Sempre a meter água
Canal de Opinião por Edwin Hounnou
Tal como foi, em Roma, no tempo de Joaquim Chissano, quando do Acordo Geral da Paz, a Renamo não deixou vincada a integração dos seus militares nas Forças de Defesa e Segurança, quer dizer, nas Forças Armadas de Moçambique, FADM, na Polícia da República de Moçambique, PRM, e no Serviço de Informação e não custou nada para a Frelimo que não só expulsou os militares da Renamo incorporados nas FADM, com o falso pretexto de passagem à reforma, como também não permitiu que um só militar da Renamo integrasse a PRM e SISE.
Tal como foi, em Roma, no tempo de Joaquim Chissano, quando do Acordo Geral da Paz, a Renamo não deixou vincada a integração dos seus militares nas Forças de Defesa e Segurança, quer dizer, nas Forças Armadas de Moçambique, FADM, na Polícia da República de Moçambique, PRM, e no Serviço de Informação e não custou nada para a Frelimo que não só expulsou os militares da Renamo incorporados nas FADM, com o falso pretexto de passagem à reforma, como também não permitiu que um só militar da Renamo integrasse a PRM e SISE.
Esses episódios não foram por acaso, obedeceram a um plano definido, a fim de driblar a Renamo e o tem conseguido com sucesso. A Renamo deveria ter tirado a devida e competente lição sobre a postura política de má-fé da sua contraparte. O mesmo aconteceu com o acordo de Cessação das Hostilidades Militares, assinado no pontificado de Armando Guebuza, algo que nenhum partido que aspira chegar ao poder deveria aceitar, por ser nulo e ultrajante, tanto assim que nem uma única vírgula desse entendimento foi levado em conta pelo Governo. Algo igual está a voltar a acontecer neste momento. Filipe Nyusi convenceu ao coordenador interino da Renamo de que a Frelimo não quer ver os militares da Renamo no SISE. A Renamo parece ter respondido com “Amen”, para os cristãos, e “Siavuma”, para os falantes das línguas bantu, conformando-se, assim, com os desígnios dos tipos da Frelimo.
O modus faciendi da Renamo – a maneira como faz as coisas – continua a ser o mesmo, facilitando a sua contraparte, para não ter que chamar por outros menos elegantes, faz exigências lógicas mas depois desacelera tudo. A Renamo corre e corre cada vez mais veloz, parecendo que vai cortar a meta e atira-se ao chão, finge desmaiar, deixando todo o público boquiaberto. Qualquer acordo firmado entre a Frelimo e Renamo, que não inclua a reestruturação do STAE e SISE, de nada vale porque deixa de fora e ilesos os perturbadores da paz. É um segredo aberto que o STAE é o promotor das fraudes eleitorais que atribuem sempre vitórias esmagadoras, retumbantes e convincentes ao “glorioso” partido Frelimo e ao seu “imbatível” candidato. Esquecer-se desse importante factor é o mesmo que caminhar certo para o cadafalso.
Somente a falta de vontade de vencer uma eleição pode obrigar a tal maneira de agir. No presente momento do país, recusar fazer parte do SISE é hipotecar a democracia e paz. Aceitar a proposta ou pedido para se ter mais paciência, para não integrar o SISE, é um absurdo que se pagar com sangue de inocentes. É dar carta-branca para que o povo continue a ser degolado por bandidos e assassinos a soldo do regime corrupto da Frelimo.
Em democracia, os serviços secretos servem ao Estado que reflecte os interesses todos, porém o SISE é mais um instrumento de repressão que defende a Frelimo e a ele se recorre sempre que estiver em apuros. Integrar o SISE seria uma garantia de que os opositores políticos do regime da Frelimo e outros com eles confundidos já não seriam mais raptados e assassinados. Fazer parte do SISE seria o fim dos esquadrões da morte. Teríamos a certeza de que ninguém corre mais o risco de ser morto ao sair de um café, durante a ginástica matinal, ao descer de uma aeronave, numa perigosa emboscada ou arrastado do seio da família, aos pontapés e morto em lugar desconhecido. Ao não integrar o SISE significa que esses cenários continuam activos.
A morte traiçoeira está sempre à espreita. O perigo de ser raptado, quebrados os membros superiores e inferiores e depois jogado numa ravina na Estrada Circular de Maputo está à espera de quem fala demais, como eles nos designam. Se não quer ser aniquilado por bandidos, há dois caminhos a seguir: 1. Integra o bando dos criminosos, para não por ele ser atacado ; ou 2. Desbaratar e acabar com bando. Outro caminho como “vamos esperar ou tenhamos paciência” não existe. Ficar na esplanada confiante que nada mais de mal lhe vai acontecer é dormir sob a sombra da bananeira. Poderá ser surpreendido e trucidado. A surpresa significa que não lemos, com atenção, todos os cenários e isso vai perpetuar a instabilidade e guerra. É interessante procurar saber os reais motivos da recusa da Frelimo da reestruturação do STAE, acoplando-o à CNE, Comissão Nacional de Eleições. A Frelimo é relutante em manter o STAE integrado no Governo por saber que só desse modo pode controlá-lo e dar-lhe ordens.
Se estiver sob as ordens da CNE a “chance” de manipulá-lo fica reduzida. O SISE planifica quem deve seguir hoje, amanhã ou depois e os esquadrões executam, por isso, a relutância da Frelimo para não fazer mistura. Ceder a essa chantagem é péssimo para a democracia. O segredo da invencibilidade da Frelimo reside no SISE e STAE. A Frelimo compara-se à estória bíblica de Sansão cuja força residia nos seus compridos cabelos. Em sono, a sua namorada, Dalila lhe cortou os cabelos, e Sansão virou um homem como qualquer outro, sem a sua extraordinária força. Assim, de igual modo a Frelimo poderá ficar como um partido qualquer, se lhe cortarem também os seus cabelos que são o STAE e SISE.
Assim, a Frelimo resiste em abrir os cordões dos órgãos que a mantém no poder e a tornam aparentemente invencível!
CANALMOZ 30.08.2018
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