Crianças tinham 3 e 6 anos. A mãe, uma psicóloga madrilena, pedira proteção, mas juíza especializada em violência contra as mulheres negou o pedido por considerar não existir uma "situação objetiva de risco"
Espanha acordou na terça-feira com a notícia de mais duas mortes no contexto de um quadro de violência doméstica. Desta vez, a vítima não foi uma mulher, mas as duas filhas de um casal recém-separado. O pai das crianças - de 3 e 6 anos - matou-as, com recurso a arma branca, para se vingar da ex-companheira. Após os crimes, suicidou-se, atirando-se da janela do sexto andar da casa onde vivia e onde as meninas tinham pernoitado. A mãe tinha pedido ajuda aos tribunais. Um médico tinha alertado para o perigo em que as duas menores viviam. O pedido foi rejeitado e o alerta ignorado.
A tragédia aconteceu ontem, em Castellón, na Comunidade Valenciana. Um vizinho do homicida encontrou o corpo do homem, de 48 anos, às cinco e meia da madrugada. Ficou com medo que as crianças estivessem algures no chão, feridas ou mortas, como o pai. Foram encontradas em casa, esfaqueadas pelo homem que afinal cometera suicídio. Os crimes aconteceram no contexto de uma "vingança e maus-tratos para com a mãe" através das filhas, como define a vice-presidente e conselheira de Igualdade e Políticas Inclusivas da Comunidade Valenciana, Monica Oltra, citada pelo El País.
A mãe, madrilena, é psicóloga e pedira ajuda aos tribunais, mas uma juíza especializada rejeitou o pedido. Itziar, como é identificada a mãe, solicitara, em fevereiro, medidas de proteção tanto para ela quanto para as filhas.
O Tribunal de Violência contra as Mulheres 1 de Castellón rejeitou o pedido do promotor público para que o homicida se mantivesse a mais de 250 metros das três. O tribunal rejeitou a petição uma vez que considerou não existir uma "situação objetiva de risco".
No mesmo tribunal existia um pedido semelhante depois de um médico, num rastreio de saúde, ter dado o alarme de que as crianças poderiam estar numa situação de risco. Segundo fontes da investigação, referidas pelo El País, a mulher contara ao médico que o ex-marido tinha atirado o carrinho de bebé, vazio, contra uma parede.
"Versões contraditórias", considerou juiz
O casal estava separado há um ano e as crianças tinham residência alternada. Um vizinho do homicida contou uma conversa que manteve com ele este no sábado. Queixava-se que a separação o tinha deixado arruinado, sem dinheiro e culpava a ex-mulher por isso.
A mãe das duas crianças, de 42 anos, morava num apartamento próximo da casa do ex-companheiro. Os vizinhos descrevem os seus gritos "de partir o coração" quando chegou a casa e soube da morte das filhas. Tinha ido buscar a mãe, de 75 anos, que viera passar uns dias com a família. As duas foram transferidas para um centro hospitalar para receberem apoio psicológico.
O Tribunal de Valencia Superior disse na terça-feira que os dois processos - o da mãe das crianças e o do médico - tinham sido arquivados a pedido do Ministério Público e da vítima, mas não informaram que tanto o promotor como a mulher haviam solicitado uma proteção que foi negada.
O juiz acrescentava na recusa que o ex-casal apresentara "versões contraditórias" e que a denúncia se enquadrava no âmbito do processo civil para rever as condições de custódia das duas menores. O magistrado também considerou "desproporcional" a "imposição sobre a investigação de medidas que restringem os direitos [do pai]".
Desde 2013, altura em que as crianças começaram a ser contabilizadas como vítimas de violência de género, em Espanha, 27 menores foram assassinados neste contexto.Em 2018, há um caso confirmado em Almeria. Outros dois estão sob investigação.As duas crianças mortas pelo pai, na terça-feira, emCastellón, juntam-se a esta lista negra.
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