terça-feira, 17 de maio de 2016

ANTÍPODAS

O Autarca – Jornal Independente, Terça-feira – 17/05/16, Edição nº 3073 – Página 4/5 O poeta José Craveirinha (1922-2003) dizianos, e repetia, que «a Poesia não é para burros». Referia-se à interpretação poética. Ora, tal é o caso dos que comentam sobre a arte da pintura e, mais grave, sobre poesia. Ter alguma sensibilidade para a escrita em prosa ou poesia, não chegará para se ser comentador. Para se apreciar, é possível. Qualquer pessoa pode. Basta se ter sensibilidade e curiosidade. Porém, para se aprofundar um assunto, como em tudo na vida, há pré-requisitos abonatórios para determinado exercício: a experiência e estudo. Torna-se portanto necessário que se sinta a verve inspiratória das artes, seja da escrita ou das artes plásticas, exercitando-as na prática com humildade, não se deixando influenciar pelos discursos de outros, sejam estes providos de encómios ou de desencorajamento. Escrever sobre Ribeiro-Canotilho implica uma viagem à memória do seu percurso existencial na consolidação do seu pensamento, da sua vida e da sua multifacetada arte. O saudoso crítico de arte português, arquitecto Mário de Oliveira, (1914-2013) confidenciava-nos em 1983, que havia duas formas de fazer crítica de arte à obra de algum pintor: - Primeira forma: um cometário laudatório de amizade sobre a arte pictórica de um amigo ou amiga. (Nesse caso, porventura, sem interesse real que contribua como avaliação para a evolução do próprio artista). - Segunda forma: um comentário de crítica equilibrada, construtiva, medindo os prós e contras na avaliação da obra em causa. Ora bem, optamos pela segunda forma. Precisamente em nome da amizade desinteressada. Opção, no entanto difícil pela proximidade dessa amizade construída desde 1962, nos nossos tempos escolares de adolescentes. Tempos em que nós, e o ainda Ribeiro-Couto de passagem pelas terras vizinhas do Rand do apartheid bóer, frequentámos o recém-criado curso de PinNOTA PRÉVIA | Antecipadamente agradecemos ao autor Ribeiro-Canotilho, a oferta da sua obra aqui comentada – «Poalha de MussaM’Biki», datada de 10 Novembro 2015. Não assinalámos atempadamente, porque exactamente nessa data (10 Novembro 2015, 15:00-17:30) defendíamos na Universidade de Lisboa a nossa tese de Doutoramento para obtenção do respectivo grau de Doutor - Ph.D. [Philosophiae Doctor (Doctor of Philosophy)] Foi de bom augúrio essa data de envio, pelo autor Ribeiro-Canotilho, pois, fomos aprovados com «Distinção». Os primeiros meses seguintes, em 2016, foram de «ressaca do conhecimento» do esforço despendido na fase de pós-graduação de 2010 a 2015, após a conclusão da licenciatura de 2006 a 2010. Foram 9 anos de estudo intensivo e uma viagem de pesquisa de 7 meses pelo Brasil (8 mil km percorridos), a partir da UnB – Universidade de Brasília, como bolseiro do ‘Programa de Bolsas Luso-Brasileiras Santander Universidades’ em 2009 – acordo de cooperação luso-brasileiro de 20 de Janeiro de 2007 “que permite a mobilidade de alunos de nível acadé- mico superior, ou seja, entre Universidades.” «RIBEIRO-CANOTILHO: Poalha de MussaM’Biki» | A propósito da prosa-poetizada de Ribeiro-Canotilho – ex-Ribeiro Couto, mestre-pintor de talento, e escriba inconformado, tecemos o seguinte: - Escrever sobre a arte de alguém não é para quem quer, mas para quem pode. Isto é, comentar sobre qualquer tema pode-se fazer, mas seria atrevimento. Pois para tal exercício discursivo é necessário que se possua minimamente as ferramentas do conhecimento dessa matéria. Comentar sobre economia ou medicina, ou outra área – é preciso ter conhecimento da matéria. Caso contrário fica-se pelas generalidades e nunca pela especificidade científica, escondendo a ignorância dessa matéria. No entanto, muitos parecem ser doutos na avaliação quer poética quer pictórica. Leia e Divulgue O Autarca O Seu Diário Electrónico Editado na Beira O Autarca – Jornal Independente, Terça-feira – 17/05/16, Edição nº 3073 – Página 5/5 beiro-Couto, na consciencialização do seu ser e estar, num contexto colonial, português, da crucial década de 1960 aos eventos após 25 de Abril 1974. Seriam por ele presenciados os dias conturbados e trágicos que se seguiram ao 7 de Setembro – data do assalto por portugueses coloniais, ultras, à RCM (Rádio Clube de Moçambique) e 21 de Outubro, em 1974. Por outro lado, viveu-se mais tarde, o reverso moçambicano com a Operação Produção, e campos tenebrosos de reeducação em Nachingwea (Tanzania) e, em particular, no norte de Moçambique (onde pená- mos como dissidente desiludido), em 1975-1976. Nessa fase encontrámos o ainda Ribeiro-Couto empenhado contra as injustiças desses momentos, depois de ultrapassar a fase de estupefacção e de indignação dos anos anteriores. A dramática saída de Moçambique, em 1976, para Portugal, terra dos pais, endureceria definitivamente Ribeiro-Couto. O dilúvio discursivo e magoado em «Poalha de MussaM’Biki» é testemunho do seu autor, resgatado Ribeiro-Canotilho, na primeira pessoa. É nessa progressiva contextualização que se poderá compreender o discorrer da prosa-poetizada de repúdio à deteriora- ção desse devir mais justo, que defendera para um Moçambique independente. Essa opção ideológica, da qual o próprio autor sofreria as suas consequências, encontra-se reflectida num agora já Ribeiro-Canotilho, na assumpção amadurecida de seu protagonismo existencial. ‘Caminhar se faz caminhando’ – parafraseando o cântico poético do poeta sevilhano Antonio Machado (1875-1939), Ribeiro-Canotilho (1946) tem feito seu caminho, caminhando. «Poalha de MussaM’Biki» é um desses caminhares de um fôlego, sem respirar, do percurso existencial intenso do seu autor – de 1962 a 2015, que pode asfixiar o leitor menos avisado.■ (Mphumo João Craveirinha) tura Decorativa na Escola Industrial, da então cidade colonial de Lourenço Marques (hoje Maputo). Cidadecapital de Moçambique, implantada em terras tradicionais do clã ronga dos Mphumo, com sua sede real oitocentista, exactamente no local da actual Igreja Anglicana ao lado do centro comercial MK, na Avenida 24 de Julho. Retomando o fio à meada, a obra «Poalha de MussaM’Biki» que folheamos com interesse crítico, é reveladora da ligação telúrica que o autor transpira pelas palavras emprestadas do recôndito da sua ‘memorabilia’ – em turbilhão. Essa paixão não será de admirar para quem acompanhou o percurso do autor Ribeiro-Canotilho, como nós (o autor deste apontamento) que o apresentámos à família paterna do bairro da Coop, e à família do tio, conhecido poeta e activista polí- tico, na entrada da Mafalala. Esse convívio com as duas famílias Craveirinha a da Coop (a nossa), e a da Mafalala, inspirará o autor de «Poalha de MussaM’Biki» na epígrafe do seu poema… «ANTÍPODAS - Ao grande poeta José Craveirinha e a seu sobrinho-direito João Craveirinha (meu condiscípulo), antropólogo, escritor e pintor.» (Ribeiro-Canotilho 2015, 49) A criação por nós (iniciativa do autor desta crónica) do ‘Grupo 7,’ formado por jovens colegas do curso de pintura, seria decisiva para a evolução de Ribeiro-Couto (hoje Canotilho), no desenvolvimento da sua concepção ideológica e sociológica, na compreensão da cultura moçambicana, a partir da Associação Africana de Moçambique, ao Alto-do-Mahe – Malanga, em 1964, onde participou em eventos de dança de «folclore evoluído», como lhe chamou o folclorista José Craveirinha (além de poeta, jornalista e desportista). Esse convívio, por nosso intermédio, seria decisivo, e não se pode dissociar da caminhada do ainda RiPropriedade: AGENCIL – Agência de Comunicação e Imagem Limitada Sede: Rua do Aeroporto – Desvio 2141 – Casa 711 – Beira E-mail: oautarca@teledata.mz; oautarcabeira@yahoo.com.br Editor: Chabane Falume – Cell: 82 5984510; 84 2647589 – E-mail: chabanefalume08@gmail.com O Autarca: Preencha este cupão de inscrição e devolva-o através do fax 23301714, E-mail: oautarcabeira@yahoo.com.br ou em mão SIM, desejo assinar O Autarca por E-mail ( ), ou entrega por estafeta no endereço desejado ( ) Entidade................................................................................................................................................................................ Morada.......................................................... Tel................................ Fax .............................. E-mail .............................. Individual ( ) Institucional ( ) .............../ ........../ 2013 Assinaturas mensais MZM – Ordinária: 7.200,00 * Institucional: 14.700,00

Sem comentários: