Wednesday, October 31, 2018

“Somos índios, resistimos há 500 anos. Fico preocupado é se os brancos vão resistir”

“Somos índios, resistimos há 500 anos. Fico preocupado é se os brancos vão resistir”

Há 30 anos, em plena Assembleia Constituinte, pintou o rosto de negro, declarou guerra aos políticos brasileiros e venceu. Ailton Krenak tem agora 65 anos, já viu muito e o que não viu, recorda-se, numa memória que lhe foi legada pelos antepassados. Líder indígena, assume-se e ao seu povo como sobreviventes de um genocídio. Mas teme pelo futuro dos brancos, aqueles que nunca aprenderam a pisar com leveza a “Mãe Terra” e que por isso poderão acabar “enterrados no próprio vómito”

Quando uma criança krenak nasce, não vai para a creche, fica com a mãe, as avós e as tias. Partilham um quotidiano e um modo de estar na vida. As crianças indígenas não são educadas, mas orientadas. Não aprendem a ser vencedores, porque, para uns vencerem, outros têm de perder. Aprendem a partilhar o lugar onde vivem e o que têm para comer. Têm o exemplo de uma vida onde o indivíduo conta menos do que o coletivo. Este é o mistério indígena, um legado que passa de geração para geração. Ailton carrega no apelido a pertença à sua gente, o povo krenak. E a sua memória mais antiga é muito simples: “Eu não sei viver sozinho.”
Esteve esta semana em Portugal para participar no Fórum Internacional de Festivais de Cinema de Ambiente, em Seia, onde realizadores de mais de 30 países estiveram reunidos e demonstraram preocupação com o rumo político do Brasil e as consequências das eleições presidenciais na preservação da floresta amazónica. Antes de regressar a casa, Ailton Krenak conversou com o Expresso.
Que povo é o seu?
Krenak.
O que quer dizer?
Numa das línguas nativas do Brasil que restaram, kren quer dizer cabeça, e nak é terra. Logo, nós somos a cabeça da terra. Escutando os velhos e perguntando sobre a nossa história, entendi que somos uma das últimas famílias de um povo que, quando D. João VI chegou ao Brasil, habitava uma região conhecida como a Floresta do Rio Doce. Os viajantes se referem a ela como uma floresta tão impressionante como a Mata Atlântica ou a Floresta Amazónica. Era uma muralha natural no caminho do ouro e dos diamantes que vinham do interior. Mas a Coroa precisava de dinheiro e os colonos não eram bobos e pressionaram D. João VI para que libertasse a entrada na floresta. Os nossos antepassados, chamados botocudos, resistiram bravamente a essa investida e a nossa aldeia foi o último lugar a ser colonizado, já tardiamente, por volta de 1910. Nessa altura ainda havia caçadores e recoletores andando nessa floresta. Para acabar com os botocudos, primeiro esses colonos que estavam expandindo as fronteiras internas do Brasil tiveram de devastar a floresta. Vejo um paralelo muito grande, passados quase 200 anos, com o que os brasileiros estão a fazer [agora], determinados a devastar a última grande floresta da bacia amazónica.

SEGREGADOS “NUM CAMPINHO DE CONCENTRAÇÃO”

A conversa começa assim e segue por muitos percursos, sempre sob a sombra das árvores, no meio da cidade. Rapidamente nos deparamos com as eleições presidenciais no Brasil e com a possibilidade de Jair Bolsonaro ser o escolhido pela maioria da população. O candidato já afirmou que “não vai ter nem um centímetro demarcado para reserva indígena”.
Preocupado, mas sereno, Ailton responde: “Em outras épocas, o meu povo já experimentou diferentes tipos de violência. Os botocudos foram aniquilados durante o século XIX e chegaram ao século XX quase extintos, ao ponto de sermos a única família. Os krenak têm memória da guerra descrita numa carta assinada por D. João VI, que se chamava mesmo 'guerra de extermínio à nação dos botocudos do Vale do Rio Doce'. Uma declaração de guerra contra o nosso povo.”
Uma guerra que não se pode resumir ao número de mortos. “A população de indígenas daquela região no final do século XIX era estimada em cinco mil pessoas. Só chegaram 140 indivíduos ao século XX. Era como se caísse uma bomba na Europa e ficassem umas cem mil pessoas para contar a história. Fomos vítimas de um genocídio e não há contabilidade possível. Os krenak voltaram a reunir 120 famílias. Se considerarmos cinco pessoas por família, somos pouco mais de 500. Vivemos dentro de uma pequena reserva, segregados pelo governo brasileiro, num campinho de concentração que o Estado fez para os krenak sobreviverem. Durante o período da ditadura, se constituiu num campo de reeducação, que na verdade era um centro de tortura. Já passamos por tanta ofensa que mais essa agora não nos vai deixar fora do sério. Fico preocupado é se os brancos vão resistir. Nós estamos resistindo há 500 anos.”

DECLARAÇÃO DE GUERRA

Há 30 anos, perante a Assembleia Constituinte que redigiu a lei fundamental da então recém recuperada democracia brasileira, Ailton Krenak pintou o rosto de negro e declarou guerra aos congressistas. Lutava pelos direitos do povo indígena - e venceu. Mas diz que o tempo não se repete e que hoje não voltaria a tomar a mesma atitude. “Na década de oitenta abrimos trilhas para as novas gerações buscarem o reconhecimento dos direitos das populações originárias, os indígenas, e para conscientizar a população da importância de continuarmos tendo rios, montanhas, paisagens, florestas como recursos capazes de se refazerem ao longo do tempo e como uma riqueza a ser partilhada pelas gerações futuras. É um tipo de entendimento da terra como a nossa casa comum, mas o que tem prevalecido é a ideia de que diferentes lugares do planeta podem oferecer posicionamentos estratégicos para algumas potências ou ser simplesmente fonte de suprimento daquilo que estas potências querem controlar. E pequenas nações como o Brasil e a maior parte dos países da América Latina, ex-colónias, não tiveram sequer o tempo necessário para consolidar um pensamento acerca de si mesmos. Não tenho nenhuma ilusão acerca do futuro destas pequenas nações: ou vamos experimentar grandes transformações globais na relação entre os povos ou estas pequenas nações vão ser cada vez mais territórios de disputa e enclaves das potências que têm força para decidir o jogo, que não precisa nem de ser na ONU, é decidido no mercado.”
Nações pequenas? O Brasil? “O Brasil é pequeno no sonho. Sonha pequeno. Um território que não esboça uma visão soberana pode ser grande geograficamente mas vai continuar sendo pequeno na sua expressão no mundo. A Amazónia é a maior floresta tropical do planeta que ainda tem condição de ser reguladora do clima e o Brasil quer derrubar a Amazónia. Por que eu vou achar o Brasil grande? O Brasil é menor do que a Amazónia. Eu queria que ele fosse maior.”
E como aquele país se limitou desta forma? Para Ailton, “a colonização que a Europa fez do resto do mundo desde os séculos XV e XVI imprimiu uma maneira de dominação que é como um vírus, é capaz de se auto-reproduzir, inclusive nas colónias”. E “se o Brasil foi inseminado com esta ideologia colonialista, ele vai ser capaz de reproduzir isso infinitamente, enquanto não quebrar esse ciclo colonial. O projeto político de criar uma nação chamada Brasil é tão pequeno que chega a ser menor do que a Amazónia.”

PISAR COM LEVEZA

Ailton Krenak não se esquece de um texto de 1865, atribuído a um chefe indígena da América do Norte quando abordado por um representante do governo de Washington, avisando que queriam comprar as terras dos índios. Não se esquece também de que a resposta do chefe Seatle foi de que os índios não podiam vender a terra porque a terra é maior do que os índios, é a mãe deles. “Disse aos brancos que, se algum dia eles herdassem aquela terra, que a pisassem suavemente, porque se não aprenderem a respeitar, vão acumular detritos sobre detritos até que vão acordar enterrados no próprio vómito.” Reconhece aquele texto como o primeiro manifesto ambiental do século XX, “uma ideia partilhada pelos povos que vivem nas ilhas do Pacífico, nos Andes, nas montanhas dos Himalaias, porque estes povos originários têm isso no coração, antes de ter na cabeça”. Para completar: “Talvez o que as nossas crianças aprendem desde cedo é a pôr o coração no ritmo da terra.”
Como um círculo, a conversa volta ao início, à génese: à memória e à sua partilha. Das muitas formas de as novas gerações terem acesso ao passado. Homem de longos silêncios, Ailton Krenak emudece por alguns momentos, quando questionado sobre como o legado de um povo é transmitido às gerações seguintes. “Quem dera que eu pudesse responder a uma pergunta dessas. Ao longo da minha vida inteira vou experimentar [as formas] como transmitimos aos nossos filhos e filhas os valores que nos distinguem de uma sociedade predatória, individualista e que incentiva desde cedo as crianças para a competição, a dominarem-se uns aos outros”. Para concluir com outro questionamento, ainda mais denso do que a primeiro: “Parece que o mandamento principal dessa civilização é 'dominai-vos uns aos outros', contrariando aquele outro que seria 'amai-vos uns aos outros'. Estamos nesta dualidade e podemos escolher qual o mandamento mais interessante para ensinarmos aos nossos filhos.” E Ailton despede-se de nós e do Sol, que também começa a partir. “Te mum tepó itxá, kren nabã tepó erehé”*
* “Oh Sol, você já tá indo? Eu abaixo a minha cabeça para você.”

Khashoggi foi estrangulado assim que entrou no consulado e desmembrado


OZAN KOSE/AFP/GETTY IMAGES

O crime foi premeditado, confirmou ainda o procurador turco, tendo o corpo sido posteriormente desmembrado

Jamal Khashoggi foi estrangulado assim que entrou no consulado saudita, confirmou esta quarta-feira o procurador de Istambul, tendo o corpo sido posteriormente desmembrado, num crime que foi premeditado.
As declarações de Irfan Fidan enfraquecem ainda mais as alegações sauditas de que ele o jornalista foi assassinado depois de uma briga.
O procurador turco sublinhou a pouca cooperação saudita, até agora, apesar de a investigação à morte de Khashoggi ser conjunta.
O procurador geral da Arábia Saudita esteve esta terça-feira no consulado de Riade em Istambul no quadro da investigação sobre a morte do jornalista, mas Irfan Fidan diz que o encontro não teve “nenhum resultado concreto”.
A Turquia pretende a extradição dos 18 sauditas suspeitos de terem participado no crime e que se encontram em Riade depois de terem abandonado território turco.
A Justiça da Turquia pretende também que a Arábia Saudita ajude na localização dos restos mortais de Jamal Khashoggi.
(Título do artigo corrigido às 15h)

Banco Mundial diz que Moçambique melhorou seu ambiente de negócios

Banco Mundial diz que Moçambique melhorou seu ambiente de negócios
No meio da crise, o Banco Mundial dá uma nota positiva ao ambiente de negócios local. Três reformas contribuíram para isso, nomeadamente nas áreas de Obtenção de Electricidade, Comércio Além-Fronteiras e Pagamento de Impostos. Este ano, Moçambique encontra-se em 135º lugar tendo alcançado uma pequena melhoria, de cerca de 1.53%, na métrica que compara as várias economias relativamente às melhores práticas a nível global, a ‘distância até à fronteira’. Estes dados constam da 16º edição do “Doing Business”, o relatório anual do Grupo Banco Mundial, que analisa a facilidade de fazer negócios para as pequenas e médias empresas a nível global. O documento foi divulgado há poucas horas em Washington.
Eis como o Banco Mundial descreve a performance positiva dos três indicadores:
1)Obtenção de Eletricidade: “Moçambique voltou a reformar pelo segundo ano consecutivo e as reformas realizadas este ano resultaram numa subida de cinquenta lugares no ranking do Doing Business neste indicador, tendo o País passado de 150º lugar para 100º lugar. Conta como reforma, a introdução de um sistema de monitoria e gestão de cortes de energia pela Electricidade de Moçambique (EDM). Para tal, a EDM começou a recolher dados estatísticos através de dois índices específicos: o Índice da Duração Média da Interrupção do Sistema (System Average Interruption Duration Index - SAIDI) e o Índice da Frequência Média da Interrupção do Sistema (System Average Interruption Frequency Index - SAIFI). O primeiro mede a média da duração dos cortes a cada um dos clientes servidos, enquanto o segundo, mede o número médio de interrupções que um cliente sofre num ano. Adicionalmente, Moçambique reduziu também o tempo necessário para o estabelecimento de uma ligação eléctrica através da simplificação de procedimentos e a introdução de um sistema automatizado de gestão e o controlo de prazos”.
2)Comércio Além-Fronteiras: “Moçambique tornou a exportação e a importação mais fácil através da simplificação no cumprimento dos requisitos documentais, e através das melhorias das infra-estruturas na fronteira de Ressano Garcia, Província de Maputo.
3)Pagamento de Impostos: “Reduziu o tempo de espera obrigatório antes dos contribuintes poderem solicitar o reembolso do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) para quatro meses (de doze meses antes)”.
Mas...não há bela sem senão. “Moçambique registou também uma reforma negativa no indicador Início de Negócio, que prejudicou ligeiramente as melhorias introduzidas pelas reformas acima mencionadas. Nesta área o relatório contabilizou um aumento no custo de publicação dos Estatutos de uma empresa no Boletim da República através da Imprensa Nacional”. (x)
Gosto
Comentar
Comentários
Rui Costa Tendencias positivas mas imperceptiveis.
Gerir
Responder2 h
Afonso Dete Gestao de corte de energia pela EDM? Entao esse banco mundial nao conhece Mozambique real (Ex: ulongue).... Ish...
Gerir
Responder2 h
Sofar Muzima Em relacao aos cortes ja começa a haver avisos previos com atecedencia e os cortes e reposicao em dias de chuva e altas teperaturas ta melhor. Em relacao ao reembolso do IVA...talvez para as grandes empresas porque. Tenho duvidas quanto as PE e empresas em nome individual.