28.03.2018 às 11h07
Portugal não está "isolado" nem "abandonou o Reino Unido", garante a secretária de Estado Ana Paula Zacarias. PSD critica: "Não podemos estar com o Reino Unido nos dias de sol, e nos dias de chuva abandonar e deixar o apoio pelo caminho"
A secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Ana Paula Zacarias, defendeu esta quarta-feira numa reunião da comissão parlamentar de Assuntos Europeus, que Portugal não está "isolado" nem "abandonou o Reino Unido" na questão polémica sobre a expulsão de diplomatas russos.
"Nós temos três diplomatas em Moscovo. Se expulsamos diplomatas ficamos sem ninguém lá", começou por responder Ana Paula Zacarias, falando de aspetos "pragmáticos". "Estamos perfeitamente enquadrados nesta matéria", defendeu, admitindo que a posição de Portugal é "um processo evolutivo" e que possa haver mais novidades depois da reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros de 16 de Abril e no Conselho Europeu de Junho. "Pode haver mais matéria de prova. Há investigações em curso e haverá com certeza mais matéria para avaliar. Na reunião de 16 de abril, haverá mais decisões", explicou, referindo-se a peritagens feitas pelo Reino Unido.
O PSD, pela voz da deputada Rubina Berardo, falou da posição de Portugal em relação ao conflito diplomático entre Reino Unido e Rússia que tem levado muitos países europeus a posicionarem-se ao lado dos britânicos e a explusar diplomatas russos dos seus territórios, criticando o Governo: "Já perdemos a primeira leva de solidariedade. Esse barco já partiu".
Defendendo que "o cinzentismo pode ter custos", depois de Portugal ter anunciado através do MNE que o processo de decisão "está em curso" e de não ter para já anunciado medidas tão duras como alguns aliados, a deputada perguntou "qual é o interesse nacional que está a ser defendido" numa altura em que Portugal fica "isolado dos seus parceiros estratégicos".
"Não podemos estar com o Reino Unido nos dias de sol, e nos dias de chuva abandonar e deixar o apoio pelo caminho", sublinhou a deputada social-democrata."'Não colocamos em cheque a soberania de Portugal, não há soberania em causa em acompanhar em solidariedade o Reino Unido", frisou.
"NÃO FICAMOS ISOLADOS NEM ABANDONADOS"
Para o Governo, é preciso refletir sobre a "espiral de expulsões e contra-expulsões" a que se assistiu nos últimos dias (até terça-feira à noite eram 160 diplomatas expulsos no total). "Estamos a entrar numa espiral de expulsões e contra-expulsões que são um sinal político importante, mas precisamos de saber onde isto nos conduz. Não podemos fechar a porta do diálogo com a Rússia", disse a secretária de Estado.
Ana Paula Zacarias defendeu que Portugal "deixou desde o início bastante claro que é preciso firmeza em relação à Rússia" e que o país demonstrou "solidariedade para com as vítimas e o Reino Unido". "No quadro multilateral, estamos presentes e apoiámos todas as conclusões do Conselho Europeu e da NATO, frisou a governante. "Quanto a medida adicionais que possam ser tomadas, estamos dispostos a olhar com abertura".
Já a nível bilateral, "foi deixado ao livre arbítrio dos Estados-membros" qual a proporção e a dimensão das medidas a tomar. Alguns decidiram "de imediato secundar o Reino Unido", lembrou. Entre esses casos estão países que expulsaram diplomatas russos ou que incluíram mais cidadãos russos nas suas listas de personas non-gratas. Já Portugal decidiu chamar o embaixador em Moscovo a Lisboa. "Nunca dissemos que não poderíamos tomar medidas adicionais", acrescentou a governante. "A nossa posição pode ser alterada".
Caso Skripal: PCP pede “provas e factos concretos”
29.03.2018 às 16h17
Comunistas falam em “incidente” e nunca referem a palavra “espião”. Em comunicado e “a pedido de vários órgãos de comunicação social”, PCP faz comunicado dizendo que Governo não pode associar-se “a qualquer escalada de tensão e confronto”
Quase um mês depois do acontecimento, o PCP emite a sua posição oficial sobre aquilo que classifica como "incidente" ocorrido no Reino Unido e que envolveu "um agente britânico e a sua filha, cidadã russa". Num breve comunicado do gabinete de imprensa do PCP, não há qualquer referência ao facto de se tratar de um ex-espião russo, nem ao facto de Sergei Skripal e a filha se encontrarem no hospital com prognóstico mais do que reservado.
Estando ainda "por esclarecer as circunstâncias" em que ocorreu este "incidente, nomeadamente em torno da substância utilizada e a sua origem", "o Governo britânico atribuiu a sua autoria à Federação Russa", diz o PCP. "A Federação Russa negou quaisquer responsabilidades nesse incidente e expressou a sua disponibilidade e interesse em colaborar com as autoridades do Reino Unido", prosseguem, sublinhando que tal não impediu a expulsão de diplomatas russos "por alguns países e pela NATO".
Os comunistas acham que "no quadro da saída do Reino Unido da UE", a situação internacional está a ser marcada por "uma escalada de tensão e confronto levada a cabo pelos EUA e seus aliados", o que representa uma "séria ameaça à paz e à seguranças mundiais". Apelam ao Governo para "garantir que o País não se associa" a este tipo de escalada e prossiga "um caminho que assegure a paz e a cooperação entre os povos".
Sem dizer se concorda ou não com a atitude tomada pelo responsável pela diplomacia portuguesa (que mandou, esta semana, chamar o embaixador de Portugal em Moscovo), o PCP diz que se "impõe o cabal esclarecimento do incidente ocorrido em Salisbury" em vez de "declarações e decisões que não assentes em provas e factos concretos visam apenas alimentar uma lógica de confrontação internacional de consequências imprevisíveis".
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