A Frelimo, partido no poder em Moçambique, comporta-se como se fosse um partido único, disse hoje em Lisboa Samora Machel Júnior, filho do primeiro Presidente do país, que defende um processo de mudança dentro da estrutura partidária de que é militante.
Samora Machel Júnior, que esteve em Lisboa esta sexta-feira para participar numa homenagem ao seu pai, Samora Machel, primeiro Presidente da República de Moçambique, promovida pela Câmara de Comércio Portugal Moçambique, criticou, em entrevista à Lusa, o comportamento atual do seu partido, a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), defendendo que este está a pedir mudanças e admitindo que existem clivagens dentro da organização a que prefere, no entanto, chamar "diferenças de opinião".
"Primeiro acho que o partido afastou-se muito do seu eleitorado, que é o povo, tornou-se arrogante", afirmou, acrecentando: "Temos que começar a ser mais humildes, voltar a aproximarmo-nos das pessoas, temos que apresentar propostas e programas que sejam fazíveis e realistas, temos que evitar prometer algo que depois não cumprimos e comportarmo-nos como um partido que está dentro de um processo democrático. Nós, neste momento, comportamo-nos como partido único", afirmou
O filho do antigo Presidente da República de Moçambique e de Graça Machel, agora viúva de Nelson Mandela, ex-Presidente da África do Sul, assegura que "há um sentimento dentro do partido" de que este tem de melhorar, contudo, há quem dificilmente aceite as mudanças, mas também que as assimile com facilidade.
"Pode haver pessoas que estejam descontentes, o que eu acho normal. O importante é que todos nos sentemos e conversemos, falemos e discutamos dentro da organização para melhorar a situação e evitar que existam elementos ou camaradas descontentes", referiu.
A reunião de quadros ou a reunião do comité central são fóruns onde a discussão pode começar, indica como exemplos.
Samora Machel Júnior admite que há uma faixa da Frelimo a exigir mudanças e outra que entende que a mudança não deve existir. Porém, a isso, diz, "não chamaria clivagens, mas sim diferença de opiniões".
"Temos de nos sentar todos e definir o caminho que o partido tem que tomar", disse.
Os membros do partido devem ser a força motriz dessa mudança, defende.
"Estamos cientes que é preciso fazer mudanças é preciso melhorar o que já está bom, mas temos de ser todos nós que temos de participar nisto, não é um único elemento que o vai fazer. E acredito que essa mudança já começou", afirmou.
Questionado sobre a abertura de Filipe Niusy, atual líder da Frelimo e Presidente da República de Moçambique, a essas mudanças Samora Machel Júnior responde: "acredito que há abertura pela parte de quem lidera o partido."
Na opinião do militante e membro do comité central da Frelimo não deve ser atribuída unicamente à liderança do partido os bons ou maus momentos deste.
"Todos fazemos parte do partido e o partido tem de ser aberto a críticas e autocríticas. Se não somos capazes de nos criticarmos e não estamos preparados para fazer as mudanças, obviamente que o desempenho há de ser mau", afirmou.
A liderança tem uma parte da responsabilidade, com a obrigação de dar a orientação ou caminho que o partido deve seguir, mas todos os militantes devem assumir os erros, as vitórias e os maus momentos, considera.
"Não nos podemos esquecer que Moçambique não está numa ilha, está no mundo", afirmou.
Com a globalização há efeitos que influenciam diretamente o desempenho do país, ao nível da economia, da sociedade e em outras áreas. Sendo um país em desenvolvimento, que saiu de uma guerra civil em que praticamente ficou de rastos, tem um processo de reconstrução para fazer e isso não acontece do dia para a noite, lembrou.
"É preciso calma, é preciso tempo, é preciso paciência, muito trabalho, muito esforço e muita dedicação para que isso aconteça", afirmou.
E acrescentou: "Obviamente que todos ansiamos que o crescimento seja mais acelerado e os resultados sejam imediatos, não acontece, mas é preciso que continuemos a trabalhar.
Aliado a estes aspetos surgiram outros problemas, como a corrupção, a falta de transparência e a falta de honestidade, refere.
"Tudo a acontecer na vigência do partido Frelimo, o que desgasta a imagem do partido. E o eleitorado começa a olhar para outras soluções", defendeu.
Depois de fazer os alertas conclui: "Mas acredito que a Frelimo se vai reencontrar".
Samora Machel Júnior foi impedido de concorrer a autarca de Maputo, porque a candidatura da lista que o apoiou, a Associação Juvenil para o Desenvolvimento de Moçambique (AJUDEM), viu-se com um número insuficiente de suplentes, após alguns dos seus integrantes terem desistido.
O político decidiu ser o cabeça-de-lista da AJUDEM, após a sua pretensão de concorrer nas internas da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, para a candidatura ao município de Maputo nas autárquicas de outubro, ter sido vetada por razões nunca esclarecidas.
Lusa/ Fim
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