Thursday, September 24, 2015

Retrospectiva eclesiológica sobre percurso da busca da paz (Concl.)



Quinta, 24 Setembro 2015

PREOCUPAVA aos clérigos a continuidade dos assassinatos às populações indefesas, as pilhagens sistemáticas, todo tipo de sabotagens a alvos económicos, a destruição de viaturas e de bens de consumo persistentes assim como o isolamento de algumas zonas, o que impossibilitava não só o desenvolvimento económico mas o trabalho missionário da própria Igreja.


De facto nos locais de culto soavam mais lamentações por perda de membros ora aniquilados sem justificação para tal. Isto preocupava seriamente os actores espirituais do desenvolvimento enquanto clamavam por pacificadores; homens e mulheres cometidos por responsabilidade e amor à pátria e ao próximo; homens que aceitariam o chamamento de Deus para embaixadores e profetas da paz. Assim os líderes da Igreja moçambicana não se cansavam de fazer referência ao Acordo de Nkomati mesmo com as suas fragilidades incentivando desta maneira a adopção por parte dos dirigentes da Nação de outras formas de abordagem que não passassem pelo uso excessivo e abusivo dos armamentos, mas sim que se experimentasse um diálogo franco e construtivo. Evocando o Acordo de Nkomati, os líderes encaravam-no na seguinte perspectiva: “Não pressupõe a legitimidade das acções do regime de Pretória em Moçambique nem a aceitação da política do “Apartheid”, mas significa o realismo com que nós encaramos os problemas da nossa sociedade …”(7). Foi notória a coragem, mas sobretudo o amor demonstrado pelos clérigos moçambicanos em representação de suas congregações as quais unanimemente sentiam que as conversações internas seriam um caminho lógico e importante e que era necessário para se restaurar a paz, o bem-estar e o progresso do país. Isto certamente que requeria uma paciência e um explícito amor a pátria e ao povo por parte dos clérigos do país. Foi assim que recordavam: “Dez meses mais tarde, numa outra mensagem datada de 8 de Maio de 1985, reavivamos o diálogo, salientando a urgência de conversações que contribuam para que se restitua a paz e o desenvolvimento do nosso país”. Como fizeram notar os líderes da Igreja, o sentido do patriotismo e a prontidão para salvar a pátria, tal como o fizeram durante a dominação colonial, os fazia endereçar pela terceira vez estas mesmas palavras sobre a urgente necessidade do diálogo, direccionando-as ao ex-Chefe de Estado moçambicano. Eram pois, movidos pela compaixão e alto sentido de missão de Cristo: pregar a paz e liberdade aos oprimidos.

A última parte das suas palavras se reveste de tamanha importância e parece estar a retratar o actual cenário volvidos pouco mais de 20 anos da conquista da paz e citamos: “Neste momento em que centenas de moçambicanos estão perdendo a sua vida nesta violência, certos de que são os moçambicanos que estão morrendo venham de onde vierem as balas que os vitimam, seja qual for a farda que usarem, são os moçambicanos que estão morrendo neste terror. Reiteramos esta nossa posição assumida três meses após o Acordo de Nkomati e apelamos a Vossa Excelência o Senhor Presidente, para dar instruções para que passos sejam tomados que permitam conversações com moçambicanos, mesmo os que são usados por forças estrangeiras hostis ao bem-estar de Moçambique”. E, continuando, há um aspecto visivelmente sublinhado que diz: “Tais conversações não são um reconhecimento da legitimidade dos desestabilizadores mas o reconhecimento de que por um lado há muito sofrimento infligido ao povo moçambicano e, por outro lado, que os moçambicanos têm capacidade de dialogar entre si a fim de resolver seus problemas e parar de serem usados por forças estrangeiras para destruírem os seus irmãos” (8).

Estas palavras foram endereçadas ao mais alto magistrado da Nação a 6 de Outubro de 1987. Pouco tempo depois as portas se abriam e os referidos clérigos se lançavam numa aventura perigosa que culminaria com a união com clérigos católicos que no momento mais crucial levaram a bom porto este projecto com a assinatura do Acordo Geral de Paz no solo católico.

Foi por assim dizer, inacreditável que possa ser uma vitória ecuménica. Como valorizar este empreendimento hoje?

Marcos Efraim Macamo

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