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Há pouco mais de uma década, Paulo Jonas de Lima Piva, um conceituado professor brasileiro doutorado em Filosofia, escreveu um artigo de opinião intitulado _*«Pedantismo, doença infantil do estudante de Filosofia», que descreve muito bem a atitude dos caloiros dos cursos de Filosofia e até de alguns docentes!*_
Nisto, inspirados no texto do professor Paulo Jonas de Lima Piva, decidimos produzir o presente texto, o qual, por razões de oportunidade e conveniência, decidimos intitular _*«Arrogância como doença infantil do Estudante de Direito»*_ para, em breves linhas, descrever algumas atitudes típicas do estudante de Direito.
Claro, antes de mais, é preciso referir que nem todos os estudantes dos cursos de Direito portam-se como tal. Entretanto, pelo menos a nível do nosso solo pátrio, a realidade revelam-nos que muitos dos estudantes ingressos aos cursos de Direito nas nossas universidades, são tendencionalmente arrogantes.
Como o estudante de Direito encara o Direito:
Tal como sucede com o estudante de Filosofia, parafraseando o professor Paulo Jonas de Lima Piva, os estudantes ingressos aos cursos de Direito entendem o Direito como algo semelhante à religião. Estes olham para a ciência jurídica como uma fonte de verdades absolutas e de modelos correctos do dever ser.
Consta que, na sua concepção, as nossas universidades e institutos superiores, não podiam oferecer melhores cursos senão os cursos de Direito. Para eles, o Direito é curso superior mais privilegiado e importante que os demais: enquanto o Direito é o curso, os demais cursos são, na verdade, recursos.
O curso de Direito enche os seus formandos de orgulho, tornando-os arrogantes quando se envolvem em discussões com os outros colegas da Universidade que não sejam cursantes daquele. O estudante de Direito descredibiliza as teorias históricas, filosóficas e etc., invocando prevalência da lei sobre aquelas.
A arrogância do Estudante de Direito:
Em todas as frentes de debate, o estudante de Direito quer explicar tudo com base naquilo que está expressamente previsto na lei. As opiniões, pareceres e abordagens dos seus interlocutores serão sempre inválidas, na medida em que não subjazem da lei. O Direito torna o estudante _*«quadrado e arrogante»!*_
Os mesmos estudantes, após visitarem alguns dispositivos jurídicos, ainda nos primeiros meses de aulas, já se sentem capazes de trabalharem como profissionais do Direito, e mais, acham-se preparados o suficiente para tentar destruir a reputação de alguns dos seus docentes, muitas vezes, com larga estrada.
E porque muitos dos estudantes de Direito acorrem às universidades para fazerem o curso por encomenda dos seus pais e encarregados de educação que, por seu turno, são ou não conceituados juristas da nossa praça, acreditam que os manuais que leem são os melhores mesmo que os da biblioteca.
Quando se aproximam das vésperas de apresentação dos projectos de trabalhos de licenciatura, os estudantes arrogantes costumam bajular alguns céleres docentes das Faculdades para que sejam seus docentes, criando uma espécie de hierarquização: _*"meu supervisor é o melhor da nossa Faculdade!»*_
Nos debates pelas redes sociais, desmerecem e desqualificam todas as opiniões dos seus interlocutores em nome dos princípios que norteiam o Direito. Confundem a ciência jurídica com o primado da lei. Ridicularizam as abordagens de juristas formados em instituições entendidas como de pouco crédito.
Gozam com os estudantes cursantes das outras áreas de formação, chegando a afirmar que as mesmas para além de apresentarem pouca relevância social são, igualmente, órfãs de mercado de emprego no país. Os visados revelam orgulho e arrogância quando leem, falam, escrevem e mesmo quando andam.
Considerações finais:
Muito podíamos ainda dizer, mas por razões de economia do tempo para a leitura, não vamos alongar. Nisto, acreditamos que face a arrogância, misturada com o orgulho, que muito caracteriza os estudantes de Direito, algo devia ser feito para limar esse mal que abunda entre as nossas universidades e institutos.
É preciso respeitar as escolhas alheias, entendo que todos os cursos são importantes, mas claro, cada um à sua maneira, e que todas as formas de saber, juntas, constituem um único património sócio-cultural da humanidade, não existindo, por via disso, qualquer forma de hierarquização dos saberes científicos.
Contudo, nalguns casos, é preciso admitir que os principais impulsionadores destas atitudes por parte dos estudantes têm sido os seus próprios docentes que, muitas vezes, durantes as aulas, se dirigem com certa arrogância àqueles, chegando mesmo a humilha-los face à sua ignorância jurídica. Claro, um mau exemplo.
A academia claramente que se faz com humildade.
Bem-haja Moçambique, nossa pátria de heróis!