.
A Rússia já admitiu ter usado armas e ter capturado os três navios ucranianos, dizendo que estes estavam a entrar ilegalmente em água territoriais russas no mar Negro e levaram a cabo "manobras perigosas", segundo a RT. O ataque foi levado a cabo por uma embarcação da guarda costeira do Serviço Federal de Segurança (FSB), antiga KGB.
O presidente ucraniano Petro Poroshenko, que já convocou o seu "gabinete de guerra", classificou as ações da Rússia como "sem motivo e loucas" e vai pedir ao parlamento que aprove a declaração da lei marcial, que não é vista desde o conflito de 2014-2015, avança o Kyiv Post. A BBC acrescenta que Poroshenko adianta que tal não significa uma declaração de guerra.
Contudo, a lei marcial pode significar serviço militar obrigatório, restrições nos media e em demonstrações públicas, suspensão das eleições, marcadas para março de 2019, entre outras medidas. O parlamento vai reunir nesta segunda-feira às 16.00 (14.00 em Lisboa).
A porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros russo escreveu na sua página de Facebook (em russo), citada pela BBC, que a Ucrânia agiu como um "salteador de estrada" no estreito de Kertch. Primeiro, afirma Maria Zakharova, houve uma "provocação", depois "pressão coerciva" e por fim uma "acusação de agressão".
NATO pede à Rússia que cumpra a lei
O ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano Pavlo Klimkin também já reagiu, afirmando que Kiev está em contacto com "amigos e parceiros" para perceber que resposta "conjunta" terá a ação da Rússia. Entre os parceiros do referido contacto estão a NATO e a União Europeia. Ambas já reagiram.
A porta-voz da NATO afirmou que a aliança está a "vigiar de perto" a situação e que apela à "contenção". Oana Lungescu acrescentou ainda que "a NATO apoia completamente a soberania de Ucrânia e a sua integridade territorial, incluindo os seus direitos de navegação nas suas águas territoriais. Pedimos à Rússia para garantir acesso livre aos portos ucranianos no mar Azov, respeitando a lei internacional".
"A UE não reconhecerá a anexação ilegal da Crimeia"
A alta representante da União Europeia para a Política Exterior Frederica Mogheriniexigiu hoje à Rússia que restaure a liberdade de circulação no estreito de Kertch, que separa os mares Negro e Azov, para baixar a tensão na região.
"As tensões no mar de Azov e no estreito de Kertch aumentaram perigosamente hoje", denunciou a porta-voz, referindo-se ao incidente, após o qual as autoridades russas fecharam a navegação na zona.
A representante disse que a construção da ponte de Kertch teve lugar sem o consentimento da Ucrânia e constitui "outra violação da soberania e integridade territorial" daquele país.
"A União Europeia não reconhece e não reconhecerá a anexação ilegal da península da Crimeia por parte da Rússia", frisou, citada pela Lusa.
"Esperamos que a Rússia restaure a liberdade de passagem no estreito de Kertch e apelamos a todos para atuarem com a maior contenção para baixar a tensão imediatamente", indicou a porta-voz de Frederica Mogherini, em comunicado.
Cidadãos ucranianos têm protestado nas últimas horas perante a embaixada da Rússia em Kiev. Começaram por depositar pequenos barcos de papel à entrada, mas a tensão tornou-se maior e explosivos e tochas foram lançados.
O correspondente da BBC em Moscovo, Steve Rosenberg, afirmava neste domingo que não se deve esperar que o presidente russo Vladimir Putin assuma a culpa. "A sua linha de defesa tem sido sempre: 'Não fomos nós que começámos.'" Rosenberg dava os exemplos da guerra Rússia-Geórgia de 2008 e a anexação da península da Crimeia em 2014.
Recorde-se que os russos acusaram recentemente a Ucrânia de entrar ilegalmente nas suas águas, bloqueando o acesso ao Mar de Azov com um navio tanque.
As tensões no mar da península da Coreia, anexada pelos russos em 2014, têm-se tornado cada vez mais frequentes nos últimos meses. Além da anexação da Crimeia, a Rússia é acusada pela Ucrânia de fomentar os separatistas do Leste do país.
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