quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Foi detido “o avô” do narcotráfico galego. Manuel Charlín Gama tem 85 anos


Manuel Charlín Gama, conhecido como "o avô" do narcotráfico na Galiza, foi detido aos 85 anos. Esteve preso durante duas décadas e saiu em 2010 para voltar a liderar o clã familiar, Los Charlines.
Manuel Charlín Gama tem 85 anos e esteve duas décadas na prisão
Autor
  • Mariana Fernandes
Pode ser o fim de uma dinastia do tráfico de droga na Galiza. Manuel Charlín Gama, o mais antigo barão da droga galego conhecido como “o avô” do narcotráfico naquela região, foi detido esta quarta-feira em conjunto com um dos filhos numa mega operação da Brigada Central de Estupefacientes da polícia espanhola. Charlín, de 85 anos, e Melchor, de 57, eram os dois principais objetivos da missão.
A operação estava relacionada com um carregamento de cocaína de pelo menos duas toneladas e meia que não chegou a desembarcar em Espanha: o barco de transporte, que tinha içada uma bandeira do Panamá, foi capturado pela polícia a 400 milhas dos Açores. De acordo com o El País, para além de Charlín e Melchor foram detidas outras 20 pessoas, incluindo Jacinto Santos Viñas e Jose Andrés Bóveda Ozores, outros dois conhecidos traficantes de droga.
Esta é a quinta detenção de Manuel Charlín Gama, que foi preso pela primeira vez em junho de 1990. Nessa altura, no âmbito da Operação Nécora, o barão da droga foi condenado a 24 anos de prisão. Cumpriu 20. Saiu em 2010 e ficou em liberdade condicional.
Manuel Charlín Gama no momento em que saiu da prisão, em 2010.
Manuel Charlín foi durante décadas o líder do clã familiar que surgiu na Galiza no anos 70 e que resistiu a 20 anos de prisão do cabecilha para depois voltar a tomar o controlo do narcotráfico na região. A larga atividade de Charlín nos negócios ilegais começou em conjunto com o irmão, José Luis, e juntos elevaram o grupo até ao mais alto nível do crime organizado e do tráfico de cocaína e haxixe. Ainda assim, a grande parte da fortuna da família tem origem no contrabando de tabaco e na venda de pequenas doses de heroína.
O clã Charlín – conhecido como Los Charlines – foi o precursor de todos os outros grupos organizados de tráfico de droga na Galiza. Tinham os melhores contactos na Colômbia e em Marrocos, não precisavam de intermediários e sua frota de barcos foi a primeira a operar no Oceano Atlântico. Seria a prisão a separar os dois irmãos: José Luis foi preso em Portugal no âmbito da investigação que viria a colocar Manuel atrás das grades durante duas décadas.
Charlín foi denunciado por um dos membros da organização, responsável pelo transporte dos estupefacientes. A confissão saiu-lhe cara: Manuel Baúlo foi assassinado em 1994 na casa que tinha em Pontevedra por dois colombianos. Ainda que nunca tenha ficado provado que o líder do clã Charlín foi o autor moral do homicídio, as declarações de Baúlo chegaram para o condenar pelo tráfico de 600 quilos de cocaína.
Desde que saiu da prisão, em 2010, Charlín juntou-se aos seis filhos e a alguns dos netos para recuperar o património que perdeu. Só conseguiu salvar uma parte das empresas que foram apreendidas pelo Estado ao licitar em leilões e muitas dessas operações estão ainda dependentes de decisões judiciais, já que as investigações a Charlín descobriram 15 milhões de euros em contas offshore na Suíça. Este revés financeiro terá, com toda a certeza, motivado a continuação do negócio do tráfico de droga.
Este é o terceiro barão da droga da Galiza a ser detido desde 2015. Em janeiro desse ano, Rafael Bugallo, conhecido como Mulo, foi apanhado em flagrante a transportar uma tonelada de cocaína; em fevereiro deste ano, a polícia espanhola deteve José Ramón Prado, Sito Miñanco, devido ao seu envolvimento em dois carregamentos de cocaína que somavam mais de quatro toneladas e tinham sido desembarcados no final de 2017.
A detenção de Charlín, Bugallo e Prado prova uma teoria que a polícia espanhola tem explorado nos últimos anos: o tráfico de droga na Galiza voltou a ser feito da forma como começou, nos anos 70. O clã Charlín – assim como todos os que seguiram o exemplo – não tinha intermediários e comprava os estupefacientes diretamente ao fornecedor, na América do Sul, transportando depois para Espanha nas próprias embarcações. “Um regresso que os coroou novamente como o número um do transporte marítimo de cocaína”, garantiu uma fonte policial ao El País.

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