segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Maputo-Katembe e estradas de ligação!

O meu amigo, o Prof. Ferreira, o grande filósofo Domus Oikos, escreveu um texto crítico muito bom, a cerca da propriedade da ponte Maputo-Katembe e estradas de ligação!
Apesar de ser um bom, o texto tem alguns pecados que eu gostaria de abordar.
Primeiro pecado: negação da propriedade e do orgulho Moçambique na ponte Maputo-Katembe
O primeiro pecado está no facto de retirar completamente o orgulho de Moçambique 🇲🇿 no projeto da ponte e das estradas de ligação. A verdade manda dizer que o Estado, neste caso Moçambique 🇲🇿, tem 5% no investimento feito. Apesar de insignificante, os 5% que estão investidos nesta ponte e nestas estradas representam todos nós, os cerca de 28 milhões de habitantes. Isto representa um orgulho e até um certo poder de Moçambique 🇲🇿 que “hospeda” a ponte.
Apesar de ser verdade que quem financia manda/ quem paga mais, manda mais, não é menos verdade que quem hospeda a ponte também manda. A prova disso é que quem financiou sabe que não pode ser extremamente arrogante porque os Estados têm o poder soberano de nacionalizar investimentos no seu solo, inclusive os investimentos privados. A China capitalista, como qualquer outro país capitalista, sabe desse poder dos Estados e tem muito que os Estados usem esse poder. No caso de Moçambique 🇲🇿, está claro que nacionalizações é algo absolutamente improvável de acontecer, mas não deixa de ser um elemento de poder.
Segundo pecado: propriedade da ponte
Apesar de ser verdade que a ponte representa um orgulho chinês, não é verdade que o orgulho seja absolutamente chinês. A prova disso é que Moçambique 🇲🇿 foi amplamente bem falado na comunicação social na (nacionl e internacional) por hospedar a magnífica e imponente obra de arte e de engenharia. As pessoas que estão a fazer (e as que vão fazer) fotos na ponte colocam e colocaram os nomes Maputo e Katembe na ponte. Estes nomes, com certeza, não tem nenhuma ligação ou identidade chinesa. Mesmo aqueles que não conhecem a Maputo e Katembe, quererão visitar e para identifica-lá, sem sombra de dúvidas, Moçambique 🇲🇿 é o nome que virá associado a legenda das fotos. Desta forma, a ponte serve de joia para publicidade de Moçambique 🇲🇿, dentro e fora do país. O mesmo acontece com a nossa majestosa riqueza faunistica chamada Parque Nacional de Gorongoza (PNG) que está sob controle de investimento americano, mas nem por isso deixa de ser orgulho de Moçambique 🇲🇿. A prova disso é que que visita o PNG não aterra na Flórida, na Califórnia, em Massachusetts ou em qualquer outro Estado americano. Aterra em terras da pérola do Índico. O mesmo vai acontecer com os que visitarem a ponte. Não vão aterrar em Beijing, em Hong Kong ou em qualquer outra terra chinesa.
Terceiro pecado: pagamento da dívida
O texto coloca, de forma extremamente descuidada a questão do pagamento da dívida. Além disso, há um sensacionalismo imperdoável. Acima de tudo, o texto faz vista grossa as regras de financiamento ou de endividamento no sistema financeiro capitalista no qual estamos integrados. Isto significa que, no sistema capitalista o pagamento de empréstimo/ de uma dívida nunca é igual ao valor do dinheiro levantado. Sempre se paga mais. O sistema financeiro funciona assim. Quem tem (ou já tece dívida) com um banco sabe disso. Por isso, é no mínimo espantoso que o texto de Domus Oikos apresente um espanto em relação ao valor que será pago por causa do investimento na ponte Maputo-Katembe e nas estradas de ligação. Os pagamento é proporcional a magnitude do empréstimo/ da dívida. Assim sendo, é irreaalistico esperar que de 785 milhões de dólares, o reembolso seja o mesmo valor ou esperar que sejam apenas uns irrisórios 10 milhões de dólares acrescidos ao valor investido.
A cerca do pagamento, o texto de Domus Oikos apresenta outro erro - o erro da mistura explosiva entre o sensacionalismo, o senso comum e a especulação. Esta mistura foi usada para dizer que Moçambique 🇲🇿 vai pagar os 785 milhões de dólares com “sangue”, que significa delapidação da “nossa Madeira, do nosso mar”. Isto é uma coisa que já está a acontecer, envolvendo muitos outros actores, mesmo antes de termos entrado no negócio da ponte Maputo-Katembe por isso é incompreensível associar as duas coisas. O mais grave de tudo é que essa forma sensacionalista, especulativa e senso comum de abordar o assunto coloca a China como o diabo, ignorando o facto de que não é o Estado Chinês que faz a delapidação. São cidadãos chineses (com ou sem conivência do Estado é matéria especulativa. Outro erro grave é colocar a China como se fosse, sublinho, como se fosse o grande e o único diabo responsável pela delapidação da “nossa Madeira e do nosso mar”.
Assim, o texto de Domus Oikos ignora completamente o facto de que “Moçambique já não é um país qualquer. Moçambique 🇲🇿 já não é um simples país de quem se fala. Moçambique 🇲🇿 é um país com quem se fala. Ignorar isto significa fazer vista grossa a trajetória evolutiva de dinheiro que o Estado vai gerar com os múltiplos recursos de grande valor econômico e estratégico de que Moçambique 🇲🇿 dispõe. Que o digam os investidores que estão a correr para Moçambique 🇲🇿.
Quarto pecado: propaganda (in)voluntária contra a China
Ao usar o termo colonização ou neo-colonização chinesa, o texto de Domus Oikos entra (in)voluntariamente no jogo da propaganda anti-China. Esta propaganda, que cresce a olho nu, revela o desespero de muitos Estados em função da ascensão da China ao estatuto de super-potência econômica, que alguns policymakers e acadêmicos consideram que já atingiu.
A propaganda anti-China não é, em si, um problema. O problema é usar a propaganda (in)voluntariamente para mostrar que a China é o diabo em ação, quando na verdade a China está a aplicar o velho princípio capitalista e das relações internacionais segundo o qual “não há almoços gratuitos”.
Quinto pecado: mau negócio?
Sem dados fiáveis, o texto de Domus Oikos assume, categoricamente que os 785 milhões de dólares foram um mau negócio. Esta posição faz parte de uma paranoia (in)compreensível da sobrevalorização de ganhos econômicos sobre outros ganhos sócio-políticos e inclusive de segurança, que são tão importantes para um Estado que está no processo construção e de consolidação como Moçambique 🇲🇿.
Assim, avaliar o negócio na base de dados ocos e simplesmente economicistas é um pecado, apesar de ser uma abordagem respeitável.
Calton Cadeado
Ps: eu agradeço ao amigo Domus Oikos por me considerar um grande academico, mas não resisti a crítica ao texto.
Ps: eu desconfio das boas intenções de todos investidores, inclusive da China. Mas, isso impede-me de consumir acriticamente a diabolizacao da China que está patente no textodo meu amigo Domus Oikos.
Ps: eu coloquei muitas bandeiras de Moçambique 🇲🇿, neste texto. Isto significa que reconheço Moçambique 🇲🇿, em primeiro, lugar, principalmente em cerimônias de Estado. Eu estou a espera de ver as pessoas a valorizarem mais a bandeira de Moçambique 🇲🇿, independentemente das suas cores partidárias. Eu quero que a(s) a bandeira(s) de Moçambique 🇲🇿sejam sempre maiores do que as bandeiras de quem o que quer que seja. Assim ganha o Estado. Assim ganha Moçambique 🇲🇿 que está na iminência de sofrer graves crises de unidade nacional.
Ps: neste texto, eu coloquei muitas bandeiras de Moçambique 🇲🇿 porquê reconheço o orgulho de Moçambique 🇲🇿 na ponte.
Ps: neste texto, eu coloquei muitas bandeiras de Moçambique 🇲🇿 porque também penso que a ponte é dos Moçambicanos.
Comentários
Jose Maphanga só tenho a dizer, que o meu prof Calton Cadeado, foi muito feliz, pelo conteúdo do texto, e ainda, pelo tempo record que ele conseguiu trazer cá para nos os leitores. agradecendo também a devida pontuação aqui exibida, sei claramente que os seus textos andam por vezes faltando estes ingredientes, talvez pela programação do word a americano (kkk, risos), foi também estratega o prof Calton Cadeado, por ter conseguido trazer mais bandeiras neste post, matou dois coelhos em uma só cajadada, disse abaixo partidarização da ponte e ao mesmo tempo disse, somos Moçambique e temos que nos orgulhar. foi feliz ainda por ter conseguido corrigir a quem lhe chamou de académico (porque para muitos, este reconhecimento, seria um pretexto para a inaccao do reconhecido, como tenho visto eu...), por fim, dizer que travei grande combate ontem aqui e noutro lugar, debatendo se calton cadeado era mesmo "Grande Académico" conforme reconhecera Domus Oikos, mas na minha saída filosófica eu rebati todos argumentos usando a tese do Homem medida que fora anunciada na antiguidade por Protágoras de Abdera (Homem como medida de todas as coisas e o relativismo patente). lutei com unhas e dentes contra todos, numa clara batalha de libelo/apologia ao de "magistro".
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Domus Oikos Caro Prof. Calton Cadeado eu mesmo fiquei admirado pelo impacto do meu texto, de entre centenas de "likes" e centenas de comentários... naturalmente como era de esperar pros e contras. Isso que anima debate. Estive e ainda estou ocupado em afazeres... não li todo texto vou faze-lo no fim do dia. Sobre academia todos sabem a verticalidade e profundidade racional dos seus ricos argumentos e devo dizer que é de entre poucos na nossa Praça. Portanto reconheço estás qualidade mesmo quando divirgimos. A crítica e porque estudei uma ciência que é crítica (filosofia) interpelou-me e pretendi criticar o nosso contexto actual que sem tirar mérito dos da parte de cá (dirigentes) quis alertar sobre alguns pontos que achei cruciais. Uns acadêmicos no Quênia alertaram o presidente Uhuru Kenyatta e este rejeitou os investimentos chineses na ordem de 33 bilhões de dólares. A China perdeu a corrida de partilha e empoderamento colonial de África porque era camponesa e perdeu igualmente na segunda onde de imperialismo das duas potências EUA e URSS porque ainda era caponessa. O boom industrial de grande dimensão é relativamente recente. A vontade de explorar África hoje é mais forte que nunca. Concede financiamento mesmo sem a segurança ou seja quando um doador não se preocupa da segurança da devolução é perigoso. Será como curandeiro que em pagamento in natura ou seja que seja pago por filha do paciente.
Mais logo vou ler o texto Prof. e poder melhor cobtribuir.
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Responder38 minEditado

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