Não podemos viver numa democracia periclitante, sempre no epicentro de um terramoto político, ameaçando o seu normal funcionamento.Se foi a democracia o trilho escolhido, porque então questionar, e não preocupados na sua consolidação?.
Um líder da oposição que diz à boca cheia que as eleições presidenciais foram uma fraude, quando todos os partidos estiveram presentes na gestão eleitoral,está mentir.Só se é democrata quando se respeita o poder constituído, e quando uma organização neste caso a Renamo, abandonar a ideia de usar a sua milícia armada herdada do AGP, para determinar o timing político de chantagem ao governo, à democracia, e ao povo.E há uma idiocracia maior do que tentar alterar as regras do jogo democrático por o resultado eleitoral não ser o almejado?Ou tentar chantagear o presidente da República, com uma revolta popular ou derrube do seu governo, caso este não obrigue os deputados do seu partido no parlamento a votarem favoravelmente a sua ideia de provincias autónomas.Afonso Dlhakama definitivamente não parece bater bem da bola.Ameaçar por duas vezes o Chefe de Estado, que é o mais importante representante do país e quem mantém a continuidade e a legitimidade do Estado, exigindo que este interceda num outro orgão de soberania que se pretende soberano.Mas Dlhakama já nem se importa de ficar mal na fotografia.Ele sabe que não deve nada a beleza natural, não pode mudar a sua aparência e muito menos a interna que o consome até a medula.
Por um punhado de razões nunca devemos ceder ao mundo de conflitos de interesses inconfessáveis, corporizadode Afonso Dlhakama e dos seus seguidores.Ele nunca foi um homem de palavra.Veja-se o caso da missão da Equipa Militar de Observadores para a Cessação das Hostilidades Militares (EMOCHM), que termina dentro de uma semana. Estamos quase no fim do mandato de 135 dias sem resultados efectivos naquilo que é a sua principal missão, nomeadamente a desmilitarização da ala armada da Renamo.
E qual a base política e legal em tentar fragmentar Moçambique, transformando-o em regiões étnico-tribais, consagradas como feudo políticos e económicos de um partido político?O meu falecido pai era de Quelimane e toda a família paterna originária da capital da província da Zambézia.Pelo passado nacionalista da família nunca votariam na Renamo, e muito menos num tribalista como Afonso Dlhakama.E que dizer dos vários distritos da Zambézia onde o partido Frelimo obteve maior expressão eleitoral?
Para a não deturpação da integridade político democrática e em nome da volatilidade eleitoral, julgo ser um dever a preservação da corrente ordenamento territorial.E quem me garante se nas próximas eleições a Renamo vai manter maioria eleitoral, expressa na Zambézia?Se perdesse deixaria de ser uma província autónoma?De lembrar que há 5 anos Guebuza havia também obtido uma maioria eleitoral na província de Tete.Elevar o poder autárquico as províncias e eliminar os governadores provinciais para acomodar o desiderato de Dlhakama é simplesmente uma aberração, e uma afronta à ordem constitucional.Não é essa via da reforma do estado, nem a via de desenvolvimento desejada.
Olho sempre com cepticismo a ideia de Moçambique viver ciclicamente um conflito político, por considerar tratar-se de um jogo ardiloso de artimanhas recorrentes do mesmo actor político, empenhado em ensombar ideológicamente o cenário político.Manter a democracia prisioneira de uma ameaça étnico tribal é simplesmente inaceitável, ao mesmo tempo uma demonstração de tremenda vulnerabilidade institucional de lidar com o desafio.Tudo quanto sabemos não existe um condicionalismo étnico regional a impedir a afirmação pessoal em Moçambique.Bipolarização?A opinião de outros actores políticos como o MDM e nao só, é de que o pensamento critico e a causa que defendem vem sendo marginalizada esubalternizada.E se levarmos em conta que Afonso Dlhakama e a sua Renamo no seu protagonismo concorreu cinco vezes à presidência, tendo sempre perdido, e sempre discordando com o resultado, tendo em 2009, inclusive ameaçado recorrer à guerra, a conclusão é que ele tem uma agenda que não a moçambicana, que é a paz e desenvolvimento.Inusitado ou não, esta intenção do líder da Renamo representa uma ameaça de ruptura com o ordenamento jurídico constitucional.Face a esta cadência de acontecimentos, os parceiros políticos e económicos, assim como a sociedade civil, devem sentar-se e discutir o que está errado na sociedade, e não se limitarem ao abano da cabeça,ou ao bater de palmas, sem saber ao certo qual o papel a ser atribuído a uma oposição política, que se quer participativa, mas que parece não saber ao certo onde situar a sua acçao política:Se uma constante pedra de bloqueio à governação e ao regime democrático ou participar como parceiro político da governação no parlamento, ora fiscalizando os detentores do poder político, apresentando sugestões alternativas, e manter o diálogo com todos os segmentos da sociedade.
Inacio Natividade
Inácio Natividade. Como autor do texto reservo-me no direito de não permitir que o texto seja reproduzido na rede social, na ferramenta de busca google por qualquer blog que nao seja o jornal domingo