Monday, September 28, 2015

São 92 anos desde a morte dum grande filósofo alemão, Gottlieb Frege.



9 h · 



A verdade

São 92 anos desde a morte dum grande filósofo alemão, Gottlieb Frege. Ele é considerado por muitos como o filósofo que mais fez para esclarecer o conceito de “verdade”. Morreu numa cidade do Nordeste da Alemanha, Bad Kleinen, onde no início dos anos noventa ocorreu um incidente que nunca foi esclarecido de forma conclusiva. Uma unidade especial das forças policiais alemãs esteve envolvida num tiroteio que culminou com a morte dum membro da Fração do Exército Vermelho, um grupo terrorista que durante vários anos atormentou a Alemanha Federal. Segundo os agentes policiais envolvidos nesse incidente, esse membro morto sacou duma pistola, alvejou e matou a tiro uma agente policial antes de se suicidar na linha férrea (o incidente ocorreu numa estação de caminhos de ferro). Mais tarde, especulou-se que ele tivesse sido executado no local pela polícia, o caso percorreu vários tribunais, incluindo o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, e todos eles confirmaram a versão policial. Entretanto, o então ministro do interior assim como o procurador demitiram-se por causa da forma como lidaram com o caso.

Sempre achei este caso irónico tendo em conta o que Frege escreveu sobre a verdade. Ele defendeu a ideia de que a verdade não reside na correspondência entre o que a gente diz e a realidade. Por exemplo, o que faz com que a frase “hoje faz sol” constitua verdade não é o facto de realmente fazer sol. Para Frege pensamentos é que são portadores da verdade e são validados pela lógica. Frege era matemático. A verdade não é algo perceptível nas coisas, algo que a gente possa segurar com as mãos. É uma noção abstracta sujeita às regras da lógica. Portanto, o que faz com que a frase “hoje faz sol” seja verdade é o facto de a sua validação depender da análise da frase que faz essa afirmação a um nível de discussão que é acessível a todos nós, isto é num espaço de discussão que não depende do que cada um de nós sente, acha que viu, ou simplesmente afirma.

Tenho estado a pensar neste filósofo alemão de cada vez que rebenta um pneu em Moçambique. No espaço de duas semanas pneus rebentaram duas vezes. Ouvimos várias versões contraditórias desses incidentes que levaram o Bayano Valy a desabafar que em tempos de guerra a primeira vítima é a verdade. A questão, porém, é de saber quem vitima a verdade. Para o observador neutro (se é que isso existe na Pérola do Índico ou mesmo na abordagem da Pérola do Índico), os políticos, principalmente os da Frelimo e da Renamo coadjuvados pelos seus exércitos de “lambe-botas” (no caso da Frelimo) e “simpatizantes” (no caso da Renamo), é que são os perpetradores. Mentem que se farta. Fazem tudo para que a verdade não venha ao de cima. Esta maneira de ver o problema pressupõe o conceito de verdade criticado por Frege, nomeadamente a ideia de que a verdade reside na adequação entre o que dizemos e a realidade. É por isso que logo que acontece alguma coisa (se acontece, já nem disso tenho certeza) todo o mundo (e não só os políticos) toca a produzir as suas versões num frenesim autêntico de produzir o evento a partir da fala. “Meu tio que vive a 1 km do local do incidente disse…”; “falei ao telefone com o repórter da TV fala-barato que me disse…”; “sou daquela região e sei que naquele troço não seria possível fazer isto ou aquilo…”. E por aí fora. É um frenesim total para fazer o evento re-acontecer de acordo com o que ele devia ter sido – ou como devia ser – para que a ideia que cada um de nós tem do mundo (pérola indiano) se confirme.

A minha tese é simples. A verdade não é a primeira vítima em tempos de guerra. Em Moçambique a guerra é que é vítima da verdade se entendermos a verdade no sentido moçambicano do termo como a protecção das nossas crenças e da nossa visão do mundo. É porque temos uma esfera pública onde os mais esclarecidos e os que mais interesse teriam em fazer debates mais objectivos sobre o que nos afecta como nação são os primeiros a se entregarem de corpo e alma à construção da realidade a partir da fala irresponsável. Quando leem no jornal (ou Facebook) que aconteceu isto ou aquilo o seu primeiro instinto é de verificar se está de acordo com a maneira como gostariam de ver o mundo. Se estiver, compartilham, tecem comentários inflamados, assumem-se como apóstolos morais. Se não estiver, não compartilham, mas preparam desmentidos e não arredam pé da posição de apóstolos morais. O que menos fazem é suscitar um debate de como se pode abordar o assunto de modo a se produzir uma versão dos acontecimentos que esteja mais próxima dum debate útil dos desafios que se colocam a nossa sociedade. Porque a Renamo teria gosto em se ferir a si própria? Que interesse do governo é servido pela tentativa (e não consumação) de liquidar o líder da Renamo? Quem são as pessoas que nos contam o que aconteceu, que investimento têm no assunto, porque são boas (ou más) fontes de informação?

Essas perguntas encontram-se naquele espaço acessível a todos sobre o qual falava Frege quando dizia que o pensamento é que é portador da verdade. É o sentido que o pensamento faz, um sentido independente das minhas crenças individuais, quando ele é formulado em três momentos. Primeiro, o que acho que pode ter acontecido; segundo, o conjunto de circunstâncias que seriam necessárias para que essa intuição (trata-se de intuição) fosse acertada; terceiro, o anúncio desse pensamento ao público não para a discussão do que aconteceu, mas sim do que leva alguém a supor que isto ou aquilo tenha acontecido. Isso introduziria também um elemento de incerteza que faz muita falta ao debate público entre nós. Só que pelos vistos é pedir demais duma esfera pública crédula.

Repito, para concluir: a verdade não é a vítima em tempos de guerra. A guerra é que é vítima da nossa noção de verdade. É nestes momentos que eu acho que à semelhança do ministro alemão do interior muitos de nós intelectuais devíamos pedir a demissão. Deixamo-nos manipular com tanta facilidade.







Comments


Rildo Rafael Muito bem dito Professor! Penso que esta sua interpelação sobre a verdade (face aos acontecimentos dos pneus em Moçambique) também se estendem a leitura que se fez sobre a situação na Líbia de Khadafi! Seria "útil" se a contra-informação no palco do conflito se circunscrevesse apenas aos intervenientes directos! Mas espanta-me como (sociedade) entra nesse jogo para reproduzir cenários da qual não vivenciaram e muito menos acederam a informações! A sua interpelação é bastante coerente, ora vejamos " Mentem que se farta. Fazem tudo para que a verdade não venha ao de cima. Esta maneira de ver o problema pressupõe o conceito de verdade criticado por Frege, nomeadamente a ideia de que a verdade reside na adequação entre o que dizemos e a realidade" (Elísio Macamo). Portanto, Professor a sua tese é elucidativa "A minha tese é simples. A verdade não é a primeira vítima em tempos de guerra. Em Moçambique a guerra é que é vítima da verdade (...)"... Um abraço

Rildo Rafael Interessante a discussão que acompanho no mural de Elísio Macamo e quero aproveitar para partilhar uma ideia da Marilena Chaui (2000), no seu livro Convite a Filosofia para apimentar mais a discussão que o Professor sabiamente iniciou. 

Segundo a mesma autora:

A nossa concepção da “verdade” foi construída ao longo dos séculos, a partir de três concepções diferentes. Em grego, verdade se diz aletheia, significando: não-oculto, não-escondido, não- dissimulado. Em latim, verdade se diz veritas e se refere à precisão, ao rigor e à exactidão de um relato, no qual se diz com detalhes, pormenores e fidelidade o que aconteceu. Em hebraico verdade se diz Emunah e significa confiança Onde estará a verdade nos relatos do pneu em Moçambique?.

Rildo Rafael Assim, quando predomina a aletheia, considera-se que a verdade está nas próprias coisas e ou na própria realidade e o conhecimento verdadeiro é a nossa percepção intelectual e racional dessa verdade. O indicador do conhecimento verdadeiro é a evidência, isto é, a visão intelectual e racional da realidade tal como ela é em si mesma e alcançada pelas operações da nossa nosso intelecto (razão). Uma ideia é verdadeira quando corresponde à coisa que é seu conteúdo e que existe fora de nosso pensamento (espírito).

Quando prevalece a veritas, a verdade depende do rigor e da precisão no desenvolver e no uso de regras de linguagem, que devem exprimir, ao mesmo tempo, nosso pensamento ou nossas ideias e os acontecimentos ou factos exteriores a nós e que nossas ideias retratam em nossa mente. Agora, não se diz que uma coisa é apenas verdadeira porque se liga a uma realidade externa, mas se diz que ela corresponde à realidade externa porque é verdadeira. O critério da verdade é dado pela coerência interna ou pela coerência lógica das ideias e das cadeias de ideias que formam um raciocínio, coerência que depende da obediência às regras e leis dos enunciados correctos. A marca do verdadeiro é a validade lógica de seus argumentos 

Finalmente, quando prevalece a emunah, considera-se que a verdade depende de um acordo ou de um pacto de confiança entre os pesquisadores, que definem um conjunto de convenções universais sobre o conhecimento verdadeiro e que devem sempre ser respeitadas por todos. A verdade se funda, portanto, no consenso e na confiança recíproca entre os membros de uma comunidade de pesquisadores e estudiosos (Paradigma dominante). 

Portanto Aletheia se refere ao que as coisas são; veritas se refere aos factos que foram; emunah se refere às acções e as coisas que serão. 
Onde podemos encaixar as diversas posiçõesl? Reconhecendo a relação do ser humano com os valores (cidadão, religioso, membro de um grupo, adepto de uma corrente de pensamento, adepto de um estilo de jornalismo), é claro que nos pronunciamentos que tivermos sobre o lugar da verdade podem ser influenciados pelos preconceitos, mas para uma melhoria da qualidade do debate sobre o acontecimento se exige claramente um treinamento para tentar compreender e controlar essas coisas! Essas informações devem ser isentas de preconceitos, descuradas de interesses alheios dos seus superiores hierárquicos
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Elisio Macamo concordo com uma lágrima no canto do olho. já que ela fala de tradições na definição da verdade gostaria de saber se existe alguma tradição moçambicana a esse respeito. uma vez fiz algumas observações em xai-xai que me deram a impressão de que a facticidade estaria ligada ao testemunho. verdade é o que é testemunhado. parece haver um pouco disso nesta estória...
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Mais o que?

Julião João Cumbane Dito doutro modo, "verdade" é o termo que se usa em referência à conformidade entre o pensamento (ou sua expressão) e a realidade objectiva associada com esse pensamento. Por "realidade objectiva" aqui se refere à necessidade de a avaliação dessa conformidade entre o pensamento e a realidade independer do indivíduo que faz a avaliação. No nosso mundo material, a "realidade" manifesta-se sob a forma de factos ou eventos. A recolha, organização e análise de factos ou eventos para descobrir relações de conexão ou desconexão entre si produz o conhecimento científico. Uma verdade que pode ser comprovada por deduções lógicas, sugeridas pela análise sistemática de registos de factos (também chamados acontecimentos ou eventos) chama-se "conhecimento científico". A verdade difere da crença no que tange à origem. A crença ( = admissão tácita da verosimilhança de uma ideia ou conceito independentemente da prova) é produto de percepções; a verdade é produto do raciocínio guiado por um conjunto de operações lógicas. Não obstante, as crenças e a verdade têm alicerce na curiosidade em compreender o nosso próprio ser e o mundo que nos rodeia. Fazemos perguntas e buscamos as respostas ou num sistema de crenças ( = religião) ou através de argumentação puramente lógica (filosofia) ou do raciocínio lógico apoiado pela experimentação (ciência). Há verdades que são deduzíveis de crenças e vice-versa. Mas o valor da verdade independe de se a própria verdade é ou não crível. Ora, recentemente houve "notícias" dando conta de que a caravana do Afonso Dhlakama foi atacada. Os ataques nunca foram reivindicados por ninguém, mas aventam-se três hipóteses: (i) a Renamo imputa a autoria dos dois ataques sofridos pela caravana do seu "líder" às forças governamentais, as quais refutam essa imputação; (ii) aventa-se que a Renamo pode estar a simular os ataques para arranjar um pretexto para o retorno à guerra; e (iii) aventa-se também que uma terceira força, fora do controlo do Governo ou da Renamo, pode estar a conduzir os ataques por conta e risco próprios, porque aparentemente há quem olha para a guerra como precursora de oportunidades de negócios chorudos (…). Das duas vezes que foi reportado que a caravana do "líder" da Renamo foi atacada por homens armados desconhecidos, o Governo destacou uma unidade das forças de defesa e segurança para ir averiguar as ocorrências, socorrer as vítimas e repor a ordem. No caso do último ataque, as forças governamentais foram recebidas com fogo de artilharia, aberto por homens da guarda pessoal do "líder" da Renamo que tinham sido destacados pela sua liderança para enfrentar os atacantes e ficar de guarda dos corpos das vítimas do ataque e das viaturas imobilizadas em consequência do mesmo ataque, aparentemente aguardando a chegada do socorro dos seus colegas. Foi isto que se conta que precipitou a confrontação entre as duas forças, confrontação essa que é reconhecida pelas autoridades governamentais, mas que as pessoas (incluindo agências noticiosas) manipulam em defesa das suas crenças ou interesses. Com isto, não estou a endosar esta estória com o fiel retrato do se passaou. Se houver imprecisões nesta versão do retrato do dito ataque e do confronto armado subsequente, assumido pelas forças governamentais, "não me dei ao exercício de averiguar". [Minto. Até que cruzei as minhas fontes, para chegar à minha própria conclusão, que não a vou revelar aqui...] Se te entendi bem, Elisio Macamo, este é o comportamento que tu denuncias e deploras nesta sua reflexão. Concordo contigo, quando dizes que na «Pérola do Índico, a verdade é entendida como a protecção das nossas crenças e da nossa visão do mundo». Este modo de ser e estar torna o nosso debate de ideias improfícuo e exacerbador das nossas diferenças, no lugar de nos aproximar cada vez mais uns dos outros. Nesta tua reflexão,Elisio Macamo, perguntas «Porque a Renamo teria gosto em se ferir a si própria? Que interesse do governo é servido pela tentativa (e não consumação) de liquidar o líder da Renamo? Quem são as pessoas que nos contam o que aconteceu, que investimento têm no assunto, porque são boas (ou más) fontes de informação?». Estas perguntas são cruciais para a compreensão objectiva do que se passou nos reportados ataques à caravana do Afonso Dhlakama. Curiosamente, quase ninguém as quer fazer (excepto tu agora, claro!). Porquê que não as fazemos? Aparentemente porque não queremos a chegar à verdade que contraria as nossas crenças. Evitamos o argumento que pode conduzir à verdadeira verdade para defender as nossas crenças e protejer os nossos interesses. No meu entender, há-de ser esta a razão para tu negares a ideia de que «em tempos de guerra a primeira vítima é a verdade» e postular o contrário, isto é, que «[em Moçambique] a guerra é […] vítima da nossa noção de verdade». Mas esta tua tese, meu caro Elisio, não me parece suportada pelo teu argumento. Parece-me haver uma contradição. Com efeito, se nós moçambicanos entendemos a verdade «como a protecção das nossas crenças e da nossa visão do mundo», então fazemos guerra para inviabilizar o valor do argumento que conduz à verdade. Esta interpretação deste trecho do teu argumento favorece a tese no desabafo do Bayano Valy, isto é, que «em tempos de guerra a primeira vítima é a verdade». Entendi-te mal?
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Mario Joao Gomes Cumbana em relacao a este ponto - " i) a Renamo imputa a autoria dos dois ataques sofridos pela caravana do seu "líder" às forças governamentais, as quais refutam essa imputação" , estou a ver um post do media fax aqui no FB (No mural do Frangoulis) , que se atribui a Damiao Jose, no qual este confirma que as FADM eh que fizeram o ataque para a repor a ordem. So por curiosidade, ate porque fujo um pouco ao tema principal do post. abraco

Mario Joao Gomes Bom nesta altura ..De facto nunca se sabe aonde esta a verdade....

Elisio Macamo o que me incomoda nesta "notícia", Mario Joao Gomes, é o que os ingleses chamam de "innuendo" (insinuação?). o título é estranho (mataram; quem matou? homens da Renamo; que homens da Renamo; e logo a seguir: Frelimo saúda contundência das FDS). mau jornalismo. depois continua com a história de que a Frelimo decidiu subir o tom crítico em relação à Renamo e seu líder; pior ainda: "sem perca de tempo", etc. esta peça é tudo menos notícia. é este tipo de jornalismo (por incapacidade ou propositado) que nos faz mal.
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Elisio Macamo não há nenhuma contradição no meu argumento,Julião João Cumbane. a forma como nós lidamos com a "verdade" é que está na origem da guerra. é porque não sabemos lidar com factos que acabamos criando o ambiente que propicia conflitos violentos.
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Mario Joao Gomes Prof Elisio Macamo....exacto ...ate porque o media fax que eu saiba nao escreve desta forma ......contra informacao a funcionar ....e a criar confusao ....enfim. ...
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Elisio Macamo também achei estranho, confesso.

Rildo Rafael Totalmente de acordo Elisio Macamo! O problema da "fabricação" das verdades e (in)verdades para justificar os nossos posicionamentos perturba a nossa relação com os factos! O "bom espião informa aquilo que existe e não o que os seus superiores hierárquicos querem ouvir". Ter uma leitura isenta (entenda-se como esforço) dos acontecimentos não necessariamente se posicionar de " um ou do outro lado"... Esse talvez seja o esforço que nos falta!

Elisio Macamo tudo começa e termina com a qualidade da leitura. enquanto formos maus leitores seremos servidos lixo.
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Rildo Rafael Elisio Macamo! Oba! Esse é realmente o grande "carcanhal de aquiles" da nossa esfera pública! A leitura é substituída por intuição analítica, por isso nalguns casos produzimos "certezas intuitivas ao invés de discussões onde a coerência argumentativa é fundamentada por uma leitura aprofundada sobre o assunto que a mesma se distancie das nossas crenças e da nossa visão do mundo! As redes sociais estão cada a dia a reproduzir "análises intuitivas", mas muito valorativas e muitas vezes mascaradas de "ciência". O seu artigo quse que coloca em "soluço" a questão da dramatização da verdade! Recomenda-se para um discussão! Um abraço

Elisio Macamo pois. pois mesmo.

Zeferino Fanequiço Obrigado JJ por trazeres a "verdadeira verdade" sobre as recentes emboscadas que nao buscam a paz. Eh claro que essa eh a "verdade" porque se baseia em factos, comprovados, logo crediveis - e nao porque essa versao esta alinhada com o teu declarado desatino com o tio AD. Trazes-nos essa "verdade", acredito, com total isencao em relacao a inclinacoes politicas ou logicas ideologicas. Logo, qualquer averiguacao adicional das instituicoes pertinentes, se calhar ate da PGR, torna-se redundante e desnecessariamente onerosa para o nosso pais com fundos minguados. Para que nao subsistam quaisquer duvidas aos menos atentos, que poderao erradamente pensar que tencionas enganar ou manipular a opiniao publica, podes por favor esclarecer - factualmente - porque que a tua "verdade" eh a "verdade" e nao as outras "verdades"?
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Julião João Cumbane Acho que não entendeste bem, Zeferino Fanequiço. Peço-te para leres outra vez o meu comentário. Eu não falo de "verdades", mas sim apenas do que me foi dado saber pelas fontes a que tive acesso. Eu já disse num outro momento, nesta coisa de comentar eventos políticos não há verdades absolutas. Creio nisto, por convicção e não por poder provar. Na arte de fazer política, a convicção é mais importante que a verdade provada.

Zeferino Fanequiço Esta claro meu caro JJ. Thanks.


Juma Aiuba Eu estou é mais preocupado com os jornalistas. Estou a espera de um trabalho jornalistico sério sobre o que está a acontecer. É obrigacão deles me informarem com qualidade. É um compromisso deles para com a sociedade. É um contrato social. É dever. Mas, até aqui nada. Tudo o que os meios de comunicação têm feito até agora é justificar a presença ou ausência dos personagens. Portanto, a comunicação social está a fazer os personagens à sua imagem: eles obedecem todas as características exigidas pela sua linha editorial. A comunicação social pauta pela desinformação porque, na verdade, a liberdade de imprensa, no caso concreto de Moçambique, é um véu que disfarça a ausência de debates, o contraditório e o confronto de ideias. As notícias são representações das autoridades políticas relevantes. A informação com que trabalham os jornalistas é aquela informação por eles conotada e denotada e consequentemente transformada em opinião para poder fazer a opinião pública que, nas sociedades contemporâneas, é a opinião publicada e mediatizada pelos meios de comunicação social. Enfim, a opinião pública é uma versão ideológica construída pelos meios de comunicação social. (VI ISSO NUM LIVRO).
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Julião João Cumbane Concordo contigo, Juma Aiuba, e partilho da mesma preocupação e da mesma indignação.

Elisio Macamo sim, Juma Aiuba, os jornalistas são parte do problema. são outros que se deviam demitir. é demais esta falta de profissionalismo.


Honorio Isaias Massuanganhe Elisio Macamo, eu estou neste momento a reler o livro do Ernest Tugendhat sobre "O problema da moral" na esperança de compreender a dimensão moral do conceito sobre a verdade do Habermas, feita no livro do Robert Alexy cujo o titulo é "Teoria da argumentação jurídica".

Na verdade em 2002 estive com o Ernest Tugendhat e lhe apresentei a seguinte colocação: Para Habermas o que valida a verdade é a justificação ou argumentação quando esta é submetida ao crivo da comunidade. E mais, Habermas diz que a verdade se confunde com a validade intersubjectiva. Ora, se a verdade carece da argumentação para sua validação, isto não levanta um problema moral, na medida em que a verdade fica condicionada não aos factos objectivos, mas capacidade de produção dos elementos de validação?
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Elisio Macamo obrigado por esta questão tão profunda, Honorio Isaias Massuanganhe. na verdade, habermas mudou muito de opinião em relação ao assunto. a tese da validade intersubjectiva pertence ao trabalho sobre a razão comunicativa. antes disso ele havia aliado a verdade ao interesse e mais tarde, isto é depois da validade intersubjectiva falou mais da justificação. penso que o maior perigo nessa posição está relacionado com o relativismo, embora ache que ele escape a isso por insistir no debate racional. o que falta no seu argumento, e que eu encontro em frege, é o abandono total da própria noção de verdade. frege chega a dizer, por exemplo, que nem é possível definir a verdade porque toda a tentativa seria circular. portanto, a ideia de factos objectivos em si careceria de explicitação, algo que acabaria por ser circular. o que acho útil em habermas, e há um pouco disso no meu post, é a ideia de que não são os "factos objectivos" que validam uma afirmação, mas sim o debate sobre a coerência dessa afirmação. não creio que a moral desapareça nessas circunstâncias, pois esse debate sobre a validade assenta nela.
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Julião João Cumbane Honorio Isaias Massuanganhe, eis mias uma opinião... A verdade não está condicionada aos factos em si, mas sim à suam interpretação. E esta interpretação faz-se por via da argumentação. É a construção do argumento de acordo com a lógica que confere o valor "verdade" aos factos (também chamados dados). Portanto, a verdade está condicionada à interpretação correcta dos dados/factos observados. Compara os dados/factos com o entulho de pedra, varrões de ferro, areia e cimento e outros itens que entram na construção de uma casa. Enquanto estes materiais não forem combinados de uma determinada maneira, não sai casa. Quando combinados de forma correcta, sai casa. E esta casa é vista assim por todos, independentemente de quem a construiu. É assim também com a verdade. Se tiver sido apurada com base numa argumentação correcta, ela terá o mesmo valor para todos, independentemente de quem a apuro como tal. Agora, a moral é um sistema de normas de conduta, e inclui as normas a observar na colecta, organização e análise de dados/factos para o apuramento da verdade. Parece, pois, que não pode haver um problema moral se a verdade for apurada com uma argumentação que observa o código deste exercício mental. A coerência da argumentação na interpretação dos dados/factos está de acordo com a moral, entanto que conjunto de normas de bem-proceder, e o valor da "verdade" está condicionado pela observância dos princípios morais que assistem a "boa" argumentação.


Jorge Fernando Jairoce Pessoal prometo contribuir neste debate assim que voltar a Moçambique, quarta feira. Está bom o debate
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Bayano Valy penso que o nosso sentido de "verdade" está mais próximo ao de william james, a saber, de que a verdade é o que prova ser bom para acreditar ou o que é instrumental para os nossos objectivos.

e penso que a comunicação social cai neste tipo de argumento em função das trincheiras de cada um.
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Elisio Macamo há-de ser isso mesmo, por alguma razão ele fazia pragmatismo... o pior não é quando a comunicação social cai nisso; é quando nós os outros discutimos na base disso. veja o meu comentário sobre o novo "última hora" mais abaixo.
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Bayano Valy há momentos que penso que perdemos a batalha das mentes, mas há momentos em que penso o contrário. explico-me: houve tempos em que fazíamos um esforço para usarmos a lógica e não acreditarmos em superstições - acaba sendo isso mesmo. foram os tempos aúreos da bloguesfera.

mas veio o facebook democratizar a superstição, e lá voltamos nós
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Elisio Macamo risos. democratização da superstição. é bem possível que seja isso.
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Rildo Rafael Bayano Valy As vezes penso que os intervenientes da bloguesfera continuam os mesmos das redes sociais! Se calhar foi um bom aprendizado ter iniciado nos blogues! Outras vezes penso que o facebook trouxe novos intervenientes! Outras ainda penso que são os mesmos da bloguesfera a enveredarem por novas formas! Mas a exigência dos blogues sobre o raciocínio lógico foi importante e mesmo exercício devia se exigir no facebook. Um abraço
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Jorge Fernando Jairoce Haverá algum dia está verdade verdadeira ou absoluta se quisermos assim entender? Explico a construção da verdade e também socialmente condicionada, mesmo que para tal use a lógica ou racionalidade. O rigor científico é importante mesmo assim os condicionalismos afectam. No nosso caso temos que analisar estas verdades? De que verdade estamos falando? Os da comunicação social, de livros publicados ou de comentários do Facebook. Algumas verdades em função do canal de veiculação são questionáveis, ou seja, algumas são opiniões. Vejo aqui, os colegas a citarem alguns autores para reforçarem a verdade do vosso dito, dando a ideia de que verdade deve ser sustentada com base em alguma lógica. Por fim, gostaria de referir que alguns órgãos de comunicação, pura e simplesmente são ridículos no tratamento de alguma informação que se pretende séria. Está é a minha intervenção para alimentar o debate. Abraços



Elisio Macamo e há um novo "última hora" da autoria dum tal sansão machava que daqui a pouco vai estar em quase todos os murais "Última hora: homens armados da Renamo e as FDS confrontam-se em Morrumbala
Dois dias depois da comitiva do líder do maior partido da oposição em Moçambique, Afonso Dhlakama, ter sofrido uma emboscada no Distrito de Gondola, Província de Manica. A Renamo voltou a ser provocada, dessa vez com as forças governamentais.
O distrito de Morrumbala, província da Zambézia, está sob fogo cruzado. Os Homens armados da Renamo e as Forças do Governo estão a confrontar-se neste exato momento.
Segundo uma fontes que tivemos acesso, os comandados por Afonso Dhlakama foram “provocadas” pelo exército Governamental.
Até ao momento não se sabe ao certe quais os danos causados e, muito menos se há vitimas humanas. Mas a população já abandou o local dos confrontos em debandada, para locais mais seguros". ninguém vai perguntar sobre essa ideia de que "renamo voltou a ser provocada", ela vai ser considerada verdade verdadeira e toda a discussão será em torno disso. aposto.
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Bayano Valy quem prova que as forças governamentais "provocaram" as forças da renamo? é todo o distrito ou apenas uma zona localizada? quem é a fonte? um dos elementos da população que "já abandonou o local dos confrontos em debandada para locais mais seguros"? e esses locais estão num outro distrito ou no mesmo distrito? quantas pessoas foram ouvidas? uma apenas? de que lado do fosso político?
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Elisio Macamo já viste? mas aposto contigo que esta "notícia" vai ser discutida com seriedade...
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Bayano Valy estamos mal e o calor que se faz sentir aqui não ajuda (risos)
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Elisio Macamo prontos, é do calor.
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Bayano Valy só pode mesmo. não é possível. disse algures que devemos ter calma e questionar as narrativas, de modo a não caírmos na tentação de concluírmos precipadamente. mas parece que está difícil por causa do calor smile emoticon
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Elisio Macamo é a doença do "última hora". já não posso mais com esta expressão.
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Julião João Cumbane Não sei até quando o regresso do "verdadeiro" jornalismo. Alguém saberá dizer? Afinal, o que precisamos fazer para que sejamos "correctamente" informados? Alguma ideia, Bayano Valy e/ou Elisio Macamo?



Marcos Sinate Professor, eu acredito que esteja a haver um conflito de papeis no seio dos intelectuais pérola indianos. Por um lado, querem ser reconhecidos como ''verdadeiros'' intelectuais e por outro, querem ser os violadores do ethos científico apresentado por Merton em nome da produção daquilo que deve ser a verdade naquele momento. Os intelectuais que mais comentam os acontecimentos que têm lugar neste território, mostram estar preocupados em vender as verdades mais bem construidas (se não estiverem ligadas com a realidade, melhor ainda.). Quase todos os comentadores estão preocupados em diabolizar o outro, criando uma imagem que confirme aquilo que se quer que o outro seja e ocultando aquilo que o outro realmente é. Por exemplo, a Renamo é composta por homens armados interessados em desestabilizar o país, travar o desenvolvimento, dividir e partidarizar o país, é o inimigo do povo (não sei se é possível saber concretamente de que povo se está a referir! Será todo o povo pérola indiano?). Enfim, coisas que só são possíveis quando indivíduos se dizem académicos quando são ou fazem o papel de políticos que vivem da política e não para a política, como o diria Weber.
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Elisio Macamo imagino que isso também contribua para a má qualidade da leitura.
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