sexta-feira, 14 de novembro de 2025

ISPEKA À DERIVA E ESTUDANTES À ESPERA DE AULAS

 


Estudantes do 3.º ano do curso de Gestão de Recursos Humanos do Instituto Superior Politécnico Kalandula de Angola (ISPEKA) denunciam atrasos no início das aulas, falta de professores qualificados, má comunicação interna e cobranças indevidas de propinas.

Por Mwata Santos

Segundo os relatos recolhidos, a situação teve início na primeira quinzena de Outubro, quando os alunos foram surpreendidos com a ausência de aulas, mesmo após a confirmação e pagamento das matrículas.

“Apanhou-nos de surpresa. A instituição não informou nada. Disseram apenas que estava a decorrer uma inspecção do INAREES, por alegadamente haver professores não capacitados para leccionar ao nível superior. Ficámos quase um mês sem aulas”, contou João Tchissola (nome fictício), estudante do 3.º ano do Curso de Gestão de Recursos Humanos.

Durante o processo de inspecção, que segundo informações oficiosas terá durado cerca de um mês, os estudantes afirmam ter sido convocados várias vezes à instituição, mas sem qualquer aula efectiva ou esclarecimento oficial.

Alegam ainda que a direcção simulou a normalidade das aulas para garantir a cobrança das propinas de Outubro, estando agora em curso, desde o início do mês, a cobrança do mês de Novembro.

“Diziam que havia aulas, mas nenhum professor aparecia. Depois o professor de Mercado de Capitais alegou que só uma estudante tinha ido às aulas – mas ninguém conhece essa pessoa e não há provas de que isso aconteceu”, relatou a estudante do período matinal do mesmo curso, Micaela Tito (nome fictício).

Um mês de espera e nenhuma resposta

O ambiente de incerteza instalou-se entre os alunos, que se queixam de falta de transparência e de abuso de poder por parte da administração.

De acordo com informações recolhidas, a instituição esteve sob inspecção do INAREES durante o mês de Outubro, por alegada falta de docentes com grau de Mestre ou Doutor – situação que terá atrasado o arranque das aulas em vários cursos.

“Comparecíamos ao Instituto e não aparecia nenhum professor. A coordenação pedia apenas paciência”, relatou João Tchissola.

Apesar da suspensão das aulas, a cobrança das propinas manteve-se, com ameaças de multa para quem não efeCtuasse o pagamento até ao dia 10 de cada mês.

“Pedimos que a propina de Outubro cobrisse Novembro, mas mesmo assim continuam a exigir o pagamento com multa”, denunciou o estudante.

Luzia Mateus, também do 3.º ano, confirmou que as aulas começaram apenas a 13 de Outubro, mas de forma irregular e sem os docentes.

“Até agora só tivemos uma aula. Há mais ausência de professores do que presença. E o pior é que, apesar de tudo, exigem que a propina seja paga até ao dia 10 de cada mês – se passar disso, há multa”, explicou.

Os alunos denunciam ainda inconsistências nas listas oficiais

“O professor diz que temos 32 alunos confirmados, mas a coordenação fala em 54. E, de repente, aparecem faltas para todos, inclusive para quem foi orientado a ficar em casa”, acrescentou Luzia.

A Associação de Estudantes é outro ponto de discórdia. Segundo os alunos, o órgão é “inoperante” e “não representa os interesses dos estudantes”.

“A Associação de Estudantes é quase inexistente. Ninguém se faz sentir. Muitos têm medo de falar ou reclamar, porque a instituição é gerida como se fosse uma empresa de família”, disse Micaela Tito (nome fictício), acrescentando que um familiar do proprietário é o Presidente da Associação.

Durante a inspecção, alguns estudantes foram chamados a prestar esclarecimentos ao INAREES, mas, segundo os relatos, muitos optaram por não se manifestar, receando represálias.

“Há medo de falar. Alguns dizem que, se reclamarmos, podemos ser prejudicados. Mas é nosso direito questionar – pagamos com esforço, acreditando na promessa de um ensino de qualidade”, acrescentou uma das estudantes.

Contactámos a vice-presidente da Associação dos Estudantes, Marinela Cambolo, que por sua vez indicou o secretário-geral interino, Kelmi Diogo, o qual acabou também por se furtar às questões colocadas, alegando uma “situação urgente”. A nossa reportagem continuará a aguardar o seu pronunciamento – mas, por ora, o silêncio fala mais alto.

Sem reembolso e com multas

Os estudantes também se queixam da cobrança de cartões de estudante que nunca são entregues.

“Pagamos todos os anos pelo cartão de estudante, mas nunca recebemos. Mesmo assim, se não pagares o valor do cartão, não fazes a confirmação”, denunciou Micaela Tito, estudante do 3.º Ano do Curso de Gestão de Recursos Humanos.

Além disso, afirmam que o ISPEKA não realiza reembolsos em caso de desistência ou pela não prestação dos serviços.
“No Kalandula não fazem reembolso de nada”, reforçou a estudante Luzia Mateus.

“Pagamos as propinas com esforço, acreditando na promessa de um ensino de qualidade e na continuidade das aulas. Pedimos apenas que regularizem a situação e respeitem o nosso tempo e investimento.” – Micaela Tito, estudante do 3.º ano.

O Folha 8 tentou contactar a coordenação do curso e a secretaria académica do ISPEKA. As perguntas foram remetidas por e-mail (instituto.ispeka2012@gmail.com) e por telefone (+244 930 788 213), mas até ao momento não se obteve resposta.

A Coordenadora do Curso de Gestão de Recursos Humanos, Luísa Alcinda Bundo prometeu pronunciar-se nos próximos dias.

A nossa equipa contactou igualmente o Instituto Nacional de Avaliação, Regulação e Acreditação do Ensino Superior (INAREES), aguardando esclarecimentos sobre as conclusões da inspecção e eventuais medidas correctivas.

Em teoria, o Coordenador de Curso deve ser um líder capaz de inspirar mudanças, melhorar o nível de aprendizagem e estimular a crítica e a criatividade entre docentes e discentes.

Deve ser alguém proactivo, com autoridade e visão, que articule soluções e defenda a qualidade do ensino.

Na prática, porém, o que se observa no Instituto Kalandula é o oposto.

A Coordenadora do Curso de Gestão de Recursos Humanos, Dra. Luísa Bundo, primeiro mostrou-se disponível e cordial ao telefone, mas bastou receber as perguntas por escrito para recuar – como quem foge com o rabo à seringa.

O episódio reforça o que muitos estudantes disseram ao Folha 8: trata-se de uma figura meramente decorativa, sem voz nem iniciativa própria, cuja actuação parece limitar-se a cumprir ordens e a gerir o silêncio.

Num ambiente académico que clama por liderança e transparência, a postura da Coordenadora confirma a falência de um modelo de gestão que sufoca o diálogo e compromete a credibilidade da instituição.

Instituto Kalandula outra vez na boca do povo

As velhas denúncias sobre a precariedade das salas, a gestão duvidosa e a ausência de diálogo entre Direcção e estudantes voltam a acender o rastilho. A cada semestre, cresce a sensação de que o problema é estrutural – e que a Direcção prefere o silêncio à solução.

Esta matéria será actualizada após as entrevistas com o Sr. Kelmi Diogo (Associação dos Estudantes) e as respostas às questões colocadas por e-mail para a Direcção.

O Folha 8 mantém-se atento ao desenrolar deste caso, que, a confirmar-se, revela mais um episódio de desrespeito aos direitos académicos em instituições privadas de ensino superior no país.

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