O embaixador do Brasil em Angola, Paulino Carvalho Neto, disse hoje que, com a mudança de Presidente, a política brasileira para Angola e para África vai manter-se, recusou a existência de partidos extremistas no país e negou que Jair Bolsonaro “seja fascista”. Pudera!
Numa conferência de imprensa na missão diplomática em Luanda, destinada a esclarecer dúvidas sobre o processo eleitoral brasileiro e o que será o futuro das relações do Brasil com África, Paulino Carvalho Neto assegurou que a ligação com Angola não será alterada e garantiu que as 35 embaixadas brasileiras em África continuarão a trabalhar em prol do desenvolvimento.
“As relações com Angola continuam e continuarão intensas e tradicionais. Já cooperamos com Angola em diversas frentes, na cooperação técnica, na saúde, na educação, além das relações comerciais, que são intensas, sem falar nas culturais, pois temos o Centro cultural Brasil-Angola em Luanda”, afirmou Paulino Carvalho Neto, embaixador em Angola desde Novembro de 2016.
Questionado sobre se a política brasileira para África, lançada pelo antigo presidente Luís Inácio Lula da Silva, estaria em perigo com a mudança de chefe de Estado, Paulino Neto disse que nada irá mudar.
“Não, de modo algum. O Brasil mantém e manterá relações intensas com todos os países. Temos uma prioridade básica inicial, como Angola tem aqui com os países da África Austral e subsaariana, [que é desenvolver as relações comerciais] na América do Sul. Mas mantemos e manteremos relações intensas com todos os países africanos”, disse, lembrando a rede de 35 embaixadas em África, que vai manter-se.
Sobre a política interna brasileira, Paulino Neto considerou “equivocados” os que pensam que o Presidente eleito está ligado à extrema-direita ou que é “fascista”.
Claro que não. Prova disso é que, por exemplo, as acções da maior fabricante de armas leves da América Latina, a brasileira Forjas Taurus, valorizaram 326,6% desde o início da campanha eleitoral de 2018. Além disso, ninguém com um longo e reiterado histórico de declarações racistas, misóginas e homofóbicas poderia ser fascista.
“No Brasil não há extrema-direita nem extrema-esquerda. Há partidos conservadores de direita e partidos de esquerda. O Presidente eleito é um liberal conservador, não é um político de extrema-direita, ao contrário do que muitas vezes é dito, equivocadamente”, sublinhou o embaixador Paulino Carvalho Neto, esperançado que as suas declarações cheguem ao seu novo patrão, Jair Bolsonaro.
“Como também o Partido dos Trabalhadores (PT) não é um partido de extrema-esquerda, é um partido de centro-esquerda e de esquerda nalguns momentos. Essa tendência de alguns sectores da opinião pública e de alguns meios de comunicação social verem aí algum extremismo parece-me absolutamente inadequada e não corresponde à realidade”, acrescentou o funcionário do Ministério das Relações Exteriores há cinco anos.
Para o diplomata brasileiro, Jair Bolsonaro já indicou que irá adoptar uma política liberal e privilegiar a iniciativa privada, facto que os analistas económicos afirmam que “poderá fazer crescer ainda mais” a economia brasileira, criando riqueza, emprego e mais investimentos. Crescimento esse que, refira-se, será ainda maior se conseguir implementar as suas políticas racistas, misóginas e homofóbicas mas que – á claro – não são fascistas mas, apenas e só, típicas (segundo o embaixador) de um “liberal conservador”.
“E isso tem também um efeito externo, pois as empresas brasileiras que estão presentes noutros países poderão investir mais”, sublinhou.
Sobre as acusações de “fascismo, xenofobia e racismo” feitas a Bolsonaro, o embaixador brasileiro afirmou tratar-se de uma visão “absolutamente equivocada”.
“Acho uma visão absolutamente equivocada essa ideia de usar a expressão `fascismo` sem saber exactamente do que se trata. Historicamente, o fascismo não foi isso e o Presidente eleito Bolsonaro está muito longe disso. É uma opinião, respeitável, mas equivocada. O discurso e a campanha política que [Bolsonaro] se fez no Brasil não corresponde a essas qualificações. É uma opinião que terá de estar baseada em facto, e os factos não favorecem essa opinião”, referiu.
General Mourão, mais um “liberal conservador”
Segundo a publicação brasileira Exame, o general na reserva António Hamilton Mourão, vice do presidente eleito Jair Bolsonaro, construiu a sua recente carreira política com ameaças de golpe de Estado e projectos de convocatória de assembleias constituintes sem o voto popular, bem como comentários racistas e ode à tortura. Tudo, reconheça-se, mais-valias próprias de um “liberal conservador”.
Mourão, de 65 anos, começou a ganhar notoriedade com a sua defesa da ditadura (1964-1985). Em 2015, criticou o governo e a “classe política”, o que lhe custou o comando da sua tropa e a transferência para um cargo burocrático.
Ocupou as manchetes em 2017 quando, num evento organizado por uma loja maçónica, advertiu que se as instituições não “resolverem o problema político (…), nós [os militares] teremos que impor isso”.
Três meses depois, em Dezembro, afirmou que o impopular presidente Michel Temer tentava permanecer no cargo até o final de seu mandato por meio do clientelismo político.
A opinião fez com que ele perdesse o seu novo cargo e em Fevereiro deste ano, após 49 anos nas Forças Armadas, pediu para ir para a reserva.
No seu discurso de despedida, descreveu como “herói” o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-Codi, centro de detenção e tortura do regime militar.
Folha 8 com Lusa
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