domingo, 4 de novembro de 2018

Crónica de rádio

De Marcelo Mosse, com a devida vénia.

Crónica de rádio

Há dias quando correu a notícia da partida do Nassurdine Adamo, pensei no Djáfaro. Em Inhambane, quando éramos miúdos, o Djáfaro era o protótipo do hippie local, se passendo na Avenida com suas calças abotoadas por cima do umbigo, esvoaçando a boca de sino, e uma aura de chalambiano narigudo em sua melomania espantosa. Lembrei-me sobretudo do rádio. E da Rádio. Das ondas de hertz e das pessoas que viviam profundamente em seu diapasão. Percorri as memórias de um caminho onde a rádio e suas gentes me assomam nas vitrinas do tempo. Desde muito cedo! No isolamento com a guerra, quando descobrimos a rádio musical sul africana. A Five FM ou a Capital 604 em onda média com a portentosa animação de Óscar Renzi. E a Metro FM com Joseph Tsabalala. O top 40 da Five, aos domingos às 10, era uma religião. Isolada do mundo, Inhambane se pendurava na rádio. Na cultura espalhada pela rádio.
Meu pai era um fanático do Londres Última Hora, da BBC, às 22. Para manhambana, era gratificante. Na BBC havia um bitonga passeando sua classe. O Suleman Cabir. Se pelas ondas recebíamos da RAS o pop e rock mais recente (mas também coisas weird tipo Simon and Garfunkel ou mesmo Lou Reed e Velvet Underground), de Londres vinha o noticiário inquinado de guerra fria e da metrópole o relato da bola entre quatro linhas. Não havia indiano de Inhambane, uma casta muito local, que não estirasse a antena de um Xirico para conectar no melhor som através dos desusados cabos de telefonia fixa para ouvir um derby alfacinha.
A rádio era tudo! Era nosso pão em cada refeição. Fosse no golpe perfeito da cana (na verdade era mesmo um fio no dedo com anzol) acertando um cherewa na maresia morna da ponte-cais. Ou entre dois mergulhos na prancha grande de Balane. A cidade foi sempre um viveiro de radialistas de enorme criatividade. Locutores de timbre elegante e sonorizadores de verve melómana. Pensei neles naquele dia em que o João de Sousa postou um singelo obituário chamando o Nassurdine de qualquer coisa como super-tutor de muitos profissionais de rádio que vieram e foram ao longo dos tempos.
Eu nunca conheci pessoalmente o Nassurdine. Mas, mesmo assim, sempre me referia a ele com orgulho. Era um dos mais representativos radialistas oriundos de Inhambane. Pensei neles todos. No Izidine Faquirá, que fez da Rádio Cidade um bastião de boa cultura e ensinou muitos ouvidos moçambicanos a escutar jazz. Faquirá foi dos culpados pela romaria de milhares num dia para a Matola para ouvir os Four Play sem o Chuck Loeb. Lembrei-me de finados como José Custódio e Agostinho Luís (“Aló Leões da Floresta”). E de prata mais recente com o Hélder Izidine no pedestal, ele que tentou compor nos alinhamentos da RM seu compasso pop-rock herdado das vivências da Five. De Inhambane, há gerações distintas ligadas apenas pela elegância de sua voz e dicção. Armindo Sumburane. João Fumane. Neima Izidine. Não me recordo de todos. Mas não me esqueço doutros que se moldaram na sombra do Nassurdine. Sobretudo do Ismael Mamudo e, outra vez, do Djáfaro. Sim o Jafar Adamo, irmão mais novo do Nassurdine. Um tipo “easy going” com charme avultado. Um manhambana de gema, cheio, como todos, daquela cultura musical intrínseca a quem cresceu numa cidade onde outros tentaram criar ritmos insondáveis como o “bitonga blues”, do Alexandre Chaúque, derradeiro locutor da minha adolescência, rendido a Isac Hayes.
Há dias, quando me cruzei com estas memórias, pensei no jornalismo e na locução de rádio e de uma coisa que, cada vez mais, vamos perdendo: qualidade. É certo que temos hoje mais canais de oferta de informação e cultura, mas a baixa qualidade também nos afasta da rádio. Isso decorre das reformas compulsivas. Gurus como Izidine Faquirá são obrigados a pendurar as chuteiras, porque completaram os anos de trabalho ou a idade obrigatória para aposentação.
Na RM como na TVM, é preciso fazer como na CNN: juventude como Don Lemon tem seu espaço assegurado em prime time mas o Wolf Blitz não foi encostado à parede. Essas regras de reforma compulsiva nāo deviam ser extensivas aos profissionais da indústria criativa do sector público. Elas estão bloqueando a passagem do testemunho, matando a qualidade. No caso do Nassurdine, sua partida chegou, mas há muitos que estão na reforma quando poderiam contribuir mais activamente para o controlo da qualidade. Fazer rádio é uma arte. Que se aprende de influências, tal como o Nassurdine influenciou uma fornada de gerações....
Comentários
Oscar Faduco Esqueceste de João de Sousa
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Celso Manguana Manguana INTERESSANTE MANO...ESSA Parte de sairem porque a idade.....muitos saiem quando ainda têm muito sumo desde que bem espremido....mas enfim como dizia alguém por cá retira se cedo
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Tomas Mario Sobre as "reformas compulsivas": porque muito intrigado pelo fenomeno e pelas suas serias conseqüências na qualidade do serviço (de repente deixado às mãos de 'focas' sem tutores), procurei explicações junto de alguns gestores, que me disseram o seguinte: "são ordens expressas do governo destinadas a dar oportunidade de emprego à juventude". Se tal "ratio" me parece atendivel, já me parece má política de gestão perder totalmente de vista a necessidade de salvaguarda da qualidade e mesmo da identidade das empresas, garantindo a permanência daqueles que simbolizam isso mesmo, até como fontes de referência vivas da juventude que for entrando...Pensar fora da caixa!
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Oscar Faduco Onde há necessidade que essas reformas sejam compulsivas elas não ocorrem
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Cyso Maciel Ngoka Tomas Mario compreensivel... Mas so se torna suficiente quando por parte de quem se esperva alguma proteção não ha um esgrimir de argumentos em defesa da continuidade destes gurus da comunicação como Faquira
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Responder22 h
Manjate Custodio A Rádio Moçambique era fonte principal nessa altura para nos informar. Que tal seu mano Marcelo Mosse fazer um livro destes gurus para devido registo na nossa. Espero Wagaya da Liberdade.
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Francey Zeúte A rádio passou a ser um espaço de fofoca e música. Simplesmente isso.
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Likhamba Wammy Nogi Francey Zeúte música sem qualidade
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Francey Zeúte Likhamba Wammy Nogi infelizmente, infelizmente. Ligo-me sempre à RDP e a RM. Infelizmente gostava de ter mais alternativas mas...
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Likhamba Wammy Nogi Francey Zeúte Infelizmente só oiço a RDP; e fui Obrigada a ouvir as restantes na fase da avaria da RDP,foi uma experiência desagradável
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Francey Zeúte Likhamba Wammy Nogi tens também a LM, emissão em Inglês. Mas sem duvida que não é a mesma coisa.
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Nilesh Ramniclal MM, a tua biblioteca não falha, muita verdade neste teu poste.
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Assia Clara Grandes embondeiros da nossa radio,....saudades da minha infancia....escutar o Agostinho luís era meu programa predilecto.... Alô leões da floresta...uns anos depois escutava o Ercílio Fernandes Bechardas, no vigèsima segunda hora...bons tempos
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Guilherme Mussane A TVM e a RM estão a "pagar" uma impagável factura dessas reformas compulsivas: baixa de qualidade técnica e de audiências.
É muito triste quando não há sintonia entre a chefia, o emprego, a experiência e às qualidades técnicas.
RIP Nassurdine Adamo!
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Filipe Zivane E tu escreves muito bem M.M, vamos entrando nas tuas lembrancas, que parece que nos levas sem nos pedires licença para nos viajares. Bonito texto.
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Filipe Zivane Daniel da Costa e tu idem.
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Responder23 h
Daniel da Costa Filipe Zivane, obrigado pelo elogio. Mas hoje estamos em Inhambane...kkk...Estou a lembrar- me do Leonel Matias e os seus despachos como correspondente da BBC em finais de 80.
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Daniel da Costa Obrigado, Marcelo. Linda incursão pelo mundo da rádio, um mundo do qual fiz parte e onde terei passado alguns dos melhores anos do meu percurso. Tive o privilégio de trabalhar com a maior parte dos profissionais por ti citados. Inhambane é um caso de estudo, sim senhor, uma fonte natural de excelentes comunicadores.
A passagem do testemunho é um problema estrutural nas culturas de gestão dominantes em Moçambique. Parece faltar-lhes sempre a visão de longo prazo, um ponto de estratégia. Um improviso aqui, a vontade de chefe acolá, assim nos vamos precipitando para a mediocridade. 
Esta tese serve para a gestão da rádio, do atletismo, da municipalização, do hóquei, das politicas de conteúdo local, de tudo, meu amigo Mosse. 
Por falta de visão a médio e longo prazos, parecemos passageiros que somente decidem aonde querem ir, já sentados dentro do autocarro e com o autocarro em andamento.
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Joni Schwalbach Muito bom. Nassurdine era uma pessoa especial. Sensibilidade e dedicação únicas...à antiga. Já não há pessoas assim...tive a sorte de ser amigo e de ter trabalhado muitas vezes com ele. Saudades!
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Cyso Maciel Ngoka Sem comentário cara muito bem estampada a nata de radialistas da terra da boa gente, tempos de guerra, isolados mas bem informados... Espectacular MM
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Responder22 h
Anabela Adrianopoulos Marcelo Mosse remetes-me a Nampula. Á minha infância e adolescência...
igualito!Do Nassurdine Adamo fica pra mim a memoria da melhor sonoplastia do excelente profissional e o lamento de nao termos conseguido concretizar 1 pgm nascido na cabeça do wazi
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Amonge Rafael Macuacua Inhambane foi sempre praia de pesca de jornalistas para a Radio Moçambique Central.
Não é para menos, a RM central está cheio de profissionais de alta qualidade.
O que nos afasta da radio são os politicos que chegam la transformam aquilo em um bar onde falam coisas sem sentido.

Deviam criar uma radio propria para analisar a politica deles.
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Responder20 h
Ibraimo Parbato Recordo - me de ovir para além destas que inumeraste a paralelo 27
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Responder19 h
Manuel Moreira Gente da minha terra
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Responder19 h
Luis Lage Galiza... presente!
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Responder18 h
Tininha Samuel Mbaila Adorei... adorei... adorei...!
O retrato da minha adolescência.
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Responder18 h
Tininha Samuel Mbaila Obrigada Toto pela brilhante ideia e competência para a escrita.
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Responder18 h
Amália Garrine Acrescentando...
Bugendra, Júlia Bazar....
Inhambane, a nata da rádio. ...
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Responder17 h
Gilda Cane Cane Exactamente voltei a infância lendo esta crónica
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Responder17 h
Leonor Fonseca Fonseca Artigo ou uma dissertação que é memória e faz parte das histórias da História.
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Responder17 h
Victor Mambo Quando dava gosto ouvir rádio. Tribuna austral... horas das 9... 
Saudades do tempo....
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Responder15 h
Bhoguendra Chandracante Amiga Amalia obrigado por teres lembrado de mim
Bhoguendra professor locutor da radio e dirigente desportivo. Fiquei feliz em ver o meu nome. Ainda continuo a fazer radio na cidade do Porto e sou empresário de restauração. Um grande abraço para todos. Tenho saudades e memórias dos tempos. Felicidades.
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Responder14 h
Amália Garrine Ora viva.... É bom ter notícias sua. E fico feliz em saber que continua a fazer rádio, mesmo sendo em outras pradarias...
Do outro tempo, ficam as boas memórias, amigo. Saúde e tudo de bom
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Responder7 h
Bhoguendra Chandracante Amália Garrine muitas felicidades para si e toda a família. E tambem para todos os que ainda se lembrarem de mim. Muita saúde paz amor e sucessos. Um grande abraço
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Vasquinho King As vozes da Radio têm que voltar nem que seja para dar aulas.
De Pemba nasceram as vozes eclecticas de Edmundo Galiza Matospai e Filho, Mahomed Galibo, Saide Omar, Agostinho Luís, Joao Rezende, Roldao da Conceição pai e filho entre outras que apenas 
os mais velhos podem me soletrar. Foram tempos memoráveis valeu pena ter ouvido rádio.
De recordar que além de Suleiman Cabir houve mais dois moçambicanos que vincaram as passarelas londrinas o Eleuterio Fenita e Teresa Lima. Esses são as caixas negaras da radiofusão do meu tempo
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Edmundo Galiza Matos Vasquinho King Esqueces o Anvar Latif. Hoje proprietário de um aquário na rua que vai da Minerva até ao Notícias. Timor Leste? É preciso dizer que foi o primeiro não branco a fazer emissões em pprtuguês numa Porto Amélia provinciana - um mini-escândalo dos diabos. De Pemba, esqueceste meu caro Vasquinho, ou não sabes, saiu uma grande locutora, de quem eu, Anvar, Galibo, Luis Alvarinho e João Rezende "bebemos" muito, a poetisa Glória San'Ana. Voz belíssima e com um gosto musical de se lhe tirar o chapéu.
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Vasquinho King Edmundo Galiza Matos obrigado pelo fio da meada essas vozes da Rádio empolgam uma verdadeira geração dourada
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Anvar Latif Mestre Edmundo Galiza Matos dixit...Grande abraço a todos os radiófilos,cheio de ondas magnéticas e hertzianas...
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Responder9 h
Vilares Maunze Totonha, obrigado por me prenderes a um diálogo no FB, em pelo menos 5 min de memórias e relatos sem o contraditório, houve um enorme consenso e um adicionar de informação bibliotecária inigualável. Que venham mais textos assim, pessoalmente conheci o Nassordine Adamo pelos corredores da Rádio e pelas tardes de bate papo no centro social da RM. RIP
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Responder13 h
Jorge Djedje Grandes figuras da Radiodifusão Moçambicana.
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Responder10 h
Nelson Alicene Retórica respeitável e demagogia discutível- um texto de mestre, o post. Fotografando o tempo e a memória com as palavras. Se jornalismo tivesse a dimensão da literatura diria um jornalismo parnasiano-a moda de Cesário Verde. Vejo no texto uma arte de bem escrever respeitável. Mas, mas, esse debate sobre passagem de testemunho é, no meu ponto de vista, uma demagogia discutível…. Um tentar passar uma ideologia inundada de uma sensibilidade superficial e repleta de senso comum. O facto de os mestres estarem, por exemplo, na reforma, não significa que tenham dificuldade de passarem testemunho. Há em grande parte deles, uma falta de vontade propositada e um espirito covarde e egoísta. Há na praça escritores, jornalistas (Rádio, Televisão, Jornais), filósofos, empreendedores e empresários entre outros que ontem tinham uma causa mas hoje… hoje a preocupação é alguma coisa que não compreendo. Os bolsos, o luxo e a riqueza? Só eles sabem? (alguns também estão frustrados ou porque a vida não anda ou porque não discordam com tudo) E colocam cortina de ferro do ponto de vista de acessibilidade… são os melhores filantropos nas redes sociais e nos Meios de Comunicação Social, mas também extraordinários animais selvagens na convivência social quando a intenção é justa e exactamente para passar testemunho. Quando o jovem tenta contactar. Passar testemunho para quem? Um bando de jovens preguiçosos? Burros, incompetentes? Desfocados? Os mestres muitas vezes ignoram chamadas telefónicas, mensagens no imbox do fb, audiências menosprezadas (sim, audiências… porque muitos deles são caçadores de fortunas em através de alguma coisa que chamam de Associação/ONGs. Isto até pode não ser mau. Mas realmente deviam passar testemunho) os pedidos de apoio intelectual. Ignoram soberbamente. Simplesmente não te conhecem e não têm interesse em te conhecer. Conhecer para o que? Neste capitalismo selvagem. Há alguma demagogia discutível no seu texto. Desta vez, mestre, discordo manifestadamente com uma parte daquilo que, na minha opinião, pretende transmitir no seu artigo: a dificuldade que existe para passar testemunho, isto é uma demagogia que carece de debate; há alguma coisa discutível nesse discurso.
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Responder9 h
Abdul Waide Massambi Verdade phill esses tempos lindos k ate hoje marcaram musicalmente a cidade de inhambane cultura musical
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Responder6 h
Carlos E. Nazareth Ribeiro Um documento saboroso de memórias e de crítica incisiva. ParabénsMarcelo Mosse!
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Responder3 h
Donaldo Tovela "Essas regras de reforma compulsiva não deviam ser extensivas aos profissionais da indústria criativa do sector público". Nem mais Marcelo Mosse
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Responder8 min
Comentários

Gabriel Muthisse Belíssima crónica de e da rádio
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Yussuf Adam Memorias cronicadas
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Eduardo J Sitoe Fabuloso; um abraço Marcelo.
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Abel Almeida Simples, criativa e eletrizante maneira de textualizar !
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Oscar Fernandes Não se esqueçam do Wazimbo
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Ricardo Santos Muito bom!
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Joaquim Sérgio Inácio Manhique Rendido aos nomes e programas radialistas
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Hirondina Morais Um texto fabuloso. Parabéns!
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Erasmo Gil Crónica impecável... É uma pura verdade (É preciso de facto a passagem de testemunho).
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Jose Luis Cabaco Parabens pela belissima crónica, Marceli Mosse. ObrigadoJosão, por partilhá-la connosco..

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Isabel Maria Casimiro Belas recordacões registadas. As novas geracões precisam de saber como era! Avrs
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Roberto Nuno Lourenço Pires Simplesmente Fantástico. Vou ler novamente.

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