EDITORIAL
A frase do líder do PS no Casino da Póvoa vai persegui-lo até às legislativas.
António Costa já é não apenas ministro ou número 2 do PS. António Costa já não é só presidente da Câmara de Lisboa. É líder dos socialistas e vai candidatar-se às eleições para ser primeiro-ministro. E sabe, mas esqueceu-se, que de agora em diante todas as suas intervenções, qualquer que seja o palco, serão escrutinadas ao milímetro. Foi perante uma plateia de chineses que celebravam o ano novo (chinês) que António Costa agradeceu aos investidores que acreditaram no país e deram “um grande contributo para que Portugal pudesse estar hoje na situação em que está, bastante diferente daquela em que estava há quatro anos”. Perante o contexto em que a frase foi dita não é abusivo presumir que o “diferente” aqui quer dizer melhor.
E foi o que a oposição presumiu. Luís Montenegro, do PSD, diz que o que aconteceu “é que a boca lhe fugiu para a verdade”. O caso assumiu tal dimensão que Alfredo Barroso veio utilizar as redes sociais para anunciar que se desvinculou do partido, acusando Costa de desrespeitar "centenas de milhares de desempregados e cerca de dois milhões de portugueses no limiar da pobreza". Claro que a reacção é desproporcionada. Aliás, não foi agora que Barroso entrou em rota de colisão com Costa. E neste jogo de presunções, é bastante abusivo presumir que “bastante diferente” queira dizer que os pobres ou os desempregados estão hoje numa situação melhor.
Dito isto, o secretário-geral do PS também não sai bem na fotografia. Tem razão quando diz que "aos investidores estrangeiros temos de dar uma mensagem de confiança”. Desde que não estejamos a mentir. E é indiscutível que nalguns aspectos (como os juros da dívida) Portugal está bastante diferente e bastante melhor. Mas, politicamente, a imagem que passa é a de um Costa que diz uma coisa aos chineses e outra aos portugueses. E por causa desta falta de habilidade política a oposição já não lhe dará tréguas até às eleições. Foi o seu momento de candidato-amador.
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