O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) considera que permanecem "muitas sombras" no anúncio do reatamento das negociações de paz entre Governo e Renamo, alertando para o risco de bipolarização política e afastamento de outras entidades interessadas no diálogo.
"Para nós ainda há muitas sombras, porque cada um [Governo e Renamo] fazia as suas exigências e, de repente, numa questão de horas, assistimos a esta situação", disse à Lusa Daviz Simango, líder do MDM, estranhando a velocidade com que o anúncio da retoma do diálogo foi feito e defendendo que, agora, "o mais importante é que as duas partes não vão sozinhas para este dossiê de paz".
A Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) anunciou hoje os nomes dos deputados José Manteigas, Eduardo Namburete e André Magibire para retomar o diálogo com o Governo e preparar um encontro ao mais alto nível sobre o fim da crise política e militar em Moçambique.
O anúncio da Renamo foi feito dois dias após o chefe de Estado moçambicano ter pedido ao líder do principal partido de oposição para indicar a sua equipa, ao fim de vários meses em que o diálogo entre as partes esteve bloqueado, enquanto se agravava o clima de confrontação militar no centro do país.
Em declarações hoje à Lusa, o presidente do MDM espera que as conversações entre Governo e Renamo não signifiquem "uma negação da sociedade civil e outros partidos políticos", nem uma agenda oculta entre dois líderes.
"A preocupação é que se trate de um processo em que duas pessoas se encontram, entendam o que entendam e nada disso seja divulgado", afirmou Daviz Simango, remetendo para a recente revelação de empréstimos ocultados pelo Estado moçambicano, em que "houve pessoas que esconderam o jogo e as dívidas".
O líder do MDM e também autarca da Beira, segunda maior cidade moçambicana, alertou para o passado de conversações entre Governo e Renamo e essa "experiência não traz confiança", numa alusão ao regresso das confrontações militares após o Acordo Geral de Paz, em 1992, e o Acordo de Cessação de Hostilidades, em 2014.
"Pode repetir-se o cenário em que as duas partes conversam, escondem o que falam e depois o povo é surpreendido com novos atos de guerra, como tem acontecido no passado", afirmou Simango, que manifestou ainda a sua desconfiança por o anúncio da retoma do diálogo não ter sido acompanhado por uma trégua ou cessar-fogo, havendo registos de ataques atribuídos pelas autoridades à Renamo nos últimos dias.
As negociações entre o Governo moçambicano e a Renamo estão paralisadas há vários meses, depois de o maior partido de oposição se ter retirado do processo, alegando falta de progressos e de seriedade por parte do executivo.
A suspensão do diálogo foi acompanhada por um agravamento da violência política, com relatos de confrontos entre a Renamo e as Forças de Defesa e Segurança, além de acusações mútuas de raptos e assassínios de militantes dos dois lados e ainda ataques atribuídos pelas autoridades ao braço militar da oposição a alvos civis no centro do país.
O principal partido da oposição recusa-se a aceitar os resultados das eleições gerais de 2014, ameaçando governar em seis províncias onde reivindica vitória no escrutínio.
Como condição para voltar à mesa das conversações, o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, tem exigido o envolvimento da União Europeia, Igreja Católica e o Presidente da África do Sul, Jacob Zuma.
Apesar de a possibilidade de mediação ter sido afastada pelo Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, nesta fase do processo, a Renamo considera que o reatamento do diálogo não ignora o envolvimento da comunidade internacional nas fases posteriores ao trabalho da comissão mista agora constituída.
Do lado do Governo, Filipe Nyusi já tinha designado em março Jacinto Veloso, membro do Conselho Nacional de Defesa e Segurança, Maria Benvinda Levi, conselheira do Presidente da República, e Alves Muteque, quadro da Presidência, para a preparação do encontro com Dhlakama.
HB (PMA) // EL
Lusa – 19.05.2016
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