Os machimbombos
Por Manuel Terra
Como
é gratificante continuar a navegar na rota das recordações, reviver
momentos marcantes que vivemos com muita alegria, sinónimo de convívios,
passeios, estudo e trabalho. Tudo isto me faz lembrar de forma quase
romântica as viagens do meu tempo que foram inúmeras deslocações nos
inesquecíveis machimbombos nossos inseparáveis companheiros,
substituindo os velhos e esquecidos elétricos (que pena não ter sido
criado o museu do elétrico) que tinham uma forma muito peculiar, uma
versão very brysti caraterizada pelos tons vermelhos e de tejadilhos
brancos.Por Manuel Terra
O hangar municipal situava-se na Av. General Machado (hoje Av. Guerra Popular)
mesmo defronte da Escola Técnica Joaquim de Araújo (hoje Escola Estrela Vermelha)
e ainda pareço ouvir o som estridente da potente sirene instalada na torre que indiciava o toque a assinalar o meio dia e a primeira hora da tarde.
Por volta das cinco da manhã, ainda o sol se espreguiçava e já os transportes públicos cruzavam as artérias dando ritmo à cidade, transportando no seu bojo gente apinhada até ao estribo que se apeava na longa zona portuária da capital. Depois eram os estudantes que de malas nas mãos esperavam pelos machimbombos nas paragens e quando era impossível conseguirem-se sentar, viajavam de pé nos corredores dificultando a vida ao cobrador que a muito custo picotava o bilhete escolar, que custava a importância de 1 escudo.
As viagens eram uma simbiose de sonhos e aventuras, sempre bem animadas com os mais jovens a alimentarem namoricos com as moças do banco da frente, onde se sussurravam fins de semana com idas ao cinema, à praia, bailes nas coletividades e ainda havia tempo para se alinharem em abreviaturas as cábulas que davam sempre algum jeito, não fosse a memória pregar alguma partida nos exercícios escolares mais exímios.
Os percursos pareciam sempre curtos porque em todas zonas com apeadouro os transportes de viação paravam para saírem e entrarem passageiros com rotinas definidas, gente que por vezes nunca mais se via. Os machimbombos eram uma autêntica enciclopédia itinerante, onde os catraios da minha geração aprendiam com o teor da conversa de adultos pronunciadoras das vicissitudes da vida, também a serem homens.
A campainha toca a assinalar o fim de linha e por agora vou descer no terminal da saudade e paro por momentos para acenar aos velhos colegas de outros tempos e cumprimentar amigos que por mim passam, mas com angustiante pena de não ter mais o vermelhão e branco rolante para prosseguir o resto da caminhada.
Manuel Terra
Ana Maria Teixeira Nogueira (filha do Teixeira (Malhanga)
Maravilha!
Wanda Serra
Adorei!!!!!!
Beijitos
Wanda
Nelson Silva
Lembro-me da carreira 7 – que proporciona uma das imagens – que ia para a baixa, mas acho que não era a que habitualmente apanhava para ir para a Baixa. Eu apanhava um machimbombo que vinha do Bairro da Coop e descia a Avenida Augusto Castilho (ou Elias Garcia, seu nome original e preferido pelos mais antigos) e de cujo número não me recordo. Para ir para o Desportivo, geralmente, descia na paragem perto do cruzamento do Rádio Clube e prosseguia a pé usando, geralmente, o passeio junto ao Jardim Vasco da Gama, passando defronte ao edifício do Tribunal da Relação.
Da esquina da 31 de Janeiro com a Augusto de Castilho, para ir para a Escola Joaquim de Araújo, se estivesse apertado de tempo, apanhava o 19, quando este descia a primeira das avenidas para recolher na Av. General Machado, mesmo em frente à Escola.
Curiosamente, o 19, quando subia a 31 de Janeiro para ir parar junto ao Liceu Salazar, dava uma volta qualquer que me levava a preferir fazer o percurso casa – Escola Comercial utilizando o 22, que apanhava na Gomes Freire.
Para ter o passe de estudante (acho que cheguei – com ele – a pagar uma “quinhenta” por viagem) tinha de apresentar uma declaração da Escola na sede dos SMV, na esquina da 31 de Janeiro com a Paiva Manso, aliás, local onde também morava o engenheiro director dos serviços, em casa de quem cheguei a ir a festa de anos.
Nelson Silva
O mais relaxado e sempre bonacheirão de todos os cobradores que conheci e o único que recordo, é o “Francês”. Já não sei – se é que alguma vez soube – se a alcunha se devia ao seu cabelo e olhos relativamente claros, ou se o homem tinha andado por França antes da sua ida para Moçambique.
Andou anos na carreira 19, entre a estação de machimbombos da Avenida General Machado e o Liceu Salazar. Sentado no fundo do autocarro, barriga proeminente, pernas afastadas, braço por cima do encosto, chapéu de pala reclinado para trás, sorriso com dente de ouro quando acenava a quem por ele passava, só se levantava para “picar” bilhetes antes da paragem do Hospital Central Miguel Bombarda e, novamente, já junto do Liceu Salazar. Conhecia bem os “seus” clientes e quando não os conhecia, então sim, lá tinha de se levantar noutras ocasiões para cumprir a sua obrigação.
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