Opinião
Cartas do director
Saúde não pode ser negócio
O primeiro-ministro afirma que o objectivo da direita é desmantelar o SNS e promover a iniciativa privada. Se os propósitos do PSD e CDS fossem atingidos, no que não acredito, aliás, porque tão cedo não serão Governo, os portugueses, mormente os mais desfavorecidos seriam os grandes sacrificados. Não bastaria terem sido já roubados nos salários e pensões por essa mesma direita. Com o fim do Serviço Nacional de Saúde, passariam a pagar 60-70 euros, no mínimo, por consulta médica no privado. Acabavam as consultas de 4,5 euros, tal como se verifica no SNS. As cirurgias atingiriam custos incomportáveis, e pese o adiamento de centenas delas, convém referir que esse atraso não é da responsabilidade do Serviço Nacional de Saúde, em si mesmo, e muito menos do Governo, mas tão-só dos enfermeiros. Outros cuidados de saúde, como os internamentos, por exemplo, a ficarem só no privado, seriam também extremamente dispendiosos, fora do alcance da maioria dos portugueses. A Saúde passaria a ser um negócio, com todos os riscos daí decorrentes. Penso que ninguém de bom senso deseja que tal aconteça. O serviço Nacional de Saúde é uma das maiores conquistas do 25 de Abril e a sua extrema utilidade para todos os portugueses, tão incontroversa se apresenta, que ninguém de boa-fé a ousa contestar.
Simões Ilharco, Lisboa
Salário mínimo à espanhola
O governo espanhol anunciou um aumento de 22% do salário mínimo, atingindo os 900 euros, no próximo ano. As reacções de vários políticos e comentadores do nosso país foram essencialmente de regozijo, pressionando o executivo nacional a seguir o mesmo caminho e a procurar estabelecer aumentos superiores ao previamente estabelecido, em concertação social. O que estes não referem, é que o crescimento dos salários acima da produtividade, em Espanha, é responsável pela existência de uma taxa de desemprego de quase 20%, (a segunda maior da UE) que penaliza essencialmente os indivíduos de baixas qualificações e mais pobres. Assim sendo, uma medida que se destinaria a proteger as faixas da população mais desfavorecidas, acaba pelo contrário por atirando-as para situações mais graves.
Como é óbvio, o salário mínimo nacional é extremamente baixo e não confere, por si só, um nível de vida aceitável para os padrões actuais. No entanto, o seu valor, salvo raras excepções em determinados sectores, é condizente com o nível de produtividade e uma alteração da magnitude, semelhante à que se verificou em Espanha, poderia levar ao aumento do desemprego. Desta forma, para melhorar a qualidade de vida das populações é importante aumentar o valor da nossa produção, a eficiência das empresas e a progressividade do sistema fiscal.
João António do Poço Ramos, Póvoa de Varzim
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