Tuesday, April 30, 2013

Morreu general “Implacável” .

 

Lisboa – Faleceu na madrugada de sábado (27 de Abril), vitima de doença prolongada, numa unidade hospitalar em Luanda, o general Diógenes Malaquias, conhecido nas lideres militares por “Implacável”. O malogrado contava com 61 anos de idade.
Fonte: Club-k.net
ImageO general “Implacável” é notabilizado como um dos lendários da guerrilha da UNITA, organização que aderiu em 1975 e em 1993 foi promovido ao grau militar de general, e no ano seguinte ter sido nomeado a chefe da divisão de operações do Estado Maior General das FALA. A quando da tomada do Andulo pelas FAA, ele era o comandante da zona operacional das tropas de Jonas Savimbi, do Bié, com um efectivo estimado em 10 mil homens.
Renunciou ala militar de Savimbi, em Fevereiro de 2000 e ao entregar-se ao governo foi reintegrado nos Serviços de Inteligência da FAA. Foi ele, o oficial que as autoridades angolanas indicaram para que junto com o general Sachipengo “Nunda” deslocossem a região de Cassamba, Moxico, a 15 Março de 2002, para estabelecer os primeiros contactos, para a feitura da paz em Angola, com o então chefe da comissão de gestão da UNITA, general Lukamba Gato, após a morte de Jonas Savimbi.
Até a data da sua morte encontrava-se no desemprego. Faz parte do grupo de antigos oficiais oriundos da UNITA, que foram afastados, da secreta militar, pelo general José Maria. A sua partida prematura é o segundo caso, em um mês, de falecimento, de entre os generais que foram atirados a sua sorte pelo chefe dos serviços inteligencia e segurança militar das FAA. O primeiro a partir, foi o general Nascimento Salvador Vaz “Kafarov”, ex-chefe da Direcção Nacional de Inteligência Militar Estratégica que faleceu aos 27 Março do mês passado.

Parlamento é o club de vigaristas e malandros – Raul Dinis .



Malange – Acabamos de conhecer as manigâncias parlamentaristas das quais a nossa distraída oposição chama ou acha que é a democracia em acção!

Fonte: Club-k.net
Primeiro: Assistimos o parlamentar Adalberto Júnior choramingar afirmando ter-lhe sido vedado o direito de usar democraticamente os microfones da acintosa casa das leis totalitaristas. Depois vimo-lo novamente em discurso directo em conferência de imprensa falando para surdos gesticulando euforicamente com bruscos gestos para que os cegos o visualizassem, onde reclamava o que todos sabemos a mais de 33 anos.

Todos sabem excepto o Adalberto Júnior, que enquanto José Eduardo Dos Santos estiver no comando do país, só haverá democracia para a vendedora de ovos, e para os ricos que ainda não soma mais de cinquenta milhões nas suas contas bancárias.

O senhor Adalberto Júnior e seus pares na UNITA não podem nem devem continuar a vir em público falar sempre da mesmice, nós em Angola precisamos ver uma oposição que não continue a fraudar as nossas expectativas de confronto politico entre ela e o partido no poder.

Queremos ver uma oposição articulada, que saiba ouvir a voz do soberano e com ele partilhar concertações e entendimentos estratégicos que dê novo rumo na luta pela defesa dos angolanos e da nossa angolanidade. A nossa oposição nem sabe a quantas anda e comportasse da mesma maneira como o partido no poder, o que equivale a parecer-se igualmente a um autêntico verdugo do povo.

Segundo: O que a UNITA deveria começar por fazer, seria sair dessa letargia diversionista de discursos parasitário e partir para um mais abrangente tipo guerra política, dando a entender ao adversário de todos os angolanos que começara uma nova era e um novo posicionamento na forma de fazer politica até as próximas eleições autárquicas.

Só desse jeito o MPLA de JES entenderia o recado e com total certeza radicalizaria a sua posição levando-o ao descrédito total tanto dentro de nossas fronteiras como no exterior onde ele já substancialmente pontos de credibilidade politica. O que JES e sua trupe mais temem são a rua e o povo que nele habita sem esperança alguma de sair dela.

Angolanos das oposições à rua é o palco que futuramente a UNITA e toda oposição verdadeiramente interessada na luta pelo poder saberá e reconhecera que é a única via e que valerá a pena levar em conta para não ser contaminada com a artrite politica e para sair do marasmo e deixar de continuar a fazer o papel do faz de conta que é oposição quando na verdade não passa de uma marionete regulamentada pelo prazer e vontade de um criminoso internacional chamado Nandó, que sendo polícia politico repressor do regime ali foi colocado como atento vigilante dos movimentos das oposições, e como se sabe, JES sabe muito bem cobrar os favores que ele faz e por isso, Nandó terá que demonstrar serviço ao seu patrão mandando sinais claros ao ditador malandro que a UNITA esta sufocada.

Terceiro: É de lamentar que a UNITA esteja a ser comparada como a sua congénere opositora CASA-CE de Chivukuvuku, Miau e Tonet. Oposição que se prece não navega a custa e ao sabor dos ventos que o partido da situação lhe proporcione, a UNITA após ter somado pontos como verdadeiro opositor ao regime instalado, agora começa a sucumbir completamente vituperada pelo seu habitual carrasco o MPLA de JES!

A UNITA foi claramente notificada em off pelo MPLA que a seu modo o informou dando-lhe a conhecer que quem manda em Angola e no parlamento é o club de vigaristas e malandros comandados sinistramente pelo bandido JES.

Quarto:
A UNITA e toda demais oposição sabem que não existe espaço para fazer politica séria a partir da assembleia do povo disfarçada de parlamento casa da democracia nacional! O que essa oposição deve entender e perceber de uma vez por todas, que o MPLA apenas finge que faz parte de um processo democrático, pois na verdade não existe e nem o MPLA quer democracia alguma na terra que eles permanentemente dão a entender que é pertença deles, e que o país lhes fora deixado pelos seus familiares como herança.

Quinto:
Tenho pena, que o partido BD não reconheça que é preciso muito mais para sair do ostracismo que resignadamente decidiu fielmente nele permanecer por sentir-se incólume na guerra deflagrada silenciosamente pelo MPLA contra tudo e todos que de algum modo representem os valores democráticos por quem todos angolanos temos de uma maneira ou de outra temos lutado com as excepções do BD e a CASA-CE, Marcolino Moco dentre outros que preferiram aderir a outro tipo de permanecer na politica doméstica nacional como abrir caminho pela estrada da mediocridade sinuosa elitizando o seu posicionamento politiqueiro sem autenticidade que onere valorosamente novos caminhos da luta brilhantemente travada pelo povo angolano pela democratização do país.

Sexto:
Para terminar com chave de ferro, reclamo pela desatenção que se esta a dar as vilezas e perigosas ligações que existem entre PGR com bandido Helder Manuel Vieira Dias Kopelipa denominador constante da criminalidade do colarinho branco que se transformará num autêntico flagelo dentro e fora das nossas fronteiras.

É necessário e urgente estancar essa praga com estendidas manifestações de rua, e não permitir que ela se arraste a cresça cada vez como acontece e apenas continuadamente são criticadas com apaniguados discursos destorcidos de criticas ambulatórias constantes das oposições adormecidas no sono do tempo.

Por outro lado, as oposições revestidas das suas bangas nada fizeram até ao momento, que seja comprovado realce que encoraje o povo da necessidade da nossa presença reivindicadora nas ruas de todo país e em especial em Luanda. Enquanto não acontece, o comboio da desgraça continuará a fazer vitimas e só vai parará se por ventura o povo não for convocado a manifestar-se na linha férrea donde o comboio que transporta a nossa desgraça nacional se movimenta prazenteiramente quase quarenta anos ininterruptos.

Sétimo:
As oposições interessadas na mudança no país devem convocar todo povo para nos mantermos por cima dos carris da linha férrea com a finalidade de provocarmos o descarrilamento do comboio vaidoso do MPLA/JES vector significativo da nossa desgraça nacional.

Temos de juntar-nos corajosamente para nos manifestarmos valentemente e juntos reclamarmos os nossos direitos junto do ditador e do partido fascizante que governa ditadura há quase quarenta anos.

De contrário eles não respeitarão nunca os direitos do povo nem a oposições e por outro lado, o povo já de si descrente, não acreditará jamais que exista em Angola algum partido que o queira de facto liberta-lo das garras assassinas da ditadura. Por acaso essa deficiente oposição pensa em obter espaço para reivindicar eleições autárquicas com aleivosos discursos elaborados e malfadados feitos à pressa no parlamento do nada?

Aguardo competente réplica da parte das oposições, enquanto isso faço o meu acto de contrição, mas, eu reclamo.

M - 23 à vista em Angola ? - Vasco Mendes .



Luanda - No dia 4 de abril, Angola comemorou o 11˚ aniversário do alcance da paz com a assinatura do memorando do Luena. Apesar dos quase onze anos de paz, o problema da reinserção social dos ex-militares das extintas FALA e FAPLA continua e sem fim a vista.
Fonte: Club-k.net
Desde que cessaram os fragores das batalhas, muitos ex-militares continuam a não ter tratamento condigno, este facto foi manifestado por um grupo de oficiais superiores e subalternos das extintas Forças Militares da UNITA, reformados compulsivamente em 2002. Esses oficiais maioritariamente jovens (na casa dos 30 à 40 anos de idade), reclamam dos atrasos no pagamento das pensões, ausência de medicamentos nas farmácias das FAA, constragimentos na marcação de consultas, dificuldades no acesso as oportunidades de emprego e sobre tudo dos míseros valores que auferem como pensão de reforma se comparados com os de outros oficiais com a mesma patente.

Alegam que a sua reforma não é normal, pois tratou-se de um arranjo politica no interesse da paz, pelo que a introdução do factor idade na fórmula de cálculo das pensões de reforma para este caso, não faz sentido.

Por exemplo, um oficial Major na reforma, Artur Viegas agora com 40 anos de idade, chega a receber como pensão de reforma 53 mil kwanzas que nem é 1/5 do valor auferido por um Major no activo ou um Major reformado com idade própria. Existem ainda oficiais na reforma cujo a remuneração é igual ou inferior a de uma empregada domestica de um oficial da sua patente, situação que está a criar muita frustração e espírito de revolta.

Depoimentos de um, desmobilizado com a patente de Major que pediu anónimato, diz estar em curso desde finais do ano passado (2012) em todo o país, uma campanha de recolha de assinaturas com o objectivo primário de reclamarem junto da antiga troika nomeadamente, EUA, Rússia, Portugal e de outras organizações internacionais vocacionadas na resolução de conflitos, como ONU, União Europeia e União Africana, aquilo que consideram os incumprimentos das promessas feitas durante o processo de desmobilização que contribuíriam no fortalecimento da paz, evitando situações como as da República Democrática do Congo com o M-23, República Centro Africana, Moçambique, Guiné Bissau etc.

Um outro oficial Ten. Coronel e responsável do grupo, lamentou que “é doloroso e chocante ver oficiais que eram Tanquistas, da BATE (curso relacionado com explosivos), das armas anti-aéreas, artilheiros de BM-21, D-30, M - 46 ou antigos comandantes de unidades Regulares e Convencionais, como 1˚ ao 10˚ Batalhão Regular; brigadas Ben Ben, Kwamen Krumah, 3˚ de Agosto; 1ª e 2ª BIL, Composições Motorizadas etc, à receberem entre 15 mil à 70 mil kz, enquanto que o nosso governo tem contribuido anualmente com milhões de dólares para o orçamento geral de estado de São Tomé e Princípe, assim como gastaram outros tantos milhões na restruturação do exército da Guiné Bissau. Todos os anos dizem-nos que não há dinheiro, para reajustar as pensões ou para pagar aqueles que ainda não recebem entregues a sua sorte ou estando actualmente naquilo que o “velho Jonas” chamou de 4˚ Ramo, enquadramento de desmobilizados apenas em àreas como agricultura, pecuária e pesca, sem direito à pensão condigna”. Fim de citação

A pesar de tudo, afirmam ter esperança, pois acreditam que com a nomeação do novo elenco para a Caixa de Segurança Social e com o novo OGE, o problema de idade será ultrapassado para o bem de todos.

PR suspeito de ter entregue ao filho novo fundo para as Micro e Médias Empresas


Lisboa – Vozes criticas, em meios empresariais, suspeitam que o Presidente José Eduardo dos Santos terá colocado sob alçada indirecta do filho, José Filomeno dos Santos “Zenu”, o Fundo Activo de Capital de Risco Angolano (FACRA). Trata-se de um fundo público de capital de risco focado em apoiar as Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPME) angolanas na criação, inovação e expansão dos seus negócios em Angola.
Fonte: Club-k.net
Sob gestão da holding empresarial de Zenu
O referido fundo foi criado em 2012, por JES ao abrigo do Decreto Presidencial nº108/12 de 7 de Junho. A sua gestão foi entregue à Sociedade Kwanza Gestão de Participações, o braço empresarial de “Zenu” que tem como PCA, Alberto Mendes, um jovem apontado como gestor dos interesses empresarias do filho do PR e seu aliado na JMPLA. Alberto Mendes, filho do antigo do governador do Bengo, Isalino Mendes, é secretário nacional da JMPLA para a área de estudos e assuntos econômicos.

Para se ter acesso ao mesmo fundo, tem de se passar pelo Banco Kwanza, instituição bancaria ligada a Zenu dos Santos. O website da FACRA (http://www.facra-angola.com) confirma que para se beneficiar do citado fundo, requer-se de uma “Ficha de abertura de conta junto do Banco Kwanza Investimento devidamente preenchida e previamente aceite pelo serviço respectivo”.

A 11 de Agosto de 2012, o ministro da Economia, Abraão Gourgel, e o Banco de Investimento Kwanza formalizaram em Luanda, o arranque do Fundo Activo de Capital de Risco Angolano (FACRA), que conforme anunciaram estava destinado a financiar o programa “Angola Investe”, de desenvolvimento das micro, pequenas e médias empresas.

Na ocasião, Abraão Gourgel notou que o FACRA vai impulsionar capacidades de empreendedorismo e de negócios, participando activamente na gestão das Pme através do acesso a serviços profissionais de alto nível. De acordo com o mesmo até 2022, o impacto positivo do FACRA vai resultar num crescimento de mais de USD10 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB) e na criação de mais de 500 mil novos empregos, diversificando a economia.

Foi igualmente nesta ocasião que, Alberto Mendes, o ponta de lança de Zenu, explicou que a Sociedade Kwanza Gestão de Projectos Empresariais vai efectuar a gestão do fundo, estimulando a inovação e a competitividade nas pequenas empresas nacionais. “A gestão do fundo será feita pelo Banco Kwanza Investe, utilizando as melhores práticas internacionais, alinhada aos interesses do país”, realçou.

O FACRA, segundo o seu site, é um dos maiores Fundos de Capital de Risco presentes em África. Tem como objectivo apoiar as MPME em Angola e no continente Africano que procurem financiamento para desenvolverem grandes oportunidades, produtos, tecnologias inovadoras ou know-how necessários no mercado Angolano. FACRA oferece às MPME uma nova plataforma de financiamento e a oportunidade de explorar o vasto mercado Angolano, quer expandindo negócios existentes ou lançando novas iniciativas.

A angústia do nosso tempo e a crise da universidade (i)

 
Escrito por António Quadros

Avant-propos

Decorridos cerca de 40 anos da publicação do opúsculo de António Quadros, A angústia do nosso tempo e a crise da universidade (1956), eu próprio, contestando tudo e todos, passava pela Faculdade de Letras de Lisboa onde o positivismo, nomeadamente o alemão –Kant, Husserl, Feuerbach e Marx-, dominava no departamento em que a história da filosofia surgia segmentada em antiga, medieval, moderna e contemporânea. A máquina universitária continuava, pois, a enfermar dos mesmos vícios tão cuidadosamente descritos e apontados por António Quadros, como a entropia sociológica e uniformizadora do ser humano, o funcionalismo burocrático, rotineiro e amanuense do corpo docente, o sistema inquisitorial do esbirro judicativo ou do professor examinador inapto para aferir talentos e encaminhar vocações, ou ainda o preconceito didáctico consagrado por esquemas e modelos estrangeiros inibidores do mais original pensamento português.

De facto, António Quadros, sendo um literato, um escritor ou, se quisermos, um intelectual, propunha, incentivava e sugeria uma reforma da mentalidade que passasse por uma Universidade cujo núcleo dinamizador postulasse um Instituto Central de Cultura Superior destinado a um saber teorético actual, vivo e original capaz de vencer forças e tendências fragmentárias no que toca à situação concreta, quando não mesmo histórica da filosofia portuguesa. Enfim, uma ilusão do foro existencial, já que, na linha de pensadores como Unamuno, Ortega, Camus e Karl Jaspers, não era de todo indiferente a um positivismo do sentimento por contraponto ao positivismo do pensamento idealmente abstracto, vago e sem radicação espácio-temporal.

Não obstante, estamos em crer que António Quadros, íntima e paradoxalmente, sabia que a especulação filosófica, no que tem de verdadeiramente criador e imprevisível, não nasce em institutos de cultura nem, muito menos, se pauta por artigos de revistas eruditas e universitárias, ou até mesmo se limita a roteiros bibliográficos ou a trabalhos especializados de divulgação, crítica ou comentário do pensamento alheio. Ora, o mais que se pode esperar daUniversidade, no melhor dos casos, é somente o registo fóssil do pensamento pensado, que quase sempre se refracta e deforma porque reduzido a um condicionalismo textual, metodológico e pseudo-científico que molda estudantes e professores na busca do prestígio social e académico em detrimento da procura da Verdade.

O saber, de experiência feito, confirma pura e simplesmente que assim é. De facto, jamais deparei - palavra de honra - com um professor universitário que se revelasse filósofo, e, como tal, quedasse imune aos dogmas convencionais impróprios de uma inteligência densa, profunda e largamente intuitiva.

Faculdade das Tretas de Lisboa
Nas Faculdades de Letras, a «filosofia», entendida como produto ou manifestação departamental, equivale à revolta das Letrascontra o Espírito. Por outras palavras, a filosofia não é uma actividade de gabinete, isto é, não é susceptível de desenvoltura e recriação pneumática em gabinetes gélidos onde os estudantes ou os candidatos a profissionais da«filosofia» se prestam a exames, vexames ou até a interrogatórios quase policiais com a mera finalidade de passar à cadeira e, por conseguinte, obter o diploma de fim de curso. De resto, os profissionais em questão destinam-se, na sua maioria, a engrossar as fileiras de funcionários públicos do ensino médio, onde, caso consigam singrar, limitar-se-ão a inculcar aos adolescentes um programa curricular praticamente ditado pelas directrizes ideológicas de uma agência especializada das Nações Unidas, mais particularmente a UNESCO.

Todo este processo encontra-se minuciosamente explicado, detalhado e demonstrado numlivro publicado pelo autor destas linhas, intitulado Noemas de Filosofia Portuguesa: um estudo revelador de como a universidade é o maior inimigo da cultura lusíada. Na actualidade, não há quem tenha manifestado a ousadia de o fazer de uma forma assaz directa e elucidativa quanto aos aspectos verdadeiramente cruciais em jogo, uma vez que, o livro em questão, não só actualiza em altura, largura e profundidade o que, autores como António Quadros e Afonso Botelho, haviam parcialmente dito e diagnosticado sobre a falência moral e espiritual da Universidade, como ainda põe a nu a actividade antipatriótica perpetrada por uma instituição que tem permanecido praticamente incólume nas duas últimas centúrias.

Miguel Bruno Duarte


A crise da universidade

«Para os que gostam das catalogações analógicas, nós diríamos que Álvaro Ribeiro ocupa, em relação à cultura portuguesa, situação semelhante à que Karl Jaspers, o teorizador existencialista do «englobante» e da «fé filosófica» ocupa na actual cultura alemã...».

António Quadros («A angústia do nosso tempo e a crise da universidade»).


«A doutrina positiva é a doutrina do porto seguro, enquanto a doutrina existencial é a doutrina do naufrágio, da navis fracta. Entre esses extremos domina a virtude que corresponde à vocação dos Portugueses, a virtude do Infante de Sagres. A filosofia portuguesa, outrora referida a Aristóteles, ao actualizar-se no período em que está ameaçada pelo existencialismo, não necessita mais do que recorrer a Bergson para deixar de se apavorar perante o ídolo do nada, e de recorrer a Hegel para verificar como se supera a dúvida entre o ser e o não-ser».

Álvaro Ribeiro («Apologia e Filosofia»).


Ser homem é uma situação que se pode pois desenvolver em duas instâncias: a primeira corresponde ao interesse individual; a segunda, ao interesse universal. Na primeira, o homem fecha os olhos ao universo que o rodeia, vendo nele apenas os obstáculos a transpôr para a realização dos ideais egoístas; na segunda, o homem, depois de ter procurado atingir uma concepção do universo, busca fazer de si mesmo um elemento dinamizador desse universo, assumindo a responsabilidade do poder espiritual que lhe foi dado e que, no mundo, ele possui em mais elevado grau do que qualquer outro ser da criação.

Acredito que é na conjugação destas duas razões, a individual e a universal, e não no predomínio de uma sobre a outra, que conduz sempre a um misticismo pessoal, estatal ou religioso, em qualquer dos casos violentando a realidade física ou espiritual da natureza humana, que merece ser respeitada, embora guiada - acredito que é na conjugação destas duas razões, ia a dizer, que o homem pode transcender a crise de angústia, de perplexidade, de contínuo problematismo que vive - nesta idade à beira do extermínio, em consequência do desiquilíbrio entre o progresso dos meios materiais de destruição e o retrocesso dos meios espirituais de elevação.

O mundo medieval, de que não vou fazer a apologia, pois conheço-lhe as imperfeições e as insuficiências, logrou no entanto, nalguns períodos em que o rei, a nobreza, o clero e o povo souberam entender-se, unindo-se numa tarefa comum, conseguir uma atmosfera exemplar, em que cada um, entregando-se sem olhar para os lados, à sua função específica, contribuiu para o bem de todos os outros e para o progresso material e espiritual do homem.
Entre nós, temos o caso flagrante dos descobrimentos, que só foram possíveis porque reis, príncipes, cientistas, estudiosos, eclesiásticos, marinheiros, soldados e artífices, se tornaram harmoniosamente as peças complementares de uma empresa, à primeira vista vedada às possibilidades de um país pequeno, pobre e com poucos habitantes, e que no entanto, desenvolvendo-se ininterruptamente através de cinco reinados, cada geração e cada rei pegando no testemunho que os anteriores lhe passavam, resistiu com uma voluntariedade admirável, porque em escala nacional e secular, às contingências e aos infortúnios da política, das forças contrárias, das pressões externas, da própria inércia da rotina, do hábito, do tempo que gasta energias e consome entusiasmos.
Torre de Belém
Neste mundo medieval no que ele teve de melhor, a educação do homem realizava-se nas duas instâncias do interesse individual e do interesse universal que há pouco mencionámos: a primeira, correspondente à preparação profissional, tinha como esfera a corporação; a segunda, correspondente ao saber e à missão universal deste saber, tinha como esfera a universidade.

Não vamos historiar a evolução da universidade portuguesa desde esses tempos em que era formada, institucionalmente pela corporação dos estudantes, e culturalmente pela tradição aristotélica. O seu processo de transformação terá principiado com a fundação do Colégio das Artes, e com a difusão entre nós do espírito humanista que impregnava a Renascença italiana. Mas foi sem dúvida a entrada em Portugal, em períodos de menor consciência dos valores nacionais, de duas correntes filosóficas francesas, que lhe deu um rumo diferente da sua primitiva e tradicional substância. Rumo na verdade tão diferente, que dir-se-ia outra instituição, com certeza divergente e até antagónica desse rótulo amplo, ousado e de longo alcance que é a designação de universidade.

Na verdade, foram as reformas do Marquês de Pombal, convertendo a universidade portuguesa às novas ideias do iluminismo e do enciclopedismo, e a do Curso Superior de Letras de Lisboa, em 1870, amoldado por influência de Teófilo Braga ao positivismo de Augusto Comte, que conduziram a instituição universitária ao seu condicionalismo actual.

Proclamada a República em 1910, constituiram-se as Universidades de Lisboa e do Porto, que, sob o influxo da mesma orientação positivista, foram factores de muita importância nesta degenerescência do espírito universitário.
Afonso Botelho
Em que consiste, na verdade, esta Universidade, que um dos seus mais lúcidos e recentes críticos, Afonso Botelho, disse com razão dever chamar-se, mais propriamente «diversidade» do que «universidade?» (1). Sob a influência, por um lado, da crescente complexidade da vida contemporânea, exigindo uma cada vez mais intensa especialização profissional, e por outro lado, das ideias positivistas, proclamando a redução da filosofia ao saber fragmentado e desunido das ciências particulares, isto é, do saber espiritual ao saber material, a universidade tornou-se, pura e simplesmente, num aglomerado de escolas técnicas.

Estas escolas técnicas, visando quase exclusivamente a preparar o aluno para a profissão, realizam assim apenas uma das instâncias da educação do homem, a que nos referimos há pouco: a instância do interesse individual, independente de qualquer outra finalidade, princípio ou ideia. Quanto à segunda instância, a do interesse universal, em vão a podemos procurar na universidade profissionalista de hoje. Ela está ausente - e esta ausência dir-se-ia não ser reconhecida pela maioria dos professores que, emparedados no seu especialismo, não sentem a inquietação espiritual das gerações de estudantes que lhes passsam sob a cátedra. Inquietação espiritual que o liceu, com o seu enciclopedismo dispersivo, e que a idade liceal, menos dada à reflexão do que aos jogos e aos anseios da adolescência, não souberam ou não puderam resolver ou encaminhar. A chamada crise da universidade corresponde acima de tudo, quanto a mim, ao vazio deixado pelo desaparecimento das antigas funções culturais que lhe competiam. A Universidade abandonou a Verdade para servir a Utilidade.

Em face desta situação, rigidamente estabelecida, profundamente vinculada aos interesses pessoais de alunos e professores - ambos aprendendo e ensinando para viver, grande número dos que se debruçam sobre o problema, resolvem-no reconhecendo e admitindo a falência da universidade como formadora do saber, como integradora do homem numa existência transcendente à simples luta pelos bens materiais ou mesmo à mera afirmação de personalidade.

Formulando-a deste modo, a crise da universidade portuguesa é apenas um aspecto da crise da universidade europeia, afirmada e reconhecida pelos espíritos mais lúcidos do nosso tempo. Ortega y Gassett, já escrevia, em 1930: «Comparada com a medieval, a Universidade contemporânea complicou imensamente o ensino profissional que aquela proporcionava em germen, e acrescentou a investigação, abandonando quase por completo o ensino ou transmissão da cultura.

Isto representou, evidentemente, uma atrocidade, cujas funestas consequências, a Europa está agora a pagar. O carácter catastrófico da situação presente deve-se ao facto de o inglês médio, o francês médio, o alemão médio, serem incultos, não possuírem um sistema vital de ideias sobre o mundo e o homem correspondentes ao tempo. Esse personagem médio é o novo bárbaro, atrasado em relação à sua época, arcaico e primitivo em comparação com a terrível actualidade e data dos seus problemas. Este novo bárbaro é principalmente o profissional, mais sábio do que nunca, mas também mais inculto - o engenheiro, o médico, o advogado, o cientista» (2).

Benedetto Croce, o conhecido filósofo italiano que, como Ortega y Gassett, a Europa perdeu há pouco tempo, dizia há cinco anos a um escritor brasileiro que o foi entrevistar em Nápoles: «No melhor dos casos, o estudante excepcional sai dos bancos académicos munido apenas de instrumentos de pesquisa; apura o orgão para uma função posterior. E, se esta não tiver oportunidade, acaba por se atrofiar. Além disso, o verdadeiro saber, a Universidade é incapaz de o dar» (3).

Como quiseram resolver Ortega e Croce esta «importância cultural» da universidade moderna? Através de institutos extra-universitários de cultura. Ortega, juntamente com um pequeno núcleo excepcional de pensadores entre os quais é justo destacar Xavier Zubiri e Julian Marias, fundou em Madrid o «Instituto de Humanidades». Croce, que foi um dos criadores, em Itália, de um instituto correspondente, mas de orientação muito diversa, o «Instituto italiano dos estudos históricos», chegou a dizer: «Daí, a imperiosidade dos Institutos, que nestes últimos anos vêm surgindo nos centros mais densamente culturais do mundo. O curioso é que tais institutos como o de Jean Wahl em Paris ou o de Ortega em Madrid - surgiram sem uma prévia consulta: as condições universitárias hodiernas, absolutamente incapazes de atender aos reais anseios das autênticas vocações, acabaram por impor a nova fórmula de estudos, às vezes programaticamente paralela à Universidade, às vezes supletiva e, quase sempre, contraposta ao espírito universitário actual, que hoje naufraga no seu especialismo estéril e meramente propedêutico. Diante disto, não há a menor dúvida de que a crise universitária só será resolvida... fora da Universidade» (4).

Afigura-se-me que esta solução, correspondendo ao pensamento dos que defendem a inutilidade da salvação da universidade como tal, deixando-a confinada à sua tecnicidade, e transferindo os problemas da formação cultural e da universalização do saber para fora das suas portas, ignora ainda o nódulo da questão universitária. Abandonar a segunda instância da educação do homem aos sabores e caprichos comerciais da imprensa, da rádio, do cinema ou da televisão, à multiplicidade dispersa do movimento editorial, à irresponsabilidade filosófica de uma arte que se dirige pelas modas e que perdeu a ciência dos símbolos, ou ao pequeno grupo de mestres de élite que possam reunir-se em volta de um Instituto extra-universitário, que as exigências da vida moderna necessariamente obriga a ser escassamente frequentado - é no final de contas o mesmo. Um Instituto desses pode sem dúvida formar uma élite de altos espíritos, uma dezena de vocações para a cultura superior que de outro modo talvez não tivesse campo para se desenvolver. Vou mais longe: creio na utilidade e até na necessidade desses focos de alta cultura. Mas não lhes podemos pedir que formem gerações inteiras. E, nesta viagem em que todos estamos empenhados, a salvação não pode repousar apenas nos ombros de uma dúzia de intelectuais.
Por outro lado, tanto Croce, profundamente ligado ao idealismo trágico alemão, como Ortega, que promoveu a fusão de certos valores da cultura espanhola com as traves mestras das vias do pensamento germânico, como Jean Wahl, aliás um dos mais inteligentes representantes do existencialismo francês, como tantos outros teorizadores da cultura centro-europeia, acreditam que os mais altos cumes do esforço intelectual são a investigação da matéria e o exercício da razão pura, ou seja, as ciências e a metafísica. Mas as ciências, se podem analisar a composição dos corpos, nada nos dizem sobre as causas e os fins da própria existência do homem e do mundo; e a metafísica, mesmo quando esgotasse toda a capacidade da razão humana, não nos levaria mais longe no plano ético do que aquela situação existencial de angústia, de náusea, de lúcida perplexidade, de lógico desespero, de dialéctica do ser e do nada de que falámos ao princípio destas considerações.

Não é senão natural, por conseguinte, que os mais profundos teorizadores da nossa universidade, pensando-a a partir dos conceitos próprios da filosofia portuguesa, se afastem da metodologia proposta pelos pensadores franceses, alemães, espanhóis ou italianos. Não me é possível aceitar que a educação superior fique sujeita à dispersão, à multiplicidade, ao jogo caótico de jornais de todas as índoles, livros de todos os géneros, expressões publicitárias de todas as intenções, tendo no cume um instituto para uso exclusivo de élites intelectuais - o que teria de equivaler não só a uma aristocratização cultural, como a uma entronização do saber puro.

Porque é finalista, porque crê que o conhecer, o sentir e o agir devem andar sempre indissoluvelmente ligados, para que a nau possa efectivamente navegar, em vez de permanecer parada, afundando-se, enquanto o capitão e os oficiais examinam as estrelas ao telescópio - o pensamento português defende que a educação verdadeira não é apenas transmissão de saber, mesmo superior, como o querem Ortega e Croce, é igualmente formação de sensibilidade, pela arte, e da vontade, pela adequação do acto à ideia. A responsabilidade cultural da Universidade não pode, por conseguinte, ser adiada ou transposta para outros campos. Não é desejável que seja criado um abismo demasiado profundo entre os filósofos e cientistas, de um lado, formando-se fora da Universidade, entregues exclusivamente a problemas racionais e materiais de conhecimento - e os técnicos, do outro lado, cada um dedicado à sua parcela profissional, restrita e desligada do conjunto. Pelo contrário - parece-me que a boa doutrina consistiria em unir, comunicando-lhes por igual uma visão unívoca do universo, que lhes dê consciência da posição relativa e da função superior da respectiva técnica, profissão ou especialização, filósofos e cientistas - engenheiros, arquitectos, advogados, professores, médicos ou economistas.
Perfil de Leonardo Coimbra
Leonardo Coimbra, um dos fundadores da filosofia portuguesa, que na desaparecida Faculdade de Letras do Porto formou toda uma geração de pensadores que ocupam hoje um relevante lugar na vida cultural do nosso país, foi dos primeiros a defender um conceito dinâmico de cultura, quando afirmou que o «fim da educação é a cultura nacional-humana» (5), e que «educar é cultivar as liberdades criadoras da cultura nacional-humana» (6). Por outras palavras, educar não será unicamente desenvolver a inteligência do educando ou transmitir-lhe conhecimentos - será também fazer de cada educando, a peça essencial de uma pátria em movimento de ascensão. Não é mais educado, neste sentido, o grande sábio que se recolhe egoistamente na sua torre de marfim, do que o trabalhador rural rude e analfabeto.

Álvaro Ribeiro, discípulo de Leonardo Coimbra, ampliou os conceitos do mestre, propondo um sistema universitário em que a cada Faculdade seja dado um grau de responsabilidade cultural superior ao que existe actualmente, seja pela criação de disciplinas teoréticas, especialmente adequadas às matérias constantes do programa, seja pelo progresso da relação mestre-discípulo, relação quase desaparecida do ensino universitário, seja pela diversificação e enriquecimento dos tipos de ensino. No cume do sistema universitário, ficaria colocada a Faculdade de Filosofia, à qual competiria a «centralização das experiências pedagógicas e das investigações filosóficas que, pelas suas características perturbadoras, afectam a normalidade das outras escolas»; nela se reflectiria, «dinâmica e vivente», afirma o autor de «Apologia e Filosofia», «a unidade da cultura nacional» (7).

O ensino da filosofia está hoje, como se sabe, entregue à Faculdade de Letras, instituição que reúne vários Cursos díspares, desde o de Filologia Clássica ao de Ciências Históricas e Filosóficas. Uma Faculdade de Filosofia teria necessariamente que sair de uma reforma da Faculdade de Letras, separando a Filologia da História e esta da Filosofia. Mas semelhante divisão, que não deixaria de ser benéfica, acrescente-se, conservaria possivelmente a estrutura do ensino da filosofia tal como ali é praticado actualmente. Neste aspecto, o núcleo teorético da Faculdade de Letras está longe, muito longe mesmo de poder assumir o papel de promotor e activador da «unidade da cultura nacional».

Um ensino de feição positivista, historicista, indiferente aos valores específicos da cultura portuguesa, limitando-se a transmitir sínteses históricas de correntes estrangeiras, nivela-se ao das escolas de especialização profissional, usando os mesmos processos para o desenvolvimento espiritual do aluno que usam as faculdades de medicina ou engenharia para a aptidão técnica dos seus licenciados. Para obter a licenciatura, o aluno do actual curso de Ciências Históricas e Filosóficas não tem que saber pensar, sentir ou agir - apenas aprender de memória as noções históricas de compêndio, que encerram em meia dúzia de frases, os pensamentos de Descartes, Kant ou Espinosa. Na realidade, este curso pode ser considerado, no condicionalismo já descrito no capítulo anterior, simplesmente como outra escola técnica (in «A angústia do nosso tempo e a crise da universidade», Cidade Nova, 1956, pp. 121-132).

Notas:

(1) Afonso Botelho, O Drama do Universitário, Lisboa, 1955.

(2) Ortega y Gassett, Mission de la universidad, Madrid.

(3) In Acto, n.º 1, Lisboa, 1951. Entrevista de Luís Washington.

(4) In Acto, n.º 2, Lisboa, 1952. Entrevista de Luís Washington.

(5) Leonardo Coimbra, O Problema da Educação Nacional, Porto, 1926.

(6) Ob. cit.

(7) Álvaro Ribeiro, O Problema da Filosofia Portuguesa, Lisboa, 1943.

Continua

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SOBRE REGIÃO INTRANQUILA

 

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Sergio_vieira_savanaCom a liquidação de Savimbi em 2002, faz pois onze anos, terminaram as guerras na região sul do nosso continente. Angola sofreu a guerra de colonial e as agressões entre 1961 e 2002, quarenta e um anos de sofrimento. Nós padecemos das agressões entre 1964 e 1992, vinte e oito anos. Removido o colonialismo e o apartheid necessariamente que o banditismo em Angola e Moçambique caía rapidamente. Em Angola o comércio dos diamantes de sangue prolongou os sonhos megalomaníacos de Savimbi.

 
Estaremos porventura tranquilos? Não corremos o risco de que novos conflitos nos venham assombrar, importados das tempestades em países vizinhos ou, atiçados internamente por ambições mesquinhas apoiadas pelos interesses néo-colonialistas? Podemos dormir tranquilos, sem sofrer o medo de mortandades e destruições, perdermos entes queridos e os bens que, embora parcos, tanto nos custaram a criar? O nosso psicopata local sempre que necessita de dinheiro faz ameaças e comete crimes, recentemente aconteceu isso.
 
Na região da SADC está longe o fim do conflito no Congo (K), muito embora a assinatura recente em Addis Abeba do acordo de paz, testemunhado por Chefes de Estado, incluindo o nosso, e pelo Secretário-Geral das Nações Unidas. Tudo que acontece no Congo (K) afecta Angola, refugiados, negócios sujos de contrabando de armas, diamantes, etc. A Zâmbia, também vizinha e membro da SADC não sofrerá menos consequências.
 
A própria Zâmbia testemunha represálias políticas e policiais contra antigos Chefes de Estado. Quem se encontra em exercício teme o seu predecessor e receia que o seu sucessor lhe pague com moeda igual. Inclusive o Presidente Keneth Kaunda sofreu nas mãos de sucessores, embora a ele se deva a proclamação da independência nacional. Até lhe pretenderam negar a qualidade de zambiano! Estas rivalidades e mesquinhices políticas nunca auguram futuros promissores. A ausência de Cultura de Estado cria danos ao tecido político, social e económico de qualquer país, por vezes irreparáveis.
 
O Malawi, onde desmoronou a tirania de Hastings Banda quando perdidos os apoios do colonialismo português e do apartheid, não vive um clima mais promissor. A instabilidade, as negociatas de Mutharika deixaram um legado pesado à Senhora Joyce Banda, sucessora constitucional indesejada pelo clã do predecessor. A descoberta de hidrocarbonetos no Lago Niassa (cujo nome e contra as normas internacionais o velho ditador unilateralmente alterou) está a suscitar um conflito com a Tanzânia vizinha. Uma comissão de três antigos Chefes de Estado, Chissano de Moçambique, Mbeki da África do Sul e Mogae do Botsuana, vai mediar o conflito.
 
Ainda antes do início dos trabalhos o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Malawi declarou que caso o seu país não concordar com os resultados da arbitragem, irá recorrer ao Tribunal de Haia. Péssimo prenúncio para os trabalhos, quando um jogador declara de antemão que se perder acusa os árbitros e recorrerá do resultado.A Senhora Joyce Banda pediu aos EUA barcos militares para o Lago!!! Por onde passarão esses barcos para chegarem ao Lago Niassa?
 
Ao nosso lado na Suazilândia e do outro lado do Canal, em Madagáscar, muito está por resolver. Os golpistas em Antananarivo fazem tudo para se manterem no poder. No reino vizinho assolado pela crise económica, com salários atrasados, greves e mais greves, a família real continua a dar um exemplo de opulência e gastos o que facilmente suscita explosões sociais que se repercutem nos vizinhos, nós e África do Sul. Afluem refugiados, existem laços familiares dos dois lados das fronteiras. A África do Sul exporta violência e crime organizado. A criação de uma dúzia de bilionários negros e o fim da segregação racial nos locais públicos não pôs termo à iniquidade herdada e prevalecente.
 
As greves e assassinato de mineiros, as ocupações de terras, as revoltas de trabalhadores agrícolas conjugadas com uma cultura endémica de violência preparam a carga explosiva combinada com o detonador de aberrações populistas, efeito das pilhagens, de mortandades e do desfazer da integração nacional. Algo sobra para nós! Parafraseando os nossos amigos mexicanos que lamentam a proximidade dos Estados Unidos e o longínquo onde se encontra Deus, há que dizer, tão perto da África do Sul e tão longe de Deus!
 
Nada nos ameaça do lado tanzaniano, nada se testemunha lá algo que possa inquietar-nos, salvo os surtos fundamentalistas que matam gente inocente e que, cedo tarde podem chegar à nossa terra, com tão pouco controlo que fazemos desses inúmeros imigrantes e missionários de todas as espécies e feitios que nos vêm ensinar a rezar e odiar o próximo. Descontentamento e instabilidade existem entre nós, suscitados pelo agravamento do fosso entre os muito ricos e muito pobres, entre competentes e incompetentes diplomados, causados pelas ambições que procuram promover o tribalismo, racismo e regionalismo. A vigilância e trabalho sério constituem os únicos antídotos. Um abraço à promoção dos antídotos.
 
Sérgio Vieira
 
P.S. A banca iniciou-se muito antes de haver energia elétrica, telefones, telex e fax. Funcionava. Da independência para cá relacionávamo-nos com todo o sistema financeiro mundial via telex e fax. Recentemente surgiram a internet e os sistemas! Fora do sistema, sem sistema fazem parte dos códigos que nos desesperam, nos impedem de levantar dinheiro, fazer um pagamento, depositar valores.
 
Não pode a banca, a LAM e outros serviços recorrerem às velhas alternativas do telex, do fax, do imprimir diariamente os valores das diferentes contas, as tabelas de voo e de passageiros para que em caso de avaria se dê uma informação à dependência, à filial? Porquê sacrificar o desgraçado do cliente? Quem compensa o cliente pelo incómodo, pelo atraso, sabendo bem que a banca, a LAM, as Finanças, todos penalizam pelos atrasos? Grandes senhores, ouçam os clamores das vítimas e para isso o meu abraço,
 
SV
 
Re. P.S. Parece que há campanhas numa comunicação social que se diz independente (de quem? Dos que lhe pagam?) contra vários candidatos à CNE. Porquê? Devido à independência? Porque omitem quem financia a candidatura de A ou B? Pela honestidade, um abraço.
 
SV
 
JORNAL DOMINGO – 28.04.2013

Novo olhar da Europa para “rebeldes chechenos”: Voz da Rússia

30.04.2013, 15:28, hora de Moscou
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Dusan Kerny

A filha do publicista eslovaco Dusan Kerny, que participa regularmente de maratonas em diferentes países, não viajou em abril para Boston por pura casualidade.

O pai pensa com pavor no que poderia acontecer, se não fosse assim: “O terrorismo internacional não é um fantasma. Vemos cada vez mais frequentemente a sua imagem”. Dusan Kerny recorda neste contexto a Linha Direta de Vladimir Putin com cidadãos russos:
“Os eslovacos deram atenção ao apelo direto de Vladimir Putin a conjugar esforços da Rússia e dos EUA na luta contra o terrorismo internacional. A meu ver, desta contraposição ao mal universal devem participar também a Europa e todos os países interessados. A Eslováquia foi chocada pelo atentado terrorista em Boston, em primeiro lugar porque um evento esportivo maciço foi eleito como alvo do crime”.
Os terroristas são chechenos. À primeira vista, estas pessoas deveriam ser felizes e gratas aos Estados Unidos, onde, de fato, obtiveram uma segunda pátria. Tiveram tudo para uma vida feliz. Mas voltaram para o Daguestão, para impregnar ideias do islão radical… Dusan Kerny destaca:
“Sentimos de repente que não somos protegidos na Europa. Ao lado de nós, uma grande comunidade de 20 mil chechenos vive na Áustria vizinha, país com que não temos nem uma fronteira administrativa. Não é segredo que muitos jovens chechenos vão de lá para a Síria, completando fileiras de islamitas radicais. Como podemos opor-nos a isso? Penso que não existe uma alternativa à proposta de Vladimir Putin de conjugar esforços em nome de segurança geral”.
Entretanto, trata-se de ações bastante concretas. Serviços especiais da Rússia comunicaram aos parceiros americanos que é necessário prestar atenção aos irmãos Tsarnaev. Americanos não reagiram a esta advertência. Na opinião de Dusan Kerny, nas relações entre dois países há elementos de desconfiança recíproca:
“A meu ver, no contexto destes acontecimentos, a Rússia e os Estados Unidos devem superar a tensão nas relações bilaterais. É necessário cooperar a exemplo da operação militar no Afeganistão. Todos devemos tirar lição da tragédia em Boston. Algumas mudanças já acontecem, mas, contudo, só ao nível de consciência. Quando se tornou conhecido que os terroristas de Boston são chechenos, a atitude da imprensa para com eles foi inicialmente bastante branda. Coitados dos chechenos!”.
Mas isso passou rapidamente logo após o irmão mais novo sobrevivente ter declarado: tivemos vontade de vingar o Afeganistão. Mas no Afeganistão morrem permanentemente soldados da missão militar, inclusive da Eslováquia. Há mais um aspeto adicional da tragédia de Boston:
“Compreendemos finalmente que há muito tempo que os russos são pressionados pela ameaça permanente de atentados terroristas. Agora entende-se melhor a preocupação dos russos pela realização bem-sucedida da Olimpíade de Sochi. Os Jogos também podem ser alvejados por criminosos. Eu, pessoalmente, experimentei o que é um ato terrorista. Trabalhando em Moscou como correspondente, vivi no centro da cidade, não longe do hotel National. Perto do hotel, uma terrorista suicida detonou seu cinturão de explosivos. Houve também um caso, quando um agente do FSB, de 27 anos, morreu ao neutralizar uma bomba, deixando órfãos seus dois filhos”.
Um sentimento de ameaça próxima, referido por Dusan Kerny, não é infundado. Agências noticiosas comunicam da Bratislava que a polícia descobriu na cidade dois esconderijos de armas e explosivos. O arsenal pertencia a um agrupamento criminoso, cuja origem étnica não é divulgada.

Ataque químico é prólogo de uma grande guerra: Voz da Rússia

30.04.2013, 14:07, hora de Moscou
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síria, armas químicas
© Colagem: Voz da Rússia

Dúvidas sobre o uso na Síria de agentes químicos de guerra atormentam os altos funcionários dos países da OTAN. O próprio fato de discussões sobre o tema de armas químicas sírias é um sintoma de uma iminente guerra em grande escala que está chegando à região, alertam especialistas.

O governo e autoridades competentes francesas ainda não receberam provas de que as partes em conflito na Síria têm usado armas químicas. “Nós não temos certeza nenhuma. Há dados providenciados pelos britânicos e norte-americanos, nós estamos agora a verificá-los”, disse na segunda-feira o ministro das Relações Exteriores francês Laurent Fabius através da emissora de rádio Europe 1.
No entanto, a escalada do conflito na Síria já foi tão longe e tomou formas tão sofisticadas que não podemos excluir nenhum cenário, acredita o especialista do Instituto Russo de Estudos Estratégicos, Azhdar Kurtov:
“Geralmente, se em tais condições não se consegue a vitória de uma parte ou outra, muitas vezes as partes recorrem a meios de influencia mais fortes. Ou seja, inclusive a armas mais letais. Eu acredito que não há razões suficientes para acusar o governo de Bashar Assad de uso de armas de destruição em massa, particularmente de armas químicas. Há uma lógica simples: contra este país já está lançada uma campanha internacional por parte de vários estados líderes mundiais, e o uso de armas por parte do governo de Assad só daría um pretexto para uma intervenção militar aberta. Afinal, Bashar Assad não é um suicida para agir desta forma. Portanto, eu tendo a acreditar que essas armas poderiam ter sido usadas pelos rebeldes.”
No entanto, nos EUA já se fala de que a Síria cruzou a fatídica “linha vermelha” que a Casa Branca definiu para o regime de Bashar Assad. Esta linha, como já disse várias vezes o presidente dos EUA Barack Obama, seria o fato de qualquer uso de armas químicas na Síria. Washington aumentou o volume de sua chamada assistência não-letal à oposição síria, enviou para a vizinha Jordânia 200 especialistas de inteligência e condução de operações especiais, e pretende deslocar para lá uma divisão de blindados e sistemas de defesa aérea Patriot. O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, disse recentemente que a administração “não rejeita nenhuma opção” de influenciar Damasco. Normalmente, esta expressão é utilizada nos EUA para referir a possibilidade de guerra, ou, pelo menos, de bombardeamentos desde o ar. São evidentes todos os sinais de preparação para a implementação na Síria do “roteiro líbio”.
Primeiro de tudo, uma eventual operação contra a Síria será apoiada pelo Reino Unido e a França, supõe Azhdar Kurtov. Também é possível o cenário de uma tentativa de realizar uma intervenção militar pelas mãos das monarquias conservadoras do Golfo Pérsico, Arábia Saudita e Catar. Talvez eles irão organizar uma invasão pelas forças de mercenários comprados com os enormes fundos que já foram investidos em desestabilizar a situação no Oriente Médio, acredita o perito. Segundo ele, os adversários de Bashar Assad procuram eliminar o seu regime como uma condição, indispensável de seu ponto de vista, para o início de uma agressão militar aberta contra o principal aliado da Síria – o Irã.
O desenvolvimento da situação em torno da Síria é improvável de repetir os acontecimentos na Líbia ou no Iraque, e em qualquer caso este será um novo cenário, acredita o presidente do Instituto do Oriente Médio Evgueny Satanovsky. Mas os escaramuçadores de todas as ideias de intervenção do exterior na guerra civil da Síria são a Arábia Saudita, o Catar e a Turquia, disse ele à Voz da Rússia:
“Os ataques contra depósitos de armas químicas ou contra grupos de militantes, se eles começarem a obter armas químicas, serão provavelmente realizados por americanos ou israelenses, envolvendo forças aéreas britânicas ou francesas. O Ocidente, neste caso, é o cão que está sendo abanado pela cauda em forma de Doha, Riade e Ancara. Assad terá o apoio do Irã e, em menor medida, de Hezbollah, para o qual será suficiente manter posições no Líbano. No Oriente Médio tudo pode se transformar numa guerra regional, mas vamos entender que estamos caminhando para uma grande guerra com o Irã. E um ataque contra a Síria, se isso acontecer, será o primeiro arauto do início dessa campanha militar.”
É evidente que para o Ocidente a derrubada do governo em Damasco tornou-se uma questão de honra. O regime de Bashar Assad mantêm-se já durante dois anos, e isso é inaceitável para as potências ocidentais. E nem sequer se trata dos benefícios da posição geográfica ou geopolítica da Síria. A vitória ou uma campanha militar bem sucedida aqui permitirão, pelo menos até certo ponto, compensar o fato de que no Afeganistão a OTAN e os Estados Unidos de facto foram derrotados.