terça-feira, 13 de novembro de 2018

João Lourenço tem sido amplamente acarinhado por sua investida contra a corrupção mas ainda não conseguiu construir uma confiança sólida na sociedade.

Os desafios de JL
Estive em Luanda numa empreitada anti-corrupção da sociedade civil local, a convite da AJPD, organização dirigida energicamente pela Lúcia de Silveira, uma guerreira dos direitos humanos e do acesso à justiça, que está a agarrar no actual “momentum” de vontade política do Presidente João Lourenço contra a corrupção. Eis o que percebi:
•João Lourenço tem sido amplamente acarinhado por sua investida contra a corrupção mas ainda não conseguiu construir uma confiança sólida na sociedade. A sociedade duvida. Ele era parte da elite de José Eduardo dos Santos (Zedu). Para além da prisão de Zenu (filho de Zedu, que dirigia o Fundo Soberano e criou o Banco Kwanza com dinheiros do Estado) e de um alto quadro do regime anterior, nada mais de signficativo aconteceu. O ultimato relativo ao repatriamento dos dinheiros roubados ao Estado ainda não passou disso: de mero ultimato. Ninguém ainda cumpriu.
•Duvida-se da capacidade do Governo em fazer vingar esse ultimato. O Governo poderá conseguir confiscar bens domiciliados em Angola mas poucos crêem que o repatriamento aconteça a breve trecho sem que haja processos judiciais que levem ao decreto vigoroso daquela sanção e uma negociação com os bancos dos países onde boa parte dos dinheiros está guardado.
•Existe a percepção segundo a qual João Lourenço está apenas empenhado numa operação cosmética visando reverter a imagem angolana de pária no plano externo, para recolocar o sector financeiro de Angola na normalidade. Essa percepção se baseia no facto de que anúncios decisivos de JL na actual cartada anti-corrupção são tomados quando ele está no exterior (como foi a prisão de Zenu).
•Essa operação cosmética visaria também o plano interno, recuperando a desgastada imagem do MPLA, mas muitos duvidam que um mero golpe de teatro sirva para apaziguar as dores da pobreza e da miséria estampada em cada lamento de angolano marginalizado. De modo que a “operação resgate”, um misto de purga no funcionalismo público para afastar os “fantasmas” e a retirada do comércio informal das ruas barulhentas de Luanda, é vista com desconfiança, sobretudo porque os cidadãos esperam que lhes sejam dadas alternativas.
•Entre franjas consideráveis da intelectualidade angolana há o entendimento de que João Lourenço tem um grande desafio para alavancar seu discurso anti-corrupção: desencadear uma revisão da Constituicão, para reduzir substancialmente os poderes do PR, lavrando terreno para um novo quadro de cheks and balances. O actuais poderes do PR bloqueam a acção do judiciário; o mandato do PGR não é protegido contra interferência do Executivo. Uma clara separação de poderes que limite as interferências de um sobre o outro é fundamental. Resquícios de uma classe política fortemente embrenhada numa gestão “neo-patrimonial” do Estado (J-F Médard) estão presentes. João Lourenço terá de afastar a continuada percepção de um poder do Estado personalizado em quase todos os níveis de autoridade, com estruturas informais de partilha de renda, através do clientelismo e da patronagem. O primeiro passo para que isso aconteça é uma ampla revisão da Constituicão. Ainda não se percebe claramente se Lourenço está interessado nisso.
•Só essa revisão levará a uma efectiva mobilização dos cépticos, gerando uma verdadeira acção colectiva necessária para a introdução de um coquetail de reformas anti-corrupção com impacto em diversos níveis da administração pública e na interface desta com a sociedade no geral e o sector privado. Sem isso, a actual onda vai esmorecendo.
•Aliás, João Lourenço deverá perceber que uma reforma anti-corrupção envolverá um amplo redesenho institucional, para dotar Angola de um quadro legal e organizacional compreensivo para empreender a reacção penal contra a corrupção.
•Organizações da sociedade civil angolana estão a despertar para esse desiderato, começando a estudar como intervir efectivamente na reforma. Mas falta ainda libertar consciências ainda não habituadas ao pluralismo de ideias e ao envolvimento activo da sociedade civil na advocacia e monitoria dos assuntos da governação.
•José Eduardo dos Santos é um homem ferido no seu orgulho mas impotente perante o desabar do mundo sobre o tecto desvairado de sua ambição desmedida. Abandonado pela mulher, Ana Paula, e com um filho preso, Zedu confina-se no seu palácio do Miramar lambendo as feridas de um percurso ditatorial terminado ingloriamente.
Comentários
Kelven Fernando Massala Ainda vai rolar muita tinta. ..
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Luis Nhachote "Abandonado pela mulher, Ana Paula, e com um filho preso, Zedu confina-se no seu palácio do Miramar lambendo as feridas de um percurso ditatorial terminado ingloriamente." soberbo o último paragrafo
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Carlos Jossia Cão tinhoso
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Ivo Dinis Ha razoes para a sociedade Angolana nao depositar ainda toda confianca na lideranca do JL, mas creio que a breve trecho e com a manutencao dos ideias actuais vir a dar a volta, pois em Africa prender filho dum ex presidente😀 ainda e um tabu.
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Manuel Sambo A sociedade civil, precisa de dar tempo o JL, embora esteja a pouco tempo no poder já deu sinais bem claros de conbate a corrupção. No meu entender ele tem desafios no seio do próprio MPLA. Porque as reformas que ele vem desencadeando requerem muita responsabilidade. Vamos dar mérito a essas transformações.
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Mauro Jesus Esta governação me recordar o papa doc, não sei porquê, mas não me cheira lá muito bem.
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Gracio Abdula É verdade sim é preciso esvaziar um pouquinho os excessivos poderes do Executivo centrada na pessoa do Presidente! O culto de personalidade tem que ser combatido em toda a África! A democracia não convive bem com poderes "endeusados"!
Qdo os Presidente
s deixarem de ser "Deuses" iniciaremos em África regime políticos de uma democracia participativa baseada em poderes e contra-poderes centrados no Povo(Assembleias populares)
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Vasquinho King É dificil momento para o Zédú mas ele é tigre da Malásia vai se erguer dos escombros que nem o velho resiliente búfalo Guebuza e o crocodilo Mugabe não antevejo um fim inglorio desses dinassauros
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Gabriel Muthisse Ainda não aprendemos duas coisas: (i) depois de 10 anos ou mais de poder, em África, todo o Presidente sai chamuscado. Não conheço ninguém que tenha escapado disto. No nosso caso, desde Samora, passando por Chissano, até culminar em Guebuza, todos saíram enquanto o público estava "cansado" deles. Fora de portas, podemos falar de Mbeki, de Zuma, de Mugabe, de Mussavene, de Nkapa... Quase todos, depois de alguns aninhos, voltam à ribalta, cobertos pela admiração geral. Não podia ser diferente com José Eduardo dos Santos; (ii) todo o novo Presidente, quando entra, é visto como um salvador (e nós os africanos gostamos de homens providenciais). Colocamos sob os frágeis ombros desses indivíduos todas as nossas expectativas, todos os nossos sonhos, todas as nossas esperanças de progresso. As expectativas são tão elevadas que, após 5 anos de poder, ou menos, começamos a maldizer os coitados, quando entendemos que continuamos pobres, com desemprego, com jovens sem habitação. A nossa decepção nem é culpa dos tais presidentes. Os culpados somos nós que colocamos todas as expectativas sobre os seus ombros. Exemplo mais recente: Magafuli, da Tanzania, que há meros dois anos era o herói de muitos e, hoje, começou a decepção. João Lourenço é apenas um homem. Muita dessa expectativa é má para ele
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Gilberto Correia Porquê não aprender com a lição e eleger para um candidato para um mandato e substitui-lo? O problema é que os próprios querem se eternizar no mandato.
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Gilberto Correia Gabriel Muthisse pois. Nós na Ordem dos Advogados de Moçambique também percebemos isso há muito.
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Fatima Mimbire Gilberto Correia eu ia fazer a mesma pergunta.
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Responder48 min
Marcelo Mosse Nos no CIP tambem eh um mandato...he he he
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Responder26 min
Gabriel Muthisse Gilberto Correia e Fatima Mimbire nós os três podemos, como Mandela, ter percebido isso. Mas muita gente, nos Partidos, na chamada sociedade Civil, na política, ainda não entendeu. Muitos acreditam que são, mesmo, homens e mulheres providenciais. Que sem eles não há como as coisas andarem
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Responder23 min
Muzila Wagner Nhatsave grande verdade essa Gabriel Muthisse. so nao vou falr de duas organizaçoes da sociedade civil para nao ofender ninguem.tem lideres vitalicios
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Responder15 min
Muzila Wagner Nhatsave Achop que essa coisa de poder deve ser doce mesmo.
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Responder14 min
Fatima Mimbire Gabriel Muthisse infelizmente. mas como podemos ajudá-los a perceber???
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Responder14 min
Gabriel Muthisse Não sei, Fatima Mimbire. Como te digo, isso não é só na política. É em todas as áreas, incluindo na SC
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Fatima Mimbire Muzila Wagner Nhatsave acho que o problema nem é ser fixe/doce. o problema é que ficam tão viciados na vida fácil e custa voltar a realidade porqu e eles não foram instrumentais na criação do enabling environment para eles sobreviverem e com dignidade Ver Mais
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Responder7 min
Gabriel Muthisse E o problema não é só dos que têm poder. É nosso, também, que gostamos de ter homens providenciais, que resolvem os nossos problemas. Temos de nos educar, também.

Os problemas de uma nação não são resolvidos por homens de pulso...
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Fatima Mimbire Marcelo Mosse não me faça rir, por favor😄😄😄😄😄
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Fatima Mimbire Gabriel Muthisse concordo plenamente. mas enquanto não tiveres o enabling environment as pessoas se vai desresponsabilizar com toda a facilidade.
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Muzila Wagner Nhatsave por isso que so irei para politica activa rico. e meus planos sao para 2024,onde estarei a trabalhar por prazer e nao necessidade.As mordomias adormecem as pessoas. Mas o mais importante que falta ao meu ver e um sentido de missao , e uma mentalidade de servir
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Fatima Mimbire Gabriel Muthisse má me preocupa mais o poder público. pode ser que a partir daí podemos ter exemplo para outras áreas, incluindo a SC
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Muzila Wagner Nhatsave Gabriel Muthisse assino o que dizes. alinhados
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Agostinho Seifane Isto é apenas um truque! África é África! N vai a lado nenhum JL!
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Moiane Telma da Gloria Força aí JL quem sabe se essa onda não contamina Moçambique.
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Filimao Matiquite Uma vez mais muito obrigado MM pela partilha. Para quem ouve de longe, fica com a impressão de ventos de mundanças vindas de lá do Atlantico soprando para o Índico. Qual quê? As coisas continuam na mesma e a meu ver é injusto nesta empreitada de combate a corrupçao prender uns e deixar outros que cometeram mesma insanidade.
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Responder59 min
Sic Spirou E esse peso todo que colocam nas costas dum homem só, qual a makha? Sozinho ele pode fazer essa reforma institucional de décadas em um mandato?! 
Eu duvido mas é verdade que é preciso além de acarinhar a ele, continuar a incentivar por essas crítica
s e sugestões. 
Uma das provas de que vamos esperar de que Jlo seja diferente do status quo que vigorou naquele país, serão as eleições gerais. (aqui estou a olhar de esguelha com o nosso caso e quem não percebeu é com ele) ....
Mas o partido MPLA agora e depois, serão decisivos se alinham ou não com a onda Loureciana ou ele está a a contravento do sistema que caracteriza os bradas de lá.
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Responder57 min
Francisco Dambo Tembe Pelo menos la houve coragem, e aqui na patria amada para quando ?
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Responder53 min
Waki Joel Angola está atrasada cerca de 10 anos em relação a Moçambique. O AEG trouxe o combate ao "deixa andar", foi aplaudido, idolatrado, "colunado socialmente" e hoje amado por poucos.

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