“Memórias de um Rebelde”
Maputo (Canalmoz) – “Memórias de um Rebelde” é o título de uma obra autobiográfica a ser lançada nas próximas semanas da autoria de um antigo estudante bolseiro da Frelimo, Antonio Disse Zengazenga. O Canalmoz obteve o manuscrito do livro de Zengazenga no qual o autor narra a sua experiência como estudante nos seminários católicos do Zóbuè e Namaacha, a sua permanência na Frelimo, o rompimento com a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), a vida no exílio, as ligações à Renamo e outras actividades políticas.
O autor aderiu à Frelimo em Dar es Salam cerca de um mês apos a fundação do movimento que se propunha lutar pela libertação de Moçambique. Permaneceu poucos meses na capital tanzaniana, seguindo em Dezembro desse ano para o Cairo com a promessa de que iria prosseguir os estudos. Conta o autor de “Memórias de um Rebelde” que ao ficar hospedado num hotel de Cairo, “informaram-nos que estávamos ali para treinar. Dos sete apenas quatro aceitaram a oferta. Os outros regressaram a Dar-es-Salaam. Os treinos tiveram início a 7 de Janeiro, em pleno Ramadão, e terminaram a 28 de Maio de 1963.”
Mas é na União Soviética onde finalmente Antonio Disse Zengazenga e outros jovens moçambicanos reiniciam os estudos. Permaneceriam neste país até 1971. Segundo o autor, o grupo de estudantes moçambicanos em Moscovo “começou a desintegrar-se, sobretudo por falta de orientação vinda de Dar-es-Salaam. Daqui não se recebiam respostas às cartas que enviávamos, e as pessoas que vinham de lá não respondiam claramente às nossas perguntas. Por isso, todos os que estiveram em Moscovo e alguns em Praga foram para Berlim depois dos seus estudos. Depois de debates francos e livres, uns decidiram aí permanecer até que a situação desanuviasse, outros preferiram ir avaliar de perto a situação e, se necessário, melhorá-la. Dispersámo-nos no dia 28 de Agosto de 1971 em Berlim 21. Ao todo éramos: Eu, Semeão Massango, Paulo Emílio Marqueza, Arcanjo Faustino Kambeu, João Joaquim Unhay e Júlio Razão.” Nomes conhecidos, que depois da independência de Moçambique viriam a sofrer ar agruras do regime totalitário da Frelimo. Arcanjo Faustino Kambeu, João Joaquim Unhay e Júlio Razão foram alguns dos moçambicanos que passaram por Nachingwea em 1975 para o «Julgamento Popular» que os conduziria a M’telela, já no interior de Moçambique na província do Niassa, onde seriam barbaramente assassinados, juntamente com Urias Simango, Joana Semião e vários outros por ordens do Bureau Político do Partido Frelimo, que corresponde hoje à Comissão Política do Comité Central. (Redacção)