Sabe-se hoje quem fabricou e enviou a bomba que vitimaria o presidente da FRELIMO. Terá sido Casimiro Monteiro, segundo acusação de Rosa Casaco167, secundado por Oscar Cardoso168. Mas ficamos sem saber quem informou a PIDE de que Mondlane encomendara uma «tradução francesa das Obras Escolhidas do célebre marxista russo George V. Plekhanov»169 e onde a encomendara. Sabe-se, apenas, que dificilmente se encontraria aquele autor e aquela versão linguística numa livraria portuguesa.
O inspector-adjunto da PIDE-DGS, Oscar Cardoso, tão parco noutro tipo de informações, tem neste caso o cuidado de afirmar que Casimiro Monteiro «teve a colaboração do chefe de segurança do Mondlane, o Joaquim Chissano, actual Presidente da República de Moçambique»170®. Tratar-se-á de uma provocação. Contudo, persiste a interrogação:
- Quem, dentre os elementos próximos do presidente e da direcção da FRELIMO, informou a PIDE?
O mais provável é que tenha sido Silvério Nungu, que adiante identificaremos. Nungu foi preso quando tentava fugir para Moçambique e teria morrido em resultado de uma greve da fome. A hipótese foi avançada pelo jornalista inglês David Martin, correspondente em Dar-es-Salam do jornal The Observer171. Uma coisa é certa. Tinha de ser alguém perto do presidente da FRELIMO. Mas voltaremos a falar de tudo isto no capítulo consagrado às operações, quando abordarmos mais em pormenor o assassínio de Eduardo Mondlane...
Tentemos, agora, fazer luz sobre o assassínio de Eduardo Mondlane, presidente da FRELIMO.
Na manhã do dia 3 de Fevereiro de 1969, em Dar-es-Salam, Eduardo Mondlane, presidente da FRELIMO, morre, quando abria uma encomenda armadilhada contendo «a tradução francesa das Obras Escolhidas do célebre marxista russo George V. Plekhanov»23. A explosão ter-lhe-ia decepado as mãos e separado o tronco em duas partes24.
Polícias e membros do regime lançam cortinas de fumo, tendentes a desviar a atenção dos verdadeiros criminosos:
O inspector Gomes Lopes, chefe da Subdelegação da PIDE/DGS na cidade da Beira, declara a um jornalista norte-americano: «Ou os russos planearam o assassinato ou se tratou duma engenhosa armadilha montada pêlos chineses»25.
O engenheiro Jorge Jardim, por seu lado, afirma que Hastings Banda, do Malawi, atribuíra a morte de Mondlane a «manobras dos agentes da China»26.
Finalmente, o professor Silva Cunha, membro dos Governos de Salazar e de Caetano, declara que ao regime interessava mais Mondlane do que Machel à frente da FRELIMO. A mesma versão seria avançada por António Vaz, chefe da delegação da PIDE em Moçambique, para quem Mondlane era o «menos mau»2'1.
Segundo Geoffrey Sawaya, chefe dos serviços secretos da Tanzânia, no livro bomba teria sido usado material explosivo fornecido por uma empresa japonesa à Casa Praff, sita no n° 5 da rua Joaquim Lapa, em Lourenço Marques. E a PIDE teria sido ajudada no seio da FRELIMO, por Lázaro Nkavandame e por Silvedo Nungu. Nungu fora secretário administrativo do Comité Central, eleito no 1° Congresso da FRELIMO, sendo igualmente assinalada a sua presença na Direcção do Departamento de Informação e Propaganda, ao lado de Pascoal Mucumbi28. Ao que parece, morreu na prisão em resultado duma greve da fome29.
O jornal The Observer, de 7 de Fevereiro de 1972, atribui à PIDE/DGS as responsabilidades pelo crime. E declara que a polícia tanzaniana tinha como suspeitos e colaboradores da polícia portuguesa Lázaro Nkavandame e Silvério Nungu, detido quando tentava fugir para Moçambique30.
O jornal The Sunday Times, num artigo publicado em 20 de Janeiro de 1975, refere, pela primeira vez, o envolvimento de Casimiro Monteiro no crime31.
A espionagem italiana do Servizio Informatione Difesa (SDI) atribuiu o crime a uma rede envolvendo a PIDE e a AGINTERPRESS, o engenheiro Jorge Jardim, Uria Simango e Robert Leroy, espião em Dar-es-Salam. O autor material teria sido Casimiro Monteiro32.
Segundo testemunho do chefe de redacção do Notícias da Beira, o engenheiro Jorge Jardim compareceu na redacção no dia do atentado (facto, ao que parece, inédito) e aguardou várias horas pela chegada duma «.importante notícia», precisamente a notícia do atentado que vitimou Eduardo Mondlane33.
O inspector Rosa Casaco, em entrevista ao Expresso, assegura:
«Quem montou a carta foi o Casimiro Monteiro, parece que a mando do António Fernandes
O próprio filho de Casimiro Monteiro, em testemunho prestado à RTP, afirma ter sido o pai quem esteve por detrás da não desvendada morte do então presidente da FRELIMO35.
Oscar Cardoso, antigo responsável da PIDE/DGS, declarou em entrevista publicada:
«A carta armadilhada, que provocou a morte de Eduardo Mondlane, foi preparada por Casimiro Monteiro, que era de facto um grande especialista em explosivos. Mas o Casimiro Monteiro não agiu sozinho, teve a colaboração do chefe de segurança de Mondlane, o Joaquim Chissano, actual Presidente da República de Moçambique»^
Descontada a previsível provocação de quem foi instrutor da RENAMO, fica mais uma confirmação do papel de Casimiro Monteiro no crime. De resto, também o antigo operacional da CIO rodesiana, Henrick Ellert, atribui o assassínio a Casimiro Monteiro37. E o falecido marechal Costa Gomes garantiu que «quem matou o Mondlanefoi a PIDE»^.
Assim, todos os dados carreados parecem suficientes para concluir da responsabilidade da PIDE/DGS no assassínio de Eduardo Mondlane. Afigura-se, também, indubitável ter sido Casimiro Monteiro o autor material do crime. Já os instigadores são mais difíceis de discernir, embora pareça claro ter havido intervenção do chefe da delegação António Vaz e do engenheiro Jorge Jardim.
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CUMPRIMENTOS SHASA.!
Se Ed. Mondlane chegasse à Independência provável que pouco depois ele pediria a demissão ou seria golpeado...e retomaria a sua carreira de diplomata na ONU e de docente em Syracusa University em NY - Antropologia) ...
As convulsões e atentados na busca pelo Poder ...São aspectos da evolução histórica do ser humano na sua desumanidade...aconteceu e acontece ainda na Europa, Américas e Ásia e acontece em África...é o processo histórico nem mais...
Mas Só + um detalhe : a política portuguesa colonial sempre foi cega, surda e muda e estava-se nas tintas de quem estava à frente dos movimentos se eram intelectuais moderados ou não... a PIDE era da estratégia de eliminação física dos dirigentes africanos libertários...da Guiné e Cabo Verde conseguiram eliminar Amilcar Cabral através de intrigas internas do PAIGC, de Angola falharam Agostinho Neto, atingiram o médico Boavida na zona leste...etc..etc...trata-se da Guerra Psicológica invisível braço poderoso da subversão...(ver meu artigo ...Uma Sela sem Estribos na República das Bananas? tem uma achega sobre guerra psicológica)...
só para a Frelimo foram enviados vários livros armadilhados com bombas para Mondlane, Samora, Uria Simango e Marcelino e não tinha nada a ver com essa história de moderado que Mondlane diz-se ter sido ... se o fosse no sentido que querem dar não estaria a dirigir um movimento armado e não teria no 2º congresso em Matchedge Niassa declarado além da luta anti colonial a luta contra a exploração do homem pelo homem da cartilha marxista...agora internamente ser um moderador não confundir com moderado...pois ele antes não tinha movimento era um arbitro apesar de certas simpatias pelo nacionalismo negro africano da UDENAMO tal qual Marcelimo dos Santos ainda que à posteriori decline (MS) falar desse seu período de militância...ao lado de Adelino Guambe 1º grande líder nacionalista Moçambicano em África antes de todos os outros...acarinhado desde Kuame Nkrumah(Ghana) , Nasser(Egipto) a Mao Tsé Tung (China)...ao contrário de Marcelino acarinhado pelo rei Hassan de Marrocos, por Georges Marchais do PCF e pela esquerda intelectual francesa e em 1960 a 1964 por Mao Tsé Tung e Chou En Lai... e Ho Chi Min (Vietnam) ...anteriormente desde os anos finais de 1959 a 60...
Daki a pouco já não sobra nada para o meu livro...heheheh...heheheh...bem esta exteriorização tem a ver porke se trata do saite do mecunha marandro F.Gil...caso contrário boca de síri..isto é silêncio...
E desculpem qualquer coisinha...como diz o outro ...aliás o outro sou eu...
Fuiiiiiiiiiiiiiiiiiiii ( estou atrasado tenho de continuar trabalhando na revisão de meus livros na gráfica)
Prezado ou prezada leitor/a, nem sei o verdadeiro nome é escrever para o invisível...enquanto "nosotros" damos a cara é por isso que não gosto de réplicas ainda que amigáveis..daí a corresponder-me em privado com muitos leitores via net mas por email devidamente identificados local,telefone, etc...assim dá gosto dialogar...não no vazio...mas enfim...o medo ainda reina...não se querem comprometer mas querem que outros se comprometam...enquanto batem palmas no cibercafé do Macua...
Todavia sem mais intróito vamos lá:
Cito o grande poeta chileno Pablo Neruda: (+ ou - assim de cor)..."Não li, não me disseram, acontece que nesse momento histórico eu vivi porque estava lá"...
De momento não posso adiantar mais do que desde 1997 tenho adiantado em Moçambique a sede própria...de corpo e alma... nos jornais Demos, Tempo, Savana, Mediafax, Vertical, Correio da Manhã - CM, Diário de Moçambique e ultimamente também no Autarca da Beira e no ZOL - Zambézia On Line e o Macua vai reproduzindo quando por bem entende...
Sobre este tema do assassinato do Prof. E.M que o conheci pessoalmente escrevi no Demos e Savana e CM com ampla repercussão em Moçambique com as pistas possíveis e não havia saites para no anonimato se escrever ...foi dando a cara e no terreno em Moçambique...um dia mais do que já foi escrito será revelado...e entretanto os disparates continuarão...exempli gratia...não foi o referido livro que alegadamente teria recebido E. M. mas sim um livro coreano de Kim Il Sung vindo via Japão e passando por Togo a Dar es Saalam...(dados da investigação da inglesa Scotland Yard a pedido de Julius Nyerere Presid. de Tanzania na altura) sei que querem colher nabos da púcara mas mais não digo se não perde-se a exclusividade...e outra coisa o caixão de chumbo foi selado e ninguém fotografou o corpo do malogrado não ficou separado pela cintura...e já falei demais...Claro Casimiro Monteiro o goês assassino da PIDE preparou uma das bombas enviadas com pilhas Hitachi referência da Casa Pfaff na rua do Notícias...o chefe do Casimiro tbm já morreu um Inspector algarvio que não digo o nome mas era o responsável pela anti-subversão...Antº Vaz era o director em Moçambique e um dia até conto com quem ele às quintas feiras a partir das 17 / 18 hrs...jogava o poker com whiskies no Hotel Polana...muitos vão -se admirar outros não...um dia conto...bem esse ex director da PIDE / DGS até bem pouco vivia em Oeiras linha de Cascais...Portugal...e Óscar Cardoso ex Pide nem tinha nada a aver com este assunto do atentado...estava em Lisboa...
Dos que pegaram o corpo do Presid. E.M logo após a sua morte...3 já morreram...e verificaram in loco o estado e o efeito da explosão...do dito livro...um dia conto ...um dia se viver até lá...mas não será para fomentar a curiosidade mórbida ..tudo na vida tem o seu timing...o seu tempo..a precipitação é mãe do fracasso ou da morte do artista...como o caso fomentando tanto disparate de Eduardo Mondlane ter recebido dinheiro da CIA colocando-o ao nível de Holden Roberto cunhado e subalterno de Joseph Mobuto nas ligações à CIA...
A figura de Eduardo Mondlane 1º diplomata sénior africano da ONU é elevada demais para ser rebaixada a um Holden Roberto...
Já me alonguei demais nem ia responder porque ainda não chegou a altura...já escrevi demais sobre o assunto...
Cordialmente
muana orripa João Craveirinha
Prefiro meter um ponto de interrogaçao neste assunto!
Teriamos tomado a mesma rota, se o Presidente Mondlane nao tivesse sido assassinado?
A quem mais fez comodo a sua morte? Aos portugueses, sendo Mondlane um moderado? Ou a outros que na ditadura, discriminaçao tinham um verdadeiro credo?
Sera tambem este para sempre um misterio!
Obrigado, cumprimentos!