quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Dos elogios a CR7 ao artigo no New York Times: o que Lula já disse da prisão


Antigo presidente acaba de publicar artigo no The New York Times. Antes, definira slogan de campanha em carta a amigo. E até já elogiou Cristiano Ronaldo em crónica sobre a Copa.
"A minha prisão foi a última fase de um golpe em câmara lenta destinado a marginalizar permanentemente as forças progressistas no Brasil. Pretende-se impedir que o Partido dos Trabalhadores seja novamente eleito para a presidência" (...) "Com todas as sondagens mostrando que eu venceria facilmente as eleições de outubro, a extrema-direita do Brasil está tentando tirar-me da disputa" (...) "Eles estão determinados a impedir-nos de voltar ao cargo no futuro próximo."
Os trechos acima fazem parte do artigo, publicado na edição de terça-feira do relevante jornal norte-americano The New York Times, redigido por Lula da Silva da cela em Curitiba onde cumpre 12 anos e um mês de prisão por corrupção no âmbito da Operação Lava-Jato.
Foram as declarações mais mediáticas de Lula desde que foi detido em abril - mas não as únicas. Nos cinco meses de prisão, o antigo sindicalista, de 72 anos, já enviou cartas com ataques a juízes e recados eleitorais, usou Gleisi Hoffmann, a presidente do PT, como porta-voz oficial e até os músicos Chico Buarque e Martinho da Vila chegaram a citá-lo após uma visita. Mais: durante o Mundial de futebol da Rússia, Lula assinou crónicas sobre a competição.
No dia 2 de julho, Hoffmann leu uma mensagem do antigo presidente durante reunião da comissão executiva do seu partido onde ele se reafirmava disposto a concorrer à presidência da República e desafiava a justiça a encontrar uma prova contra ele. Acusava ainda, sem o nomear, o relator do processo no Supremo Tribunal Federal, juiz Edson Fachin, de promover manobras e armadilhas contra si naquela corte.
Semanas depois, enviou uma carta a Wagner Santana, mais conhecido como Wagnão, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde o mito em torno de Lula nasceu, a comparar-se ao imperador D. Pedro I, o rei D. Pedro IV, de Portugal. "O imperador D. Pedro I criou o 'Dia do Fico' e eu vou criar o 'Dia do Volto' para junto com o povo fazer o Brasil feliz outra vez". "O Brasil feliz outra vez" tornou-se, entretanto, o slogan de campanha do PT, seja Lula ou seja o seu provável substituto, Fernando Haddad, o candidato ao Palácio do Planalto.
"O imperador D. Pedro I criou o 'Dia do Fico' e eu vou criar o 'Dia do Volto'."
Pelo meio, elogiou, imagine-se, Cristiano Ronaldo. "O único craque com rendimento de craque até agora", escreveu, dias depois do empate no Mundial entre Espanha e Portugal, por 3-3, com três golos do genial atacante português. A análise fez parte de uma série de comentários divulgados no Programa de José Trajano, da emissora TVT, durante a prova.
CR7 é "o único craque com rendimento de craque até agora".
As crónicas desportivas, as cartas aos amigos e o artigo no The New York Times foram a forma de Lula, que está impedido de concorrer às eleições por ter sido condenado em segunda instância mas lidera todos os cenários das sondagens, se manter nos media. Porque a juíza encarregada da execução da pena vem proibindo entrevistas ao pré-candidato (e o Tribunal Superior Eleitoral vetou a sua participação no debate presidencial da TV Bandeirantes da última sexta-feira). O jornal Folha de S. Paulo, o portal UOL e a emissora SBT protocolaram pedidos junto de Carolina Lebbos nesse sentido, depois de já terem conversado com outros pretendentes ao Planalto, mas ouviram um "não".
"Obviamente autorização de tal natureza alteraria a rotina do local de cumprimento da pena, exigindo a alocação de agentes e recursos para preservação da segurança e fiscalização da regularidade da execução (...) não se trata de obstar a liberdade de imprensa. Cuida-se, sim, como já observado, de questão afeta à segurança pública e do estabelecimento de custódia e à disciplina no cumprimento da pena", decidiu a magistrada.
Na sequência, Lula reiterou que, além de Hoffmann, o plano B, Haddad, e a candidata a vice-presidente Manuela D´Ávila, do PCdoB, serão a sua voz. "Se acharam que me isolando aqui me calariam, saibam que falarei pelas vozes dos companheiros Haddad e Manuela que viajarão pelo Brasil dizendo o que estamos propondo para consertar tudo o que o golpe desarrumou neste país."
"Se acharam que me isolando aqui me calariam, saibam que falarei pelas vozes dos companheiros Haddad e Manuela."
Até pelas vozes famosas de Martinho da Vila e Chico Buarque o antigo presidente se fez ouvir nesta semana. "Ele está muito bem-humorado e disse que não troca a dignidade pela liberdade", afirmou Chico após visita à cela. "Eu estou tão emocionado de vê-lo que não vou dizer nada, até porque gosto de falar devagar, devagarinho", completou Martinho. "Mas é uma pena ele precisar de nós como moços de recados, eu acho que se a Globo, com o seu poder, quisesse mesmo entrevistá-lo, aquela juíza deixaria, não é?", concluiu o primeiro, causando risos no segundo.
São Paulo

Sem comentários: