sábado, 22 de novembro de 2025

Acusação sem provas: Como Moçambique e a TotalEnergies voltaram a ser alvo de uma narrativa já desmentida, escreve Marcelo Mosse

 

Apesar de não existir qualquer evidência de abuso por parte do Estado moçambicano ou da TotalEnergies, uma acusação refutada em 2024 foi reciclada na Europa e transformada em queixa criminal: criando uma crise assente em alegações sem base factual.

A narrativa segundo a qual as Forças Armadas moçambicanas teriam detido ou torturado civis em contentores no perímetro do projecto Mozambique LNG (o chamado “massacre dos contentores”) nasceu em Setembro de 2024, num artigo do POLITICO, construído sem trabalho de campo e sem validação de fontes independentes.

Desde o primeiro momento, o Estado moçambicano negou tal acusação. O Ministro da Defesa, Cristóvão Chume, esclareceu publicamente que nenhuma força nacional esteve envolvida em abusos e que não existiam factos, provas, vídeos, relatórios independentes ou testemunhos verificados que sustentassem a alegação.

MOZA

A TotalEnergies, por sua vez, também negou categoricamente qualquer envolvimento em abusos e reafirmou o cumprimento estrito dos seus protocolos de direitos humanos.

A acusação, sem suporte factual, perdeu tração e caiu por terra.

Parecia encerrada.

Mas não estava morta: aguardava um momento político propício.

O regresso cirúrgico: uma acusação falsa renasce no exacto dia do regresso da TotalEnergies

O calendário só confirma que o ataque é estratégico.

• 7 de Novembro de 2025: a TotalEnergies levanta a força maior e anuncia formalmente o regresso ao projecto.

• 18 de Novembro: o Conselho de Ministros aprova o decreto que reabre espaço à intervenção.

• Dias depois: a ONG alemã ECCHR apresenta em Paris uma queixa criminal que não traz uma única prova nova e repete quase palavra por palavra o texto do artigo do POLITICO — um artigo que Moçambique já tinha desmentido.

Nenhuma investigação foi feita no terreno. Nenhum órgão independente confirmou a alegação. Nenhuma entidade internacional apresentou evidências.

Estamos diante de uma ressurreição política, não de um facto. A resposta governamental: correcta no procedimento, mas vulnerável no enquadramento

Confrontado por jornalistas, o porta-voz do Conselho de Ministros, Inocêncio Impissa, pediu prudência, “dados concretos” e tempo para avaliar.

A sua resposta era tecnicamente adequada: nenhum Estado se pronuncia sobre uma queixa num país estrangeiro sem informação oficial.

Mas faltou-lhe o elemento central: a memória de que a acusação já havia sido desmentida em 2024, e que Moçambique já tinha afirmado, formal e inequivocamente, que não cometera nenhum abuso.

O ministro, por não ter sido munido desse contexto, falou como quem enfrenta uma questão inédita. E isso permitiu leituras erradas no exterior – leituras que, por omissão e silêncio europeu, dão a impressão de que o Estado moçambicano considerava a acusação plausível. É falso e é injusto.

A estratégia europeia: transformar alegações sem provas em factos políticos

Na Europa, ONGs, plataformas anti-extractivistas e grupos de pressão ambiental têm agora terreno fértil para usar narrativas antigas, mesmo aquelas que já tinham sido refutadas, como instrumento político para:

1. pressionar investidores,

2. constranger multinacionais,

3. bloquear financiamentos,

4. e interferir nos megaprojectos de gás no Sul Global.

É neste contexto que Moçambique ressurge como alvo fácil. Não por culpa sua, mas porque está em vias de se tornar um actor energético decisivo.

Importa repetir: nem o Estado moçambicano nem a TotalEnergies cometeram qualquer abuso, e nenhuma investigação credível jamais o demonstrou.

Os riscos imediatos para Moçambique: apesar da inocência comprovada

Mesmo sem culpa, o país pode sofrer consequências políticas e económicas:

• Erosão narrativa;

• Impacto na confiança dos investidores;

• Pressão indevida sobre a TotalEnergies e ExxonMobil;

• Desgaste injusto da reputação das Forças Armadas;

• Interferência em decisões estratégicas de energia.

A verdade não protege por si só: é preciso comunicá-la.

Um país exposto pela falta de coordenação interna

A ausência de uma estratégia de comunicação integrada fez com que a narrativa renascesse sem contraditório imediato. Com isso uma acusação falsa, já refutada, sem provas e sem base factual ganhou fôlego graças ao silêncio inicial de Moçambique.

A batalha real não é jurídica, é narrativa. O que se disputa agora não são factos: é a versão dos factos. E a versão europeia avança porque encontrou um Estado moçambicano que respondeu tarde e sem memória interna. Mas tudo isto ocorre apesar de um ponto central, que precisa ser sublinhado por qualquer jornalista responsável: não há, até hoje, qualquer prova de que o Estado moçambicano tenha cometido abusos em Afungi,  não há, até hoje, qualquer essprova de envolvimento da TotalEnergies em violações de direitos humanos.

Nenhum relatório independente, investigação internacional ou documentação credível o sustenta.

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