ANGOLA TEM UMA NOVA LÍDER DA OPOSIÇÃO: ISABEL DOS SANTOS
Sabemos que está em curso uma transformação tectónica na vida angolana, embora não saibamos como essa transformação vai acabar. Para já os papéis, começam a parecer trocados. João Lourenço faz discursos e pratica acções que, por vezes, lembram as páginas do Maka Angola. Por sua vez, um dos esteios do regime, Isabel dos Santos, é agora a voz pública mais crítica de João Lourenço.
Face às notícias constantes de discursos, arguidos e detenções, tudo ligado ao anunciado combate à corrupção encetado por João Lourenço, a oposição parlamentar está atordoada. Não sabe como reagir. Aplaudir Lourenço? É difícil, uma vez que a acção do novo presidente da República ainda é muito recente e que a história passada do MPLA não oferece confiança. Criticar Lourenço? Isso dará a entender que a oposição é a favor da corrupção. Por isso, o silêncio tem sido a estratégia preferida da UNITA, enquanto a CASA-CE se debate com os seus problemas internos.
Mas enquanto estas forças políticas se enredam nos seus labirintos, e os “antigos” do MPLA, como Dino Matross, se lamentam, afirmando que julgavam que em João Lourenço estavam a criar um cão dócil e afinal lhes saiu um lobo, houve alguém que não perdeu tempo. Isabel dos Santos, vendo o que está em jogo – a sua sobrevivência –, partiu para o ataque.
Não há dúvida de que as medidas de João Lourenço afectaram e afectarão fortemente a estabilidade do “império” financeiro de Isabel dos Santos, levando à sua destruição. E um pouco por todo o lado, há sintomas dessa destruição que perturbam até os mais antigos aliados de Isabel.
Ainda na semana passada, a imprensa israelita noticiava que Lev Leviev, o velho sócio de Isabel na Ascorp dos diamantes de sangue, fugira de Inglaterra para a Rússia, após uma investigação secreta lançada pela polícia britânica.
Por sua vez, Isabel aparenta estar exilada entre Lisboa e Londres. A justiça aguarda por ela em Angola.
Significa isto que, antes de perder tudo, Isabel dos Santos decidiu atacar, representando actualmente a voz mais crítica, dentro do regime, da gestão de João Lourenço. Seria estulto Isabel dos Santos criticar as medidas anticorrupção de Lourenço, quer pela popularidade que trazem ao presidente, quer pela posição desconfortável em que ela mesma se encontra nessa área.
Logo, Isabel dos Santos escolheu a área onde Lourenço revela maiores vulnerabilidades: a economia.
É um facto que a economia angolana não descola, mesmo com a subida dos preços do petróleo e a aparente visão favorável da comunidade internacional face a João Lourenço. Há várias explicações para que tal aconteça, sendo a mais óbvia a falta de capacidade da equipa económica de Lourenço para lançar um programa “Deng-Xiao-Ping”. Isto é, um programa de liberalização e competitividade da economia angolana.
Isabel dos Santos percebeu a incapacidade da equipa económica de João Lourenço, e entendeu que os números da economia não são animadores. Então, optou pela estratégia do antigo presidente Bill Clinton, quando enfrentou e venceu George Bush (pai) nas eleições: “A economia, idiota!”
Os ataques de Isabel dos Santos a João Lourenço centram-se na mediocridade da política económica do novo presidente. E sucedem-se.
São os tweets em que ela exige que a economia angolana cresça dois dígitos e em que exalta a liderança do pai. Afirma a filha do antigo presidente:
“De 2002 a 2017, o país saiu de um PIB de 12,5 mil milhões de dólares para 126 mil milhões de dólares. Angola cresceu 908% em 15 anos!!! A questão é como fazer com que a economia cresça novamente, à taxa de dois dígitos. O PIB per capita, mesmo com a duplicação da população, cresceu 609%.”
Isabel dos Santos não explica que o seu pai não deixou dinheiro nos cofres do Estado e que, na realidade, tornou a maioria dos angolanos mais pobres. Logo, deve perguntar-se, antes de mais, o que foi feito deste crescimento e quem beneficiou dele. Os angolanos sabem a resposta.
Isabel dos Santos também usa as redes sociais para criticar a incapacidade de Angola para atrair investimento. “Qual o investidor que vai entrar se não dão autorização aos actuais investidores estrangeiros para levarem os lucros em dólares?”
A bilionária também faz referências à falta de boas consequências em resultado da subida do preço do petróleo e à ausência de uma estratégia económica. “Preço do barril está a atingir barra de 80$/barril. Faz quase 1 ano de ‘petróleo está em alta’, continuamos mergulhados numa profunda crise económica, Angola está em recessão. Empresas angolanas c/ perdas financeiras enormes. Qual a estratégia?”
Em resumo, Isabel dos Santos critica de forma sistemática a inexistência de resultados na economia durante o primeiro ano do mandato de João Lourenço. E sabe que será aqui, depois de esgotados os momentos de popularidade conquistados com exonerações e detenções, que se jogará o futuro de Lourenço como presidente da República de Angola.
Isabel dos Santos aposta que João Lourenço não terá capacidade para dinamizar e fazer crescer a economia angolana, e que por isso acabará derrubado, posicionando-se, assim, como a crítica número um do principal falhanço de João Lourenço, e beneficiária futura de tal antecipação visionária.
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