Canal de Opinião por Adelino Timóteo
O rapto e a agressão ao jornalista e jurista Ericino de Salema (carinhosamente tratado por Ga Famba Gona), ocorridos na semana transacta, espelham o lado mais triste
e sombrio em que se encontra a liberdade de expressão e imprensa, em Moçambique. Causou em mim um arrepio e indignação, por representar uma escalada a mais um passo do inferno, em que nos encontramos como país, no capítulo dos direitos humanos e no respeito aos valores da cidadania. Primeiro, sendo Ericino de Salema um jornalista e comentador de televisão dotado de uma postura ética e deontológica livre de compromissos de esquerda e direita, segundo por se preocupar de forma desapaixona da com a revelação de factos em que trabalha, com um certo nível de pesquisa, que no lugar de tender a espalhar confusão, visa formar as diferentes sensibilidades.
Ora, o nexo de casualidade do sequestro e agressão física de que ele foi alvo é exactamente o facto de ele ter falado da postura social nada exemplar do filho do presidente da República. Todos nós sabemos que Salema foi sequestrado por ter falado aquilo que o “establishment” não gosta de ouvir. Porém, vindo de onde veio a agressão é preciso dizer, aqui e agora, que está-se perante o recrudescer das ameaças à liberdade de expressão.
Devo dizer que neste crime, neste terror de Estado, há as impressões digitais do SISE, da Polícia da República, de organismos das forças de defesa de segurança.
E claro, tratou-se de uma acção concertada com o comandante a mais alto nível desse aparato militar e repressivo do Estado, porque não vi da parte dele nenhum acto de solidariedade com a vítima.
Pelo menos, até prova em contrário, o “enfant terrible” do presidente tem a sua impressão digital neste acto hediondo contra uma das vozes mais livres, descomprometidas e honestas deste país.
A maneira em que a acção ocorreu dá para perceber que é o mesmo modus operandi dos esquadrões da morte. E todos nós sabemos quem é que dirige e manipula os esquadrões da morte.
Pelo menos, deste que o Estado constitui essa força de extrema esquerda afirmei aqui nesta coluna do recurso que o Estado tem feito a forças de defesa, para amedrontar, repreender, assassinar, os pensadores/intelectuais mais ilustres e mais lúcidos deste país.
É preciso que se digna aqui e agora, o presidente da República sabe muito bem quem são os cachorros de violência que agrediram o Ericino de Salema. O comandante geral da Polícia da República sabe muito bem quem são os cachorros que agrediram e raptaram o Ericino de Salema.
O chefe do SISE sabe muito bem quem são os que agrediram Ericino de Salema. Eu sei, por experiência, que se trata de mais um crime de Estado que jamais será esclarecido. Eu sei, por experiência, que há nisto um rasto, um rosto, porque os que maltrataram o meu (melhor diria “nosso”) colega de profissão são os mesmos que o fizeram ao Juiz Nkutumula e à esposa, são os mesmos que o fizeram ao Siba-siba Macuácua, são os mesmos que fizeram ao também nosso colega Paulo Machava.
São os mesmos que assassinaram o Gilles Cistac. São os mesmos que assassinaram diversos membros da oposição. São os mesmos tentaram por duas vezes assassinar o líder da Renamo.
Está tão claro como a água limpa.
E se vierem a me agredir, saibam os caros leitores, de antemão, que serão os mesmos. Não tenho dívidas.
Não sigo uma vida desregrada.
E se reincidirem por esses dias outros episódios sinistros, sem pistas, já lhes forneci as impressões digitais. Temos um Estado assassino que assassina os seus mais nobres filhos. Temos um Estado dirigido por uma teia criminosa que opera usando os recursos e meios do Estado, contra os seus mais abnegados e lúcidos cidadãos.
Numa palavra: temos um Estado terrorista, que com as suas forças de defesa e segurança, exerce o terror contra os seus pensadores.
Ga Famba Gona. (Adelino Timóteo)
CANALMOZ – 04.04.2018
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