sexta-feira, 7 de junho de 2019

Homens: os eternos bebês da sociedade /premium


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Não adianta falarmos em igualdade salarial enquanto tratarmos homens que protagonizam casos de assédio sexual como “rapazes”, “moleques” ou “meninos” imaturos e não como infratores da lei.
A história é sempre a mesma.
Menina de 9 anos que está de saia e se senta com as pernas abertas: já está crescida, é uma mocinha, como pode uma coisa dessas? Menino de 13 anos que chuta uma bola contra um vidro, depois de cinco avisos: rapazes, né? Demoram para amadurecer, é natural, são assim mesmo.
Garota que engravida sem querer aos 14 anos: sabia muito bem o que estava fazendo, é uma irresponsável, tem que arcar com as consequências. Rapaz de 22 anos que engravida a namorada: um menino imaturo, não podia imaginar que isso fosse acontecer, coitado, sua vida está estragada agora.
Mulher de 20 anos que é mãe e comete algum deslize com o filho: é uma mulher adulta, uma mãe, como pode fazer uma coisa dessas? Homem de 29 anos que é pai e comete algum deslize com o filho: é um pai jovem, com boa vontade, natural errar, pelo menos está tentando.
Mulher de 30 anos que tem um vídeo íntimo divulgado por um ex namorado: bem feito, não se deu o respeito, tem mais é que ser exposta. Homem de 35 anos que divulga imagens íntimas de uma mulher que confiou nele: imaturo, só quis dar umas risadas com os amigos, não teve maldade.
Mulher adulta, desimpedida, que decide viver uma aventura e alega que foi violentada: bem feito, sem vergonha, oferecida, se colocou nessa posição, não pode reclamar agora. Jogador de futebol adulto, acusado de estupro: coitado, caiu numa armadilha, deve ser alguma aproveitadora, ele não tinha como imaginar.
Nós não conhecemos a verdade dos casos, mas nós conhecemos o raciocínio. Quantas e quantas vezes vemos homens de 18, 25, 32, 39, reduzidos a “rapazes”, “moleques” ou “meninos”, nos momentos em que é conveniente lhes subtrair a responsabilidade? E quantas e quantas vezes meninas de 12, 15, 17 anos são tratadas como adultas e senhoras das suas próprias escolhas? Há algo de muito errado nisso.
Há, de fato, um estranho processo de vitimização do homem, que ocorre nas mais diversas esferas. Bill Clinton e Monica Lewinsky: quem era a devassa, destruidora de lares, que sabia muito bem o que estava fazendo e quem era a vítima de uma sedução irresistível? Quem era a estagiária de 22 anos que tinha total consciência de seus atos e quem era o presidente dos EUA de 50 anos que cometeu um deslize infeliz? Quem teve sua vida arruinada depois deste episódio e quem foi absolvido de todas as acusações? São sempre dois pesos e duas medidas, até mesmo quando os pesos e as medidas estão absolutamente invertidos.
Por vezes parece que a suposta imaturidade social masculina pode ir até a casa dos 60 anos, quando começa a ser substituída pela alegação de senilidade. Sempre que há uma acusação grave contra um homem (de preferência um homem branco, já que homens negros não costumam poder usufruir dessas presunções favoráveis, sendo equiparados a mulheres, nesses casos), das duas uma: ou ele era imaturo demais para medir as consequências, ou ele já estava velho demais para mudar ou para entender que deveria agir de outra forma.
Não adianta falarmos em igualdade salarial enquanto tratarmos homens que protagonizam casos de assédio sexual como imaturos e não como infratores da lei. Não adianta falarmos em paternidade ativa enquanto tratarmos homens que negligenciam seus filhos como homens que não tinham maturidade para ser pais. Não adianta tentarmos viver num mundo de igualdade enquanto os homens continuarem sendo tratados como os eternos bebês da sociedade, enquanto mulheres são tidas como responsáveis por si e pelos outros desde a mais tenra idade.

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