Sociedade
03 de Setembro de 2018
Francisco Paulo
Com a administração de tangas, o ministério da Agricultura tarda a honrar o compromisso com os funcionários desta empresa pública especializada em engenharia agrícola, em greve desde Janeiro
Este país começa a ficar impróprio para cardíacos, com as greves e ameaças de greve que vão por aí. E há situações de bradar aos céus, como é o da Empresa Nacional de Pontes, cujos trabalhadores têm 55 meses de salários atrasados, sendo até caso para perguntar como eles se aguentam. Um dia desses os angolanos ainda acordarão e deparar-se-ão com o país literalmente parado.
Para não variar, eis que surge-nos agora o caso da Empresa Nacional de Mecanização Agrícola (Mecanagro), com a actividade laboral paralisada já desde Janeiro. De acordo com informação do sindicato respectivo, a administração da empresa e o Ministério da Agricultura e Florestas “esquivam-se” a pagar os 14 meses de salários em débito – ou seja, mais de um ano inteirinho sem vencimentos.
Para a tutela, a saída mais à mão passa pela extinção da empresa, o que chegou a ser anunciado, em Maio passado, em Malanje, pelo ministro da Agricultura e Florestas, Marcos Alexandre Nhunga, que considerou “inviável” a continuidade da mesma, após avaliação que o seu pelouro efectuou a algumas empresas ligadas ao sector agrícola em situação deficitária.
Porém, na ocasião, Marcos Nhunga garantiu que o pagamento dos salários na Mecanagro, em atraso há mais de um ano, seria honrado, coisa que está no entanto longe de se efectivar. Ricardo Kiala, sindicalista que integra uma equipa que está em negociações com a entidade de tutela, diz que na verdade Marcos Alexandre Nhunga tem-se mostrado arredio a um verdadeiro diálogo com os trabalhadores.
“Numa reunião promovida pelo presidente do conselho de administração da empresa, na presença do ministro, fomos informados de que a Mecanagro não tem capacidade financeira para arcar com os salários em atraso, mas que o ministério pagaria com recursos ao OGE 2018. Mas, por incrível que pareça, até ao momento nada se avançou”, notou o sindicalista.
Relativamente a uma eventual suspensão da greve, o sindicalista avançou, efectivamente, que numa manifestação de boa-vontade há disposição da parte dos trabalhadores para levantarem a paralisação que se verifica nas actividades da empresa ainda na semana em curso, mesmo com a situação salarial por resolver.
“Pretendemos levantar a greve para o ‘patrão’ não encontrar pretexto para despedimentos dos nossos colegas, porque nos últimos dias são visíveis comportamentos estranhos dos responsáveis da empresas, que chegam a questionar-nos das razões que nos levam ao gabinete do ministro”, refere Ricardo Kiala.
Indagada pelo Correio Angolense, uma fonte do conselho de administração da Mecanagro confirmou a existência de um atraso salarial de mais 10 meses, mas remete a responsabilidade ao Ministério da Agricultura e Florestas por ser a entidade responsável do sector. Adianta que a empresa e a tutela estão engajadas na procura de soluções para o problema, apesar da débil situação financeira da Mecanagro condicionar o seu normal funcionamento.
Voltada para a prestação de serviços mecanizados de preparação de terras, lavoura, abertura de estradas terciárias e obras de engenharia rural, a Empresa Nacional de Mecanização Agrícola (Mecanagro) foi criada pelo Governo angolano em Janeiro de 2001.
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