sábado, 15 de setembro de 2018

Artigo surgido na Revista sul-africana 'Panorama', n.º 60

CONHEÇAM MAIS PODRES DA FRELIMO.
ATRAVES DE ADRIANO FRANCISCO ""BOMBA"
Artigo surgido na Revista sul-africana 'Panorama', n.º 60
"O piloto moçambicano Adriano Francisco Bomba denuncia a mentira da propaganda estrangeira contra a Africa do Sul"
Em 8 de Julho de 1981, o tenente Adriano Francisco Bomba, piloto da Força Aérea de Moçambique, a bordo de um aviãoMIG-17, penetrou no espaço aéreo da República da Africa do Sul, onde solicitou autorização de residência. Num dos dias seguintes, o tenente Bomba deu uma conferência de imprensa na base da Força Aérea Sul-Africana de Hoedspruit, a fim de explicar as razões da sua atitude. O que se segue é a gravação integral das respostas dadas pelo tenente Adriano Bomba às perguntas dos jornalistas, em número superior a uma centena, representando os principais órgãos de informação do mundo ocidental. Os subtítulos são da Redacção da Panorama.

Este é o moçambicano tenente Adriano Francisco Bomba, fotografado a bordo do M1G-17 com que saiu de Moçambique e aterrou na Africa do Sul, no aeródromo de Hoedspruit, em 8 de Julho de 1981. As declarações feitas pelo tenente Bomba aos numerosos jornalistas presentes na conferência de imprensa revestem-se da maior importância
Pergunta:
Quais as razões que o levaram a subtrair-se ao poder do Presidente Samora Machel?
Resposta:
Em Moçambique, até ao ano de 1974, havia muito desenvolvimento. A partir de 74, com o governo de transição até 75, quando o governo da Frelimo tomou o poder e recebeu a independência nacional, a situação em Moçambique era emocional e, embora ainda não se visse nada de concreto, as pessoas continuavam à espera, ainda tinham esperança. De 75 a 77, vimos as coisas em Moçambique só a piorar. Nesse tempo, eu ainda estava a estudar no liceu e, em. 1977, quando estava para começar o décimo ano, o Presidente de Moçambique fez uma reunião com estudantes, no dia 8 de Março. Nessa altura informou os estudantes de que em Moçambique iam acabar o décimo e o décimo primeiro ano do liceu. Os estudantes que estavam a frequentar esses anos seriam incorporados no exército e noutros sectores de actividade social e económica de Moçambique. Ora isto afectava-me, como a muitos outros estudantes, pois tínhamos os nossos objectivos, queríamos tirar os nossos cursos. Então pusemos a questão: somos ou não livres de escolher o nosso destino? A esta pergunta jamais quiseram dar resposta, mas os factos falam por si, os factos mostraram que só podemos escolher o nosso destino, se a nossa escolha for a mesma que a Frelimo fez por nós. Ora, sabemos que em política tudo o que é contra a vontade do indivíduo chama-se pressão, ao passo que a vontade desse indivíduo é organização.
Após o regresso da União Soviética, onde tirei um curso de aviação, continuei a minha vida em Moçambique, a ver se alguma coisa melhorava. Mas vi as coisas piorarem de tal maneira, que decidi: já estou farto de Moçambique. Dói-me muito ver o povo moçambicano - que durante o tempo colonial soube escolher aquilo que queria, em certa medida, claro - submetido à ditadura do governo da Frelimo. Hoje em dia, o povo moçambicano não tem alimentação boa, não encontra géneros alimentares no mercado, o que o povo moçambicano come são os discursos do
Presidente, mais nada...
Contudo, os políticos estão a todo o momento a dizer que o que fazem em Moçambique é a satisfação do desejo do povo. Tentam sempre confundir os seus próprios desejos com os desejos e as aspirações do povo. O que joga a favor deles para continuarem essa acção é o facto de o povo moçambicano, como é característico em todos os países sob dominação comunista, ficar apático. O povo não diz aquilo que pensa.
Toda esta situação me levou a pensar que eu podia ser útil a Moçambique a partir de fora, porque lá dentro eu estava de mãos amarradas, como todos os outros moçambicanos, que querem. ser livres. Esta situação que se vive em Moçambique é que me. fez decidir vir para a África do Sul.
Bomba - Vim para a África do Sul a fim de poder ser útil a um povo de mãos amarradas, que não tem que comer
Pergunta:
O facto de ter trazido consigo um avião MIG.I7 acaso representa um acto de guerra particular contra o sistema Presidente Machel, em Moçambique?
Resposta:
Utilizei o avião como simples meio de transporte, mais nada. Um meio de transporte mais eficaz. Sei que aquele avião não pode ser utilizado contra a Frelimo. Porquê? Porque sei que não sou o primeiro piloto que foge de um país num avião de guerra. Sei que depois disto tudo o avião irá de volta. Isto já aconteceu com um piloto soviético que saiu da URSS num MIG-25, aterrou no Japão e depois seguiu para os Estados Unidos. Depois de ter sido estudado e todo desmontado, o MIG-25 foi reenviado para a União Soviética.
Pergunta:
Em declaração anterior, disse que se sentia mais útil a Moçambique fora do país, do que na situação em que ali se encontrava. Quer ser mais explícito sobre este aspecto?
Resposta:
Em Moçambique, quando estava a estudar, eu tinha em mente tirar um curso, o meu curso. A importância que vejo nele não é unicamente nacional, resulta da importância que esse curso ocupa no campo científico, e a ciência para mim não tem nacionalidade. Aquilo que eu pudesse fazer no campo da ciência poderia beneficiar Moçambique, pelo menos a longo prazo. O facto de não ter podido segui-lo demonstra que as pessoas em Moçambique não se desenvolvem. Porquê? Porque não têm o direito de optar. Quando um indivíduo opta, é muito mais dedicado à sua causa.
Pergunta:
Teria a sua deserção surpreendido os seus camaradas de armas de Moçambique?
Resposta:
Penso que os meus colegas, principalmente os da Força Aérea, não se admiraram daquilo que eu fiz, porque os nossos ideais convergem. Mas tomar a decisão que tomei é coisa que tem muito mais importância e é muito mais difícil. Este meu acto vai despertar muita gente; tenho consciência de que muitas mentalidades adormecidas vão despertar por causa deste meu acto.
Bomba - Os meus colegas da Forca Aérea não se admiraram do que fiz, porque os nossos ideais convergem
Pergunta:
Com um acto de ousadia quase agressiva, modificou subitamente o curso de seu destino. Como antevê o desenrolar desse destino?
Resposta:
Os meus planos são aumentar os meus conhecimentos na África do Sul.
Pergunta:
Conhecido o carácter fortemente repressivo dos governos comunistas, não receia que a sua família em Moçambique esteja agora em perigo?
Resposta:
Não penso que a minha família esteja em perigo. Porquê? Porque as autoridades moçambicanas não têm um argumento concreto. O que fiz foi uma decisão que tomei sozinho, que não partilhei com ninguém.
Pergunta:
Entretanto foi divulgado que o seu irmão, Boaventura Bomba, teria dado o mesmo passo e teria pedido também residência permanente na África do Sul, onde entrou pela fronteira da Suazilândia. Qual é o seu comentário a este facto?
Resposta: Isso é muito natural. Porquê? Porque quando eu vim para a África do Sul, o meu irmão não se encontrava em Moçambique. Logo que ele chegou e se avistou comigo, disse-me que tinha sabido da minha saída de Moçambique quando se encontrava na Suazilândia.
Pergunta:
Segundo consta, a dispositivo militar em Moçambique conta com o apoio de um número substancial de conselheiros militares vindos de países da «cortina de ferro». Que se lhe oferece dizer a este respeito?
Resposta:
Os militares estrangeiros em Moçambique têm o papel de conselheiros, treinam os moçambicanos.
Pergunta:
Como é do conhecimento geral a República da África do Sul é alvo de propaganda muitas vezes falaciosa e muitíssimo agressiva acerca do sistema interno do país. Sendo negro, pede asilo político à África do Sul. Porquê?
Resposta:
Eu não vim para a África do Sul para me envolver nas suas actividades internas. Não estou para me intrometer nos assuntos internos da África do Sul.
Pergunta:
Moçambique, terá realmente intenções agressivas contra a África do Sul?
Resposta:
Quando um militar se treina, sempre tem um inimigo provável com quem se deve comparar. Portanto, o inimigo provável que se apresenta na preparação de qualquer militar moçambicano é a República da África do Sul.
Bomba - O inimigo provável apresentado a um militar moçambicano é a República da África do Sul
Pergunta:
Tendo recebido treino militar na União Soviética durante dois anos e nove meses, como reagiu a essa primeira experiência para lá da «cortina de ferro» propriamente dita?
Resposta:
Por causa da propaganda que me era incutida em Moçambique, eu esperava, ao sair do avião que me transportou para a União Soviética, ver-me num mar-de-rosas. Quando lá cheguei, a primeira desilusão foi mesmo a própria paisagem, mas isso é uma coisa da natureza, de que eles não têm culpa... Depois comecei a ver como os soviéticos se relacionam connosco. Aquele paternalismo de quem está a lidar com um inferior era patente. Isto porque eles nos consideram inferiores. Depois pude ler algumas coisas que a própria propaganda soviética não deixa circular no país, enfim tive acesso a esses documentos e comecei a conhecer a fundo a vida na União Soviética, as perseguições políticas de que são vítimas os intelectuais que não alinham pela política do Partido Comunista da União Soviética. Ora, a perseguição que é movida a esses intelectuais ou a qualquer outra pessoa que não alinhe pela política do partido é a mesma perseguição que é movida aos moçambicanos pela polícia política moçambicana.
É de salientar uma coisa que é importante para a União Soviética, de um ponto de vista estratégico: nunca falta a característica «lavagem ao cérebro», a fim de que, ao voltar da União Soviética, cada um seja um pró-soviético nato. A verdade, porém, é que a vida social não favorecia, antes contrariava essa preparação ideológica. Por isso, eu regressei da União Soviética praticamente o mesmo, só que tinha mais conhecimentos.
Bomba - Conheci a vida na União Soviética e as perseguições políticas a quem não alinha no partido único, tal como acontece em Moçambique

o MiG-17 levado por Adriano Bomba é posteriormente exibido num voo de demonstração, vendo-se aqui a passar junto ao monumento Voortrekkerhoogte nos arredores de Pretória
Bomba - As relações entre pretos e brancos que tenho visto na África do Sul provam a mentira do que se diz lá fora
Pergunta:
Não receia as atitudes raciais que provavelmente terá de enfrentar na Africa do Sul?
Resposta:
Quando vim para a África do Sul não sabia como é que se vivia aqui. O que sabia da África do Sul era aquilo que a propaganda anti-sul-africana dizia. Até fiquei admirado, depois de chegar à África do Sul, quando saí e vi a maneira como convivem os pretos e os brancos. A realidade entrava em choque com aquilo que a propaganda lá fora diz. É claro que eu não sei tudo acerca das relações sociais entre pretos e brancos aqui na África do Sul, porque pouco ainda vi. Mas o que já vi é a demonstração de que é mentira o que dizem lá fora.
Pergunta:
Declarou várias vezes ser um moçambicano que ama a sua terra e o seu povo. Vê no futuro uma oportunidade de regressar ao seu país?
Resposta:
Se outro dirigente tomasse conta do poder, eu voltaria. Mas mantendo-se o governo da Frelimo, já não está nas suas mãos decidir da orientação da política em Moçambique. Porquê? Porque eles são marionetas nas mãos do comunismo internacional, nas mãos da União Soviética. Esta minha saída de Moçambique fala por si. Se eu saí de Moçambique é porque sei o que o governo da Frelimo não pode fazer.
Pergunta:
Considera-se um exilado político na Africa do Sul?
Resposta:
Eu pedi residência permanente na África do Sul.
Pergunta:
Tendo chegado à Africa do Sul em circunstâncias invulgares, para dizer o mínimo, como está a ser tratado pelos que o acolheram no país?
Resposta:
Sou tratado mesmo muito bem. Nos tempos livres, vejo televisão e ouço música. Os oficiais da Força Aérea Sul-Africana tratam-me como um oficial. Ainda ontem estive a conversar com os meus colegas de especialidade, os pilotos da Força Aérea Sul-Africana, aqui no clube. Tem sido um contacto reconfortante para mim, não me sinto um estranho.
Pergunta:
Faz parte de uma elite de homens bastante reduzida, é um piloto de caça-bombardeiro. Com a decisão de vir para a África do Sul nestas circunstâncias, não se ressentirá do facto de não voltar a pilotar o seu MIG-17?
Resposta:
Eu gosto da minha especialidade. Todo o piloto de caça-bombardeiro adora a sua especialidade. É algo que entra no sangue. Gostaria de continuar a voar na qualidade de piloto de caça-bombardeiro. Mas isso na perspectiva de voltar para Moçambique, estando lá outro governo.
Bomba - Os governantes de Moçambique são marionetas nas mãos dos dirigentes soviéticos
Pergunta:
Teve medo quando viu um Mirage ao pé do seu MIG-17?
Resposta:
Eu tinha visto o Mirage somente em fotografias e sabia que não era nenhum bicho do outro mundo. Quando vi os Mirages perto de mim, fiquei mais tranquilo, porque um Mirage perto de um MIG-17 é muito menos perigoso que um Mirage longe de um MIG-17.
Pergunta:
Tendo entrado na Africa do Sul pela fronteira do Leste e sido interceptado poucos minutos depois, como encara a situação de estado de alerta da Força Aérea Sul-Africana?
Resposta:
A única coisa que posso dizer é com referência à intercepção que foi feita pelos pilotos sul-africanos ao meu avião. Mas não posso concluir daí a capacidade de acção de um regimento, por exemplo, muito menos de toda a Força Aérea Sul-africana. Sou uma pessoa, vinha num avião, atravessei a fronteira num ponto. Só o caso de a fronteira ser atravessada em diversos pontos me permitiria avaliar, no total, a capacidade de reacção da Força Aérea Sul-africana.
Pergunta:
A sua saída de Moçambique, nas circunstâncias conhecidas, foi certamente um teste à sua capacidade de imaginação...
Resposta:
Eu preparei o voo. Quando vão voar, os pilotos têm de fazer um desenho da rota que vão seguir. Eu não ia, com certeza, desenhar uma rota com descolagem em Maputo e aterragem em Hoedspruít .. Isso era o suficiente para... O voo que desenhei era a rota normal para atingir o alvo a determinada hora e depois retomar a Maputo. Mas, claro, dentro do avião fiz outra rota, para sair, passar pelos pontos de mudança de rota e fazer, portanto, a aterragem em Hoedspruít. Mas tudo isso foi só dentro da minha cabeça.
Pergunta:
Tendo a sua mãe nascido na Africa do Sul, será que a influência materna terá determinado a decisão do filho, muitos anos mais tarde?
Resposta:
A minha mãe nasceu na África do Sul, mas saiu daqui há vinte e cinco anos; por isso ela não tinha qualquer informação actualizada acerca da África do Sul.
Bomba com humor - Mirage não é bicho do outro mundo e é menos perigoso perto que longe
Pergunta:
Encontrando-se na República da Africa do Sul há cerca de dez dias, será tempo suficiente para poder avaliar se terá tomado uma decisão correcta?
Resposta:
Que tomei a decisão correcta, isso eu concluí ainda em Moçambique. Por tal razão vim para aqui. Agora não tenho dúvidas nenhumas.
Pergunta:
O que pode explicitar acerca da situação de paranóia que se vive agora em Moçambique no que respeita a atitudes defensivas?
Resposta:
As instruções são para cavar abrigos, preparar uma fuga organizada, dar apoio às forças armadas moçambicanas no contra-ataque. Para justificar isso, utilizou-se como pretexto aquela incursão dos comandos sul-africanos à Matola. Com base nisso fazem, portanto, essa preparação toda. Simulações não têm feito, pelo menos de que eu tenha notícias, não vi. Não vi nenhum caso de simulação de um ataque aéreo. Mas sei que se preparam, porque vi algumas coisas, actividades. Mas isso não é assim, num sentido global, em todo o Maputo.
Pergunta:
Como encara o povo moçambicano essa intensa actividade de cavar abrigos e preparar para ataques, na sua maioria hipotéticos?
Resposta:
Os moçambicanos estão fartos das saídas da Frelimo, já estão fartos do que a Frelimo diz, porque já viram que ela não merece crédito. A Frelimo fala e não faz, promete e não dá. Contudo, porque todo o regime tem os seus agentes, há alguns elementos, mesmo da população, para espalhar a propaganda da Frelimo. Esses elementos tentam que as pessoas não vejam os factos. Mas eles já não têm campo, porque a Frelimo já se desacreditou em Moçambique.
Bomba - Moçambicanos estão fartos do governo da Frelimo, que fala e não faz, que promete e não dá
-In panorama(South African news)1981
Comentários
Jabento Quetxoaio Wau ..... estou surpreso. 
O Adriano Bomba só sei de que ele era um dos melhores pilotos e confiado do Samora Machel e não pensei que tivesse mais intelectualidade para puder mudar a vida dos moçambicanos. 
Concluindo : o partido dia sempre foi um partido que não coadulava com intelectuais com um pensamento oposto dos mesmos .
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21 h
Hondo Unguare Pirikito A frelimo foi um partido cruel k nao serviu para ser acreditado pelo povo muito menos pelos lutadores ate dia de hoje. Renamo força para libertar o povo.
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15 h
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19 h

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