Lisboa - Expresso cita correspondência electrónica e extractos bancários que indicam que entidades detidas por Sobrinho terão recebido um total de 499 milhões de euros.
Fonte: Publico
O empresário luso-angolano Álvaro Sobrinho, antigo CEO do Banco Espírito Santo Angola (BESA), é suspeito de ser o beneficiário efectivo de três companhias angolanas que terão recebido de forma não justificada um total de 433 milhões de dólares do banco. A esta soma juntam-se 182 milhões de dólares que Sobrinho terá recebido em nome próprio através de duas empresas offshore, num total de 615 milhões de dólares (499 milhões de euros) que teriam sido originalmente concedidos pelo BESA como empréstimos a empresas.
A suspeita é noticiada pelo Expresso na edição deste sábado e baseia-se em documentos obtidos pela revista alemã Der Spiegel e partilhados com o semanário português no âmbito de um consórcio internacional de jornalismo de investigação.
Da documentação constam extractos bancários, e-mails e ficheiros Excel que indicam movimentos como um depósito de 277 milhões de dólares em dinheiro vivo numa conta do BESA, cuja verba seguiu depois para outras entidades. Ou o levantamento de quase 50 milhões de dólares em numerário de uma companhia controlada por Sobrinho, e o depósito de cerca de metade desse valor, no dia seguinte, a 17 de Julho de 2012, numa conta da Ocean Private – segundo escreve o Expresso, esta operação é referida em e-mails entre o empresário e um familiar seu, com Sobrinho a assumir a responsabilidade pela mesma.
O buraco financeiro de 5,7 mil milhões de dólares detectado em 2013 no BESA, recorde-se, teve um forte impacto nas perdas do BES em Portugal, tendo sido um de vários factores a conduzir o Grupo Espírito Santo (GES) ao colapso em 2014. Agora, e com base na documentação recolhida pela revista alemã, o Expresso sugere que centenas de milhares de dólares terão acabado em entidades controladas pelo antigo presidente executivo do BESA.
Património questionado e arrestado
A fortuna pessoal de Sobrinho tinha sido objecto de perguntas durante a comissão de inquérito parlamentar ao colapso do BES, quando a deputada do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua considerou o volume patrimonial do gestor incompatível com a remuneração de um alto quadro bancário. Na altura, Sobrinho recusou responder, considerando o assunto do foro pessoal.
Na mesma comissão, em 2014, a deputada do CDS-PP Cecília Meireles também perguntou a Sobrinho se tinham sido levantados 525 milhões de dólares do BESA, e se tal operação seria comum. “Olhe, eu vou dizer o seguinte: nem bancos americanos têm tanto cash… É um absurdo”, respondeu na altura.
No Parlamento, Sobrinho disse ainda ser “impossível” ter concedido créditos a entidades a si ligadas enquanto administrador do BESA, de onde foi afastado do controlo executivo em 2012.
Em Portugal, Sobrinho detém 29,9% da SAD do Sporting, segundo dados de 2016 da CMVM, e foi proprietário dos jornais Sol e i (estes últimos investimentos através da offshore Pineview Overseas, sediada no Panamá).
Desde pelo menos 2011 que Sobrinho é investigado por suspeitas de irregularidades na altura detectadas pelas autoridades angolanas, relativas a transferências cruzadas entre o antigo quadro do GES e um empresário português.
Em Portugal, as suspeitas da prática de crimes de abuso de confiança qualificada e de burla qualificada por parte de Sobrinho levaram por três vezes ao arresto de bens do empresário, de familiares seus e da empresa Grunberg Portugal, por si detida. O arresto de bens acabou por ser sempre levantado por decisão do Tribunal da Relação de Lisboa.
Em Fevereiro, e segundo confirmou a Procuradoria-Geral da República, uma empresa de Sobrinho foi alvo de buscas no âmbito da Operação Lex, em que o juiz desembargador Rui Rangel (que revogou um dos arrestos de bens aplicados ao empresário luso-angolano) é suspeito de ter vendido decisões judiciais. Contudo, e até à data, Sobrinho não é arguido neste processo.
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