quarta-feira, 19 de setembro de 2018

O estranho caso da mulher que doou órgãos que acabaram por ‘contaminar’ os dadores com cancro


Análises de ADN mostram que células cancerígenas provinham da doadora de órgãos, uma mulher de 53 anos. Quatro pessoas foram diagnosticadas com cancro após transplante.
AFP/Getty Images
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Análises de ADN mostraram que células cancerígenas tinham origem nos órgãos doados por uma mulher de 53 anos. O caso é considerado extraordinário e só há registo de ter acontecido algo semelhante em 1996, em Espanha, tendo morrido seis pessoas.
Quatro pacientes foram diagnosticados com a doença e três deles já morreram depois de receber os transplantes de uma mulher que morreu devido a um acidente vascular cerebral (AVC), na Holanda, em 2007. Após o falecimento da dadora, foram feitos controlos médicos e não se detetou qualquer indício de tumor, tendo sido extraídos os seus rins, pulmões, fígado e coração.
No seguimento do caso, a revista da Sociedade de Transplantes dos EUA publicou o trabalho de um conjunto de médicos holandeses e alemães, no qual se dá a informação de ter ocorrido transmissão de cancro através da doação de órgãos, embora este seja um caso raro.
Uma mulher de 42 anos, que recebeu os pulmões, foi a primeira paciente afetada: foi-lhe diagnosticado cancro da mama, com metástases noutros órgãos, 16 meses após a operação. As análises de ADN realizadas posteriormente determinaram que as células cancerígenas provinham da doadora. O mesmo se passou com os recetores de um rim e de um coração, tendo este último acabado por morrer cinco meses depois da operação devido a uma infeção.
Em 2014, também a mulher recetora do fígado acabou por morrer, tendo sido diagnosticada com cancro da mama em 2011. Além destes casos, um homem de 32 anos, que recebeu outro rim, foi alertado da situação e decidiu extrair o órgão, não contraindo, assim, a doença. De facto, em todos os pacientes foram detetados marcadores de ADN nas células cancerígenas que coincidiam com o perfil genético da doadora.
“Este é o primeiro caso de transmissão de cancro da mama como consequência de um transplante de órgãos de uma só paciente, afetando quatro recetores”, sublinham os responsáveis do trabalho, liderados por Frederike Bemelman, especialista em transplantes renais do centro médico da Universidade de Amesterdão.
Mais tarde, veio a concluir-se que a paciente continha micrometástases em cada um dos órgãos que doou, as quais não foram localizadas. Além disso, as pessoas sujeitas a transplantes consomem medicamentos que suspendem o sistema imunológico para que não haja rejeição do órgão recebido, o que favoreceu a expansão das células cancerígenas.
Em termos globais, apenas cinco em cada dez mil transplantespodem ter este desfecho. Em Espanha, segundo dados da Organização Nacional de Transplantes, entre 1996 e 2006, dez pacientes sofreram de cancro associado a um transplante e seis deles morreram. Neste período de tempo realizaram-se, ao todo, 38.215 transplantes no país.

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