MDM e RENAMO dizem que o partido no poder está a obrigar funcionários do Estado a recensear-se em distritos nos quais não residem para votar. Comunidade islâmica pede vigilância no processo que termina a 17 de maio.
Uma semana depois do início do recenseamento eleitoral em Moçambique para as eleições autárquicas, que se realizam a 10 de outubro deste ano, o processo começa a ser alvo de críticas. Para além de civis e religiosos, os partidos políticos, nomeadamente, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), apontam o dedo à Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) neste processo. Os partidos da oposição duvidam da capacidade das pessoas contratadas para trabalhar com equipamentos informáticos, nomedamente no que toca ao processamento de dados. Criticam também os atrasos verificados na abertura dos postos de recenseamento.
Em entrevista à DW África, o delegado da RENAMO em Quelimane, Latifo Charifo, acusa a FRELIMO de estar a mobilizar cidadãos que residem noutros distritos para se irem recensear como cidadãos residentes na cidade com o intuito de, em outubro próximo, regressarem para votar como munícipes de Quelimane.
"Temos informações de que professores e outros funcionários de Nicoadala estão a recensear-se no bairro Gogone. Há secretários dos bairros e senhoras que estão a receber visitas que têm como intuito vir recensear-se a Quelimene para poderem votar no partido da maçaroca em outubro", afirma.
O mesmo se passa na província de Cabo Delgado, denunciou o mandatário nacional da RENAMO, André Majibire. Em conferência de imprensa realizada em Maputo, André Majibire disse que o partido tem conhecimento de casos de pessoas que saíram do distrito de Montepuez, na província de Cabo Delgado, norte do país, para se inscreverem em municípios da província de Nampula.
O mandatário nacional da RENAMO acusou ainda líderes comunitários afetos à FRELIMO de estarem a "arrancar" cartões de eleitores para colocarem nomes de cidadãos sem direito a voto na província de Tete, centro de Moçambique.
Técnicos sem formação
Também o delegado do MDM, Listano Evaristo, se mostra preocupado. Segundo este responsável, "nos postos de recenseamento a população está a ser impedida de se recensear para atender funcionários que saem dos distritos".
Listano Evaristo afirma ainda que "a maioria dos técnicos contratados para as mesas de recenseamento pelo Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE) são da FRELIMO, enquanto existem muitos jovens com formação na área de informática que não foram recrutados. Notamos realmente que esta é uma situação que não está bem".
Nas últimas semanas , tanto a RENAMO como o MDM, têm procurado a imprensa com o propósito de denunciar estas irregularidades, que segundo eles "visa dar a vitória à FRELIMO no pleito eleitoral de outubro próximo".
"Plano de mobilização"
A FRELIMO nega as acusações e afirma que está a mobilizar os funcionários para estes se irem recensear. Santos Emilio Gonçalves, porta-voz do comité da cidade de Quelimane da FRELIMO, diz "não ver razões para as acusações, porque cada partido tem a sua estratégia para a mobilização dos seus membros no que concerne à participação ativa em processos do género". Segundo este responsável, a FRELIMO está a "mobilizar os seus funcionários camaradas, mas não com a obrigação de se recensearem como funcionários". "Cada partido pode ter um plano de mobilização, não pode é assustar-se com o plano de outro partido.
Qualquer um tem a sua estratégia. Se nós, da FRELIMO, estamos a mobilizar a população dos bairros e funcionários camaradas , essa é a nossa estratégia de mobilização e não pode ser traduzida como uma infração", explica.
Afirmando que "o processo está a decorrer normalmente", Santos Gonçalves deixa um apelo à participação no recenseamento. "Não só os membros da FRELIMO, a população tem de aderir ao recenseamento", diz.
Comunidade islâmica pede "vigilância"
À DW África, Inusso Ismail, da comunidade islâmica de Quelimane, afirmou temer que a abstenção nas autárquicas de outubro seja elevada. "Estou muito preocupado com o índice de abstenção. As pessoas estão desanimadas, acham que votando ou recenseando-se nada mudará. Estamos a atravessar momentos muito difíceis e conturbados, é necessário que cada povo, cada elemento, possa exprimir o seu sentimento pois faz a diferença", disse.
Sobra as acusações feitas à atuação da FRELIMO nesta primeira semana de recenseamento eleitoral, o religioso afirma que "não há nenhuma democracia permanente".
"Temos de estar preparados para ganhar e perder. Aqueles que perdem têm que honrar os que ganham e os que ganham devem respeitar os que perdem. Temos que ser honestos, essas movimentações não vão mudar nada, nem permitir que nos possamos governar devidamente", afirma Inusso Ismail, apelando "à vigilância". "Os delegados dos partidos devem estar muito atentos para denunciarem essas irregularidades quando ocorrem", frisa.
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- Data 28.03.2018
- Autoria Marcelino Mueia (Quelimane)
- Assuntos relacionados Afonso Dhlakama, Armando Guebuza, Daviz Simango, Conflito entre RENAMO e Governo de Moçambique, China em África, Brasil em África, Direitos Humanos em Moçambique, Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), Manuel de Araújo, Movimento Democrático de Moçambique (MDM)
- Palavras-chave Moçambique, eleições, eleições autárquicas, RENAMO, FRELIMO, MDM, fraude, fraude eleitoral,recenseamento, recenseamento eleitoral, Quelimane, Zambézia, África, democracia
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