sábado, 3 de novembro de 2018

Negócios ilícitos alimentam a violência em Cabo Delgado



A economia ilícita alimentou a corrupção, manteve as fronteiras e o litoral poroso e afectou a legitimidade do Estado, diz um estudo da Iniciativa Global Contra o Crime Transnacional Organizado.
A recente onda de violência em Cabo Delgado, norte de Moçambique por militantes extremistas foi financiada pela economia ilícita do país, diz um relatório da Iniciativa Global Contra o Crime Transnacional Organizado, recentemente lançado.
O relatório enfatiza que o envolvimento do governo moçambicano no tráfico de drogas, contrabando humano e caça de animais selvagens frustra os seus esforços para combater o grupo chamado al-Shabab.
A economia ilícita alimentou a corrupção, manteve as fronteiras e o litoral poroso e afectou a legitimidade do Estado, diz aquela organização.
“As figuras políticas, o partido no poder e seus associados criminosos de elite têm se beneficiado abertamente da extração lícita e ilícita de recursos naturais, enquanto a comunidade local tem sido punida por se envolver em economias informais ilegais e negado os benefícios do investimento formal, diz a Global Initiative.
Desde o início de ataques, em Outubro de 2017, o governo de Moçambique prometeu eliminar o grupo, mas um ano depois os ataques continuaram.
Pelo menos 90 pessoas foram mortas e centenas de casas incendiadas pelos atacantes nos distritos de Palma, Macomia, Mocímboa da Praia ou Mueda.
Recentemente iniciou, na cidade de Pemba, capital de Cabo Delgado, o julgamento de cerca de 200 pessoas acusadas de envolvimento nos ataques, incluindo tanzanianos.
Localmente os atacantes são chamados Al Shabab, mas o grupo islamita somali com este nome nunca reivindicou qualquer associação.
Simone Hayson, que fez o estudo, diz que “não foi encontrada nenhuma ligação comprovada destes atacantes e movimentos terroristas internacionais como Al Qaeda, Estado Islâmico, ou Al Shabab, e fica em aberto a possibilidade de ser um fenómeno regional”.
Hayson diz ainda que há algumas indicações sobre contactos do grupo com países vizinhos e distantes como Quénia (norte), mas não se conhece a nível dessas ligações ou se há alguma liderança vinda desses lados, “essas são questões que ainda não percebemos”.
Quanto à possibilidade de o movimento perturbar as operações de empresas do sector de gás em Palma, Hayson tem dúvidas, porque, de momento, não parecem ter a capacidade militar para tal. “Eles podem perturbar aldeões e potencialmente trabalhadores de ONGS”.
VOA – 02.11.2018

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