Darryn Smart foi retirado à força da sua propriedade, mas, com a mudança de Governo e apoio da comunidade local, conseguiu reavê-la. O roubo de terras continua a acontecer no Zimbabué.
Há meio ano, Darryn Smart viveu uma realidade que os agricultores brancos no Zimbabué conhecem há mais de 20 anos: foi expulso ilegalmente e à força da sua propriedade no leste do país.
Smart teve, no entanto, muita sorte. Pouco depois da sua expulsão, o governante de longa data do Zimbabué, Robert Mugabe, foi removido do Governo após um golpe militar. O novo Governo, ao contrário do que se esperava, assegurou que Smart poderia voltar às suas terras. No entanto, ele teve que começar do zero novamente.
Em Shona, uma das línguas zimbabueanas, Darryn Smart brinca com os seus trabalhadores que regam um campo na sua propriedade, em Lesbury. "Amanhã quero plantar batatas aqui", ri.
Há alguns meses, o ambiente era muito diferente. Darryn Smart e sua família foram expulsos das suas terras por agentes da polícia corruptos e por criminosos. A razão: um sacerdote influente, próximo do ex-Presidente autoritário Robert Mugabe, queria os terrenos para si.
De um dia para o outro, Darryn Smart perdeu tudo. Teve que pedir hospedagem aos amigos e parentes. "Eles invadiram as nossas casas e as dos nossos trabalhadores. Saquearam tudo, atiraram as nossas coisas para a estrada. Usaram gás lacrimogéneo e dispararam nos arredores”, conta.
Desemprego e decadência
Mais de 300 trabalhadores agrícolas ficaram de repente sem trabalho. Crylife Mandizvidza foi um deles. "Nós sofremos! Não tínhamos dinheiro para a comida, não podíamos pagar a mensalidade escolar dos nossos filhos. Nas primeiras semanas tivemos de viver na mata ao relento”, conta.
Lesbury Farm, a propriedade na qual a família Smart cultivou tabaco e vegetais desde 1930, deteriorou-se rapidamente, pois os ocupantes não tinham interesse em dar continuidade à plantação. "Eles só queriam usar as casas e roubar tudo o que tínhamos aqui. Se eles quisessem cultivar a fazenda, poderiam tê-lo feito. Foi simplesmente um roubo”, explica.
Tudo o que de alguma forma podia ser transformado em dinheiro desapareceu: equipamentos agrícolas, ferramentas, materiais de construção, mobília. Até os brinquedos dos dois pequenos filhos de Darryn foram roubados.
A propriedade que um dia foi próspera tornou-se uma terra fantasma. Um destino que atingiu muitos milhares de agricultores brancos no Zimbábue nos últimos vinte anos.
Sorte a dobrar
Mas Darryn Smart foi duplamente sortudo: primeiro, os seus leais trabalhadores e toda a comunidade da aldeia fizeram campanha em seu nome e apelaram aos políticos locais. E, em novembro, os militares derrubaram o então governante, Robert Mugabe, e o novo Governo de Emmerson Mnangagwa assumiu o poder. "Eles obviamente ouviram falar sobre o que aconteceu aqui. E disseram: não, não queremos esse tipo de corrupção”, lembra Darryn Smart.
Numa reunião na capital, Harare, as autoridades deram autorização para que Darryn Smart retomasse a posse das terras. Foi um retorno triunfante: centenas de pessoas entusiasmadas receberam a família Smart. "Quando abrimos o portão, eles disseram em Shona: os ocupantes podem arrumar as suas coisas, o senhor Smart está de volta. Foi maravilhoso. Simplesmente maravilhoso”, conta Darryn Smart.
O programa de reforma agrária do Zimbabué começou em 2000. Milhares de agricultores foram despejados ou expulsos das suas terras. Mugabe, então líder do Governo, afirmou na altura que as reformas tinham como objetivo ajudar a população negra, empobrecida devido às leis coloniais britânicas.
Caso sul-africano
Na vizinha África do Sul, debate-se uma alteração da Constituição para expropriar terras sem compensação. A maior parte das terras continua nas mãos da minoria branca, duas décadas depois do fim do apartheid. A transferência de terras é uma tentativa de erradicar de vez o sistema de segregação racial.
Entretanto, muitos temem a repetição do caos gerado pelo processo no Zimbabué. O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, já afirmou que quer evitar roubos de terras. O tema promete dominar o debate político até às eleições presidenciais sul-africanas, marcadas para 2019.
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- Data 27.03.2018
- Autoria Jan-Philippe Schlüter, Reuters, Agência Lusa, nm
- Assuntos relacionados Jacob Zuma, África do Sul, Zimbabué, Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), Manica, Parque Nacional Kruger, Congresso Nacional Africano (ANC), Apartheid, Robert Mugabe, Nkosazana Dlamini-Zuma
- Palavras-chave roubo de terras, expropriação de terras, Zimbabué, África do Sul
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