Os dias estão cada vez mais difíceis, meu caro amigo Tomás Viera Mário. Mais difícil ainda está podermos dizer o quão difíceis estão os dias. Só por isso de dizermos que os dias estão difíceis não sabemos o que nos pode suceder a seguir, se tivermos sorte eles podem nos inutilizar as pernas com as suas balas, mas na falta de sorte eles nos abatem de uma vez por todas. E é por isso que muitos de nós andamos com as bocas suturadas. Escrevo-te esta minha carta de desabafo na esperança de que a mesma te encontre em óptimo estado de saúde, sobretudo nestes tempos em que existem homens capazes de decidir o nosso estado de saúde senão mesmo decidir o dia da nossa morte. Tive o privilégio de ler o que escreveste a propósito do que sucedeu com o nosso amigo José Jaime Macuane, um texto que corresponde ao direito de apelar ao céu quando na terra já não temos quem nos oiça nas nossas queixas, nos nossos apelos e nas nossas súplicas. Concordo plenamente quando dizes que os tiros que dispararam contra Macuane, o José, atingindo-o nas pernas, constituem mais uma tentativa de entorpecer a liberdade de imprensa e de expressão. Concordo mais ainda quando dizes que não existe forma de não relacionar esse acontecimento com o facto de a vítima ser alguém que vinha exercendo o comentário político. Chegados aqui, apraz-me lembrar que as actividades ilegais conducentes a eliminação da liberdade de imprensa e de expressão e ao aniquilamento do pensamento crítico ao poder do dia começaram a ser levadas a cabo faz tempo. Pessoalmente, continuo a espera de uma resposta de V. Excia a uma carta que lhe dirigi na qualidade de presidente do Conselho Superior da Comunicação Social, datada de 02 de Fevereiro de 2016, na qual solicito uma informação actualizada sobre o estágio da petição remetida ao conselho pela Procuradoria-Geral da República, onde pedimos a intervenção de autoridade competente com vista a averiguar e apurar os factos relativos a uma lista de analistas e comentadores políticos supostamente imposta pelos gabinetes de imprensa do partido no poder aos órgãos de informação públicos, uma situação que, a ser verdadeira, atenta contra a liberdade de imprensa e de expressão, o pluralismo político, o pluralismo de informação e de opinião, a Constituição da República e o Estado de Direito e Democrático. Há bastante tempo que aguardo uma resposta de autoridade competente sobre esse expediente, de tal sorte que me questiono todos os dias até que ponto será legítimo que um grupo de 40 indivíduos podem ser tidos como os únicos autorizados a falar na nossa comunicação social do sector público, que vive dos impostos pagos por todos nós, sobretudo quando a crónica relata que os mesmos existem para falar contra a oposição e contra todos os discursos alternativos ao poder político. A conclusão a que chego é de que esses 40 indivíduos são gente intocável, cuja acção não só promove o aniquilamento do contraditório nas nossas rádios e televisões públicas, como também resultam em atentados contra as vidas daqueles que vão tentando dizer alguma coisa diferente ao que eles dizem. O prazo de me responder ao pedido de informação por mim formulado já vai atrasado, por isso não espero muito ter uma resposta. Talvez, por causa de pedir este tipo de informação, não poderei esperar muito mais que o mesmo destino que tiveram o Macuane e o Cistac, isso se não tiver a sorte de ser espancado a ferro como o meu amigo Massango que se arriscou a convocar uma marcha contra a crise financeira que se vive em Moçambique. E o meu amigo procurador que investigava a morte de Cistac, o Marcolino Vilanculos, o que lhe sucedeu? Ninguém nos explica. Tenho dito, mas nada importa repetir: o G 40 representa o que há de mais degradante no tecido moral e ético da nossa sociedade. Salvo erro ou melhor prova em contrário. Com estas palavras, mais um poeta dinamita-se. Mas no atrevimento o poeta vai mandando manguitos!
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