sábado, 1 de dezembro de 2018

Abdul Carimo validou resultados fraudulentos, disse o que não aconteceu e não disse o que aconteceu em Marromeu

Mentir criminosa, vergonhosa e descaradamente para satisfazer a quem?
- Questiona a oposição, que exige que se pare imediatamente com o que considera “fabricação inaceitável” de resultados
- “A contagem de votos iniciou logo após o encerramento da votação às 18 horas; a votação foi livre, tranquila e justa salvo incidentes de pouca expressão; a CNE não tomou conhecimento de que tenha havido reclamação nos órgãos eleitorais da província de Sofala; a acta foi devidamente assinada por todos os membros da CNE”
– São parte das grosseiras e criminosas pataratices discursivas de Abdul Carimo, que não se coibiu de ir ao evento trajado a rigor religioso
- Estranhamente, o Presidente da CNE não falou da agressão a jornalistas protagonizada por membro das FDS na vã tentativa de proteger a imagem de membros da Frelimo que tinham acabado de votar ilegalmente; não falou das graves e criminosas situações protagonizados pelos presidentes das mesas e pela Polícia no momento da contagem de votos; não falou da retirada de urnas pelas janelas; não falou do início tardio da contagem de votos e das sistemáticas interrupções; não falou da expulsão de observadores e jornalistas protagonizada pelos presidentes das mesas e também não disse que os editais do apuramento preliminar não foram afixados nos locais que acolheram a votação
O Presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), Abdul Carimo, apesar do semblante cabisbaixo e desconforto interno indisfarçável, conseguiu fazer a leitura da deliberação que valida os resultados da repetição da votação nas oito mesas das escolas primárias 25 de Junho e Samora Machel e por essa via, a validação dos resultados do apuramento geral daquela vila autárquica.
E assim, a turma composta por Abdul Carimo, por membros da Frelimo e Sociedade Civil que foi cair ao órgão eleitoral para cumprir as orientações do partido no poder validaram os resultados completamente viciados dando vitória ao partido Frelimo.
No global, os números anunciados por Abdul Carimo e sua equipa dizem que a Frelimo ganhou com 8.395 votos, correspondentes a 45.78 por cento, contra 8.349 da Renamo, equivalentes a 45.53 por cento. Ou seja, a diferença encontrada pela CNE está na ordem de apenas 46 votos. O MDM conseguiu amealhar 1594 votos, o corresponde a 8.69 por cento. Do ponto de vista de mandatos, a Frelimo elege 8, a Renamo também 8 e apenas um mandato para o MDM. O nível de abstenção global ficou na ordem de 30 por cento, pois só foram votar 19.559 eleitores dos 28.211 inscritos.
Festival de ilegalidades Na repetição da votação, a 22 de Novembro, tudo o que se considera ilegal e criminoso aconteceu em Marromeu, a partir da agressão a jornalistas que tentavam denunciar a farsa eleitoral até à impossível participação acima de 90 por cento, incluindo casos em que o número de votantes excedeu mesmo o número de eleitores inscritos.

Igualmente há casos em que as actas das mesas de votação divergem completamente com os números de serie dos boletins de voto utilizados durante a votação. Da análise feita por observadores que estavam no terreno foi possível notar também a existência de fortes indícios de falsificação dos nomes dos membros das mesas de votação e dos delegados de candidatura da Frelimo.
E na centralização nacional e apuramento geral dos resultados de Marromeu, os 17 membros da Comissão Nacional de Eleições, obviamente, não tinham como alcançar consenso. Os caminhos eram dois. A recontagem de votos do dia 22 de Novembro, ou então, fazer-se de contas que correu tudo bem e validar os resultados.
Tendo em conta este cenário, o Presidente da Comissão Nacional de Eleições propôs e decidiu que se devia recorrer à recontagem de votos para se sair do imbróglio. Entretanto, apesar de a proposta ter sido feita por ele mesmo, na hora da verdade, Abdul Carimo Nordine Sau, não votou. Simplesmente absteve-se e nem apresentou qualquer justificação para a decisão de propor algo e depois não defender a proposta na hora da votação.
Em resultado, a Frelimo, que tem cinco membros conseguiu unir-se à sua Sociedade Civil e venceu a validação dos fraudulentos resultados com oito votos contra a recontagem e sete a favor. Os votos a favor da recontagem incluem quatro de membros da Renamo, um do MDM e dois da Sociedade Civil (Apolinário João e José Belmiro).
As mentiras de Abdul Carimo
O Presidente da Comissão Nacional de Eleições disse, na sessão de anúncio público dos resultados, várias coisas que não correspondem à verdade. Aliás, logo depois, o mandatário da Renamo nos órgãos eleitorais, André Magibire, chamou, directamente, mentiroso, ao Presidente da CNE.
Abdul Carimo disse, por exemplo, que a votação no dia 22 de Novembro foi livre, tranquila e justa, salvo incidentes de pouca expressão. Ora, o facto é que a presença na mesa de votação do Presidente da Assembleia Municipal de Marromeu e membro activo da Frelimo é uma irregularidade gravíssima. A presença de uma brigada da Frelimo no pátio da Escola é também uma irregularidade grave. A presença de eleitores vindos de fora do município de Marromeu, das quais, duas senhoras que terão votado na Frelimo é também gravíssimo. Aliás, foi na tentativa de proteger os rostos das duas eleitoras ilegais que um elemento das Forças de Defesa e Segurança agrediu o jornalista do Grupo SOICO, Francisco Raiva.
Abdul Carimo disse também que a contagem de votos iniciou logo depois do fecho da votação, quando eram 18 horas. Isso também não é verdade. A contagem de votos, por ordens de fora e tudo na estratégia de falseamento dos resultados, não iniciou logo após à votação.
Para esta situação, os presidentes da mesa (da Frelimo) inventaram que estavam com fome e tinham de jantar primeiro. Em alguns casos o apuramento parcial só se iniciou por volta das 22 horas, seguido de várias interrupções de consultas sobre que procedimento deviam tomar num e noutro instante, tudo ainda na perspectiva de, forçosamente, abrir-se um caminho para a viciação de resultados.
Também não é verdade que a CNE não tenha tomado conhecimento de que os órgãos eleitorais não terão recebido qualquer reclamação da Renamo porque foi amplamente noticiado que os presidentes das mesas fugiram com urnas não dando espaço para qualquer contestação na mesa.
E isso foi feito propositadamente para chancelar o não ao recurso devido a perigosa e fraudulenta regra da impugnação prévia.
Mesmo assim, no dia seguinte, a Renamo e os observadores foram ao Secretariado Técnico de Administração Eleitoral e à Comissão Distrital de Eleições, mas não tiveram qualquer chance de deixar as suas reclamações. O que aconteceu é que o STAE estava simplesmente fechado (numa sexta-feira) e a CNE rejeitou receber reclamação.
O Presidente da CNE mentiu, igualmente, quando disse que a acta foi assinada por todos os membros do órgão, pois, os quatro membros indicados pela Renamo, o do MDM e dois representantes da Sociedade Civil não assinaram a acta por não concordarem com o seu conteúdo falso e doloso.
Aliás, estes sete membros da CNE elaboraram e justificaram o voto vencido com o argumento de que não aceitavam e rejeitavam “fazer parte desta farsa que pretende, em última análise, pôr em causa a estabilidade e a paz duramente conquistada no país”.
O voto vencido termina com uma espécie de advertência sobre os riscos que o país estava somar com a sistemática viciação do sentido de voto. “Aos que rejeitam a voz do povo, a história os julgará” – assim termina o voto vencido, assinado pelos sete membros da CNE. Nenhuma irregularidade detectada no apuramento parcial?
Entretanto, Abdul Carimo conseguiu chegar a conclusão de que durante a votação não houve irregularidades de grande monta, mas não conseguiu chegar a qualquer conclusão sobre como terá ocorrido o processo de apuramento parcial nas mesas de votação. Optou pelo silêncio. Não disse nada. Não disse se o apuramento parcial tinha ocorrido em ambiente tranquilo ou não. O facto é que a viciação dos resultados eleitorais ocorreu mesmo na contagem parcial. E nem foi preciso fazer tanta ginástica. Foi simplesmente necessário chamar a Polícia e, a partir daí, expulsar jornalistas e observadores, ficando sozinhos a falsificar os editais.
Assim, os presidentes das mesas (que pela maioria representativa são indicados pela Frelimo) foram escrevendo nos editais números que lhes convinham e que nada tinham a ver com os números da contagem de votos.
Por fim, nem se preocupavam em colocar os editais falsificados, pois sabiam que seriam denunciados pelos observadores e jornalistas que, expulsos, estavam do lado de fora. Saíram com as urnas e desapareceram.
Até porque há indicação de que outros editais foram produzidos em algum outro lugar e não no local da votação. Numa mesa em que os delegados da oposição tentaram remar contra a maré, rejeitando e e impedindo que o presidente da mesa e seus pares falsificassem resultados, a Polícia irrompeu pela sala adentro e no mesmo instante o presidente da mesa tirou a urna pela janela.
Segundos depois, a urna entrava numa viatura Mahindra da Polícia da República de Moçambique para local desconhecido.
Edital com votantes acima dos inscritos
Também numa decisão bastante questionada, a CNE decidiu pela invalidação do edital da mesa 07127/03 que, por aquilo que se pode considerar excesso de zelo no cumprimento de ordens superiores, os falsificadores de resultados eleitorais foram capazes de registar que 811 eleitores tinham ido escolher os seus candidatos. Na viciação esqueceram-se de recordar que a mesa tinha o registo de apenas 800 eleitores.
Para esta situação, Abdul Carimo e os membros da Frelimo na Comissão Nacional de Eleições optaram pela anulação. Ou seja, o edital pura e simplesmente não foi contabilizado no apuramento.
“O apuramento intermédio recebido da Comissão Distrital de Marromeu suscitou debate a nível do plenário que remeteu à consulta das actas e editais do apuramento parcial resultando daí a correcção dos erros materiais verificados no apuramento intermédio em alusão, comparativamente aos editais das respectivas mesas de assembleias de voto e da supressão do edital do apuramento parcial da mesa 07127-03, da EPC 25 de Junho – SEPE, por ser improcessável” – assim decidiu a CNE.
Ou seja, o edital foi invalido e nada se disse em relação à investigação e busca de explicação sobre o que teria mesmo acontecido com o edital em causa, cujo resultado apontava a Frelimo como vencedora da referida mesa com mais de 75 por cento dos votos.
Numa possível busca da verdade sobre o edital em causa, os investigadores tem apenas o trabalho de identificar e chamar para explicações e esclarecimentos os membros da mesa de votação 0712703, claramente identificados.
MEDIA FAX – 30.11.2018

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