terça-feira, 27 de março de 2018

O comboio misterioso que pode ter levado Kim Jong-un até Pequim


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Um grande aparato policial foi montado na Praça Tiananmen esta terça-feira. Um misterioso comboio verde chegou à China, mas não se sabe se é o que transporta habitualmente o ditador norte-coreano.
AFP/Getty Images
Há “uma forte possibilidade” de o líder norte-coreano Kim Jong-un ter visitado de surpresa a capital da China, Pequim, no início desta semana, em vésperas de um encontro entre a Coreia do Norte e o governo sul-coreano e possivelmente com o presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump. O rumor foi avançado pelos meios de comunicação social japoneses quando deram conta de que um comboio verde, com vidros escurecidos na janela e com materiais à prova de bala igual ao utilizado pelo líder norte-coreano parou na capital chinesa. A adensar ainda mais a especulação está o enorme aparato policial que foi montado junto à Praça Tiananmen e à Casa Diaoyutai, onde os diplomatas norte-coreanos costumam ficar. A presença policial até obrigou ao corte do trânsito em várias artérias da cidade.
Este vídeo da agência Reuters mostra o comboio que se suspeita ter transportado Kim Jong-un.
O comboio que Kim Jong-un terá usado para se deslocar até à China tem 21 carruagens e já foi utilizado pelo pai do líder norte-coreano, Kim Jong-il, e pelo avô, Kim Il-sung. Segundo um relatório redigido pela Coreia do Sul em 2009, o aparato utilizado pela Coreia do Norte de cada vez que o líder tem de sair de Pyongyang é composto por um comboio de alta segurança (que vai à frente) outro comboio onde o líder é transportado (que vai no meio) e um terceiro com as malas e os guardas (que vai atrás). Todas as carruagens, num total de 90, foram produzidas com materiais à prova de bala que tornam o veículo mais pesado do que é normal e, por consequência, mais lento: não anda mais do que 60 km/h.
Há na Coreia do Norte 20 estações de comboio concebidas especialmente para receber o líder: de cada vez que Kim Jong-un viaja, 100 guardas são postos nas estações onde os comboios podem parar e, enquanto não chegam, vasculham as áreas para garantirem que não há ameaça de bomba no local. Ao mesmo tempo, helicópteros militares e aviões são convocados para sobrevoar as regiões por onde o líder vai passar a fim de aumentar o nível de segurança. Assim que os comboios chegam à estação de comboio prevista, a energia dessa estação é cortada para impedir que outros comboios possam viajar para ou até lá.
Dentro do comboio de Kim Jong-un há salas de conferência, quartos, telefones por satélite e televisões com ecrãs plasma. Um vídeo feito em 2015 confirma o que outras imagens já mostrava em 2011: uma das salas de conferência tem uma mesa branca comprida com uma televisão com ecrã plasma atrás dela e um computador portátil em cima da secretária. Noutras viagens para o exterior protagonizadas por Kim Jong-un também se pode ver uma carruagem com cadeiras de pelúcia e outra carruagem adaptada a sala de jantar que pode receber banquetes e está decorada com madeira escura. É possível que todo esse material tenha sido atualizado pelo atual líder da Coreia do Norte, já que a secretária e o computador utilizados por Kim Jong-il estão em exposição no Palácio do Sol de Kumsusan em Pyongyang.

Quando o líder norte-coreano chega ao destino e abandona o comboio, normalmente é transportado de Mercedes para o lugar onde vai ficar hospedado, embora também possa viajar num carro de qualquer outra marca que tenha sido levado de propósito para esse efeito. Se a viagem ocorrer dentro da Coreia do Norte, aviões IL-76 ou helicópteros MI-17 sobrevoam o percurso previsto de Kim Jong-un e ficam de olhos postos no aeroporto.
De acordo com a entrevista de Konstantin Pulikovsky, um oficial russo que viajou a bordo do comboio em 2011, ao The New York Times, os diplomatas norte-coreanos viajam de comboio porque Kim Jong-il tinha medo de andar de avião e preferia andar por terra. As viagens não se tornam menos luxuosas por isso: o cardápio inclui pratos tipicamente russos, franceses, chineses e japoneses. Por exemplo, se o comboio atravessar a Sibéria para viajar até Moscovo, ele faz uma pequena paragem para comprar marisco, nomeadamente lagostas. E sempre que possível, o aparato norte-coreano aproveita para comprar vinho importado de França, vindo de Bordeaux ou Burgundy. Enquanto conversa com os convidados a bordo, Kim Jong-un também chama mulheres contratadas para entreter o público e conduzir espetáculos em coreano ou em russo, se essa for a língua do visitante.
Segundo a BBC, alguns analistas sul-coreanos dizem que o diplomata a bordo do comboio também pode ter sido Kim Yo-jong, irmã mais nova do líder da Coreia do Norte que já tinha representado o país nos Jogos Olímpicos de Inverno na Coreia do Sul, ou o militar Choe Ryong-hae, braço direito de Kim Jong-un. Seul diz não ter confirmação sobre quem estava a bordo do comboio, pelo que “todas as possibilidades estão em cima da mesa”. A visita norte-coreana provocou atrasos na circulação dos comboios em Pequim.
Entretanto, a Coreia do Sul já avançou que o comboio partiu de Pequim esta terça-feira, embora não se saiba com que destino. Mas os rumores ainda não pararam de crescer porque as imagens captadas por um canal de televisão japonês mostram “momentos pouco normais” na estação de comboios em Dandong, a principal cidade onde os caminhos de ferro norte-coreanos e chineses se cruzam.

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