quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Turistas políticos


Por Edwin Hounnou
Fazer política a sério compara-se a participar de um campeonato de qualquer desporto que tem regras e princípios próprios. Os partidos são obrigados a conhecer as regras como as equipas desportivas devem dominar as leis e os princípios do desporto que praticam, sob o risco de caírem no ridículo e serem desqualificadas. Todo o desporto tem regras apropriadas e a política não constitui nenhuma excepção A interpretação holística de uma regra ou lei deve ser despida de qualquer emoção. Caso não, continuaremos a ver pessoas a dizerem que há perseguição para favorecer a A ou B e prejudicar a C ou D. Este argumento serve para sustentar as suas frustrações. 
Os partidos que concorrem às eleições devem dominar a Lei Eleitoral, seu principal instrumento de trabalho, como o padre reza o Pai-Nosso, de olhos fechados. Quando falta o domínio da lei, surgem interpretações erradas os procedimentos, como temos vindo a ver alguns políticos a dizer que há coligações para se tramarem uns aos outros. Não há nenhum tipo de coligação, que tanto se propala, mas existe um profundo desconhecimento da lei o que leva à prática errada, resultando em desqualificações em catadupa não só de cabeças-de-listas mas também de candidatos às assembleias municipais. 
Em política, não há feitiço nenhum que pegue ou faça acontecer as coisas. Tudo é produto de uma reflexão e de actos cronometrados. É uma arte de bem servir o povo. É arte de bem servir o interesse público. Em democracia, a política é uma ocupação social nobre para não ser  abraçada nem sonhada por aventureiros, oportunistas, preguiçosos e vira-latas, movidos pelo instinto de comer.
Ao instigar e alimentar deserções, a Renamo tinha a intenção de, politicamente, aniquilar o MDM. Desestabilizou, de forma grave, o MDM, ao invés de ser seu parceiro estratégico. Este é um facto inegável que foi mais visível nas autarquias de Maputo, Quelimane e Tete que deixou o MDM em pijamas de Adão. As conversas que vinham decorrendo entre o falecido líder da Renamo e o presidente do MDM, não passavam de um entretenimento porque quadros do MDM eram, às escondidas, chamados à Gorongosa a fim de se conferenciarem com Afonso Dhlakama, num alpinismo político inqualificável. 
Agora, à luz da lei, os aliciados estão a cair, um a um, como papaias a caminho de apodrecimento, e isso poderia ter sido evitado porque aconselhamentos adequados nunca faltaram, porém, os visados fizeram ouvidos moucos. Uma outra consequência que ressalta à visa é o desprezo por quadros da Renamo preteridos para dar lugar a  “vientes”. Falamos com quadros da Renamo que negaram a existência de um potencial descontentamento, mas, compreende-se que se trata para não se exporem. Em surdina, dizem tudo e a bom som que foram passados para trás. A Renamo tem quadros competentes e nada justifica a importação de “vientes” para cabeças-de-listas. 
É um tiro para o pé da Renamo preterir seus quadros que se mantiveram fieis à causa para apostar em políticos turistas que, hoje, estão aqui e, amanhã, podem voar para outros quadrantes.. É um insulto aos quadros da Renamo que foram passados para trás depois de tantos anos de espera e sujeitos a mil perigos, incluindo a morte.
As guerrinhas entre a Renamo e o MDM foram provocadas pela Renamo que, ao invés de aproveitar a sua força para organizar a oposição em frente única eleitoral, se limitou a golpes com vista a exterminar o MDM, transmitindo o sinal de que a Renamo não está interessada no poder. Quem está interessado no poder não dispersa nem insulta os seus  potenciais parceiros de luta, muito pelo contrário, acarinha-os para que continuem em seu redor. No dia de 10 de Outubro próximo, vai ficar provado quem ficará a ganhar com a distração da oposição. 
Nós não temos dúvidas de que a Frelimo vai esmagar a oposição, num só golpe de mestre e isso não pela esperteza do partido no poder pela casmurrice da Renamo que se comporta como um eterno aprendiz de política. Enquanto a oposição não perceber que a união faz a força e a Frelimo só poderá ser removida quando houver a união de todos, as eleições continuarão sendo apenas um divertimento de adultos a fim de se apresentarem à comunidade internacional como democratas que seguem, à risca, as regras de um Estado de Direito e, de cinco em cinco anos, também, joga à democracia. 
Com oposição a digladiar-se, desunida, zangada, as eleições não servem para mudar a situação. As eleições serão, isso sim, uma simples pincelada ao sistema corrupto, de vigaristas e caloteiros. A oposição, no nosso país, não serve para alterar o status quo, mas para abençoar e conferir créditos a um regime que sobrevive à base da corrupção, fraudes e trafulhices proporcionadas pelos seus agentes posicionados nos órgãos eleitorais e forças policiais. 
A oposição é culpada pelo caos por que o país passa. Tem tudo ao seu dispor mas nada faz para remover a Frelimo. A oposição mutila-se para não ganhar eleição. Tem medo de ganhar uma eleição. Uma oposição de brincadeiras tem medo de ser governo, joga-se ao chão para não vencer nenhuma eleição. A Renamo que forçou a nova Lei Eleitoral e o modelo de 1994 de uma CNE partidarizada, nunca havia imaginado que o feitiço viraria contra si. Agora aguenta que não vale a pena chorar!
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 05.09.2018

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