Renamo pós Dhlakama: da paralisia ao desenvolvimento institucionamocratico
Hoje, está mais do que claro que o problema da Renamo era Dhlakama. A prova disso é que desde que Dhlakama perdeu a vida, o discurso belicista e inflamatório está a desaparecer. O discurso conciliador está a ser constante, apesar de Ossufo Momade ter feito aquela ameaça de acionar os rangers, que sabemos que nao passa disso - mera ameaça.
Outra prova importante reside no facto de que, desde que Dhlakama perdeu a vida, os órgãos partidários da Renamo estão a mostrar uma vibração democrática apreciável. Hoje, a Renamo reúne-se muitas vezes, influenciado pelo momento eleitoral, sem dúvidas, mas o importante é que nota-se uma nova atitude política. Isto é próprio da libertação do peso ou da influência dominadora (voluntária ou involuntária) da figura de Dhlakama na Renamo. Neste período, pós Dhlakama, é interessante notar a forma aberta com que os membros da Renamo falar de congresso, algo que era quase que um tabu quando Dhlakama estava na liderança do partido.
Dhlakama tinha a vantagem de ser o líder carismático dos seus simpatizantes, mas tinha a desvantagem de ser um líder dominante e pouco receptível a debates a cerca da reformulação partidária. Neste contexto, Dhlakama conseguia ser uma força mobilizadora e de tranquilização/ paciência de muitos membros da Renamo, sobretudo os homens das matas que estão na longa espera pelos tão almejados e prometidos benefícios sócio-economicos.
Dhlakama conseguia transmitir a esperança aos seus membros e simpatizantes de que um dia a Renamo tomaria o poder. Contudo, Dhlakama era implacável a todo e qualquer indivíduo que tenta-se questionar a sua liderança a bem do partido, a bem da democracia. O falecido Dionisio Quelhas foi a primeira grande vítima da ousadia de ter desafiado Dhlakama a (re)pensar o partido Renamo e a sua liderança. Esta ousadia foi o suicidio político, que, infelizmente, resultou na marginalização. Felizmente, a academia acolheu-o Dionisio Quelhas e prestou o seu contributo na formação intelectual e, quiçá, humana de muitas pessoas. Outra grande vítima política, de peso, foi Raul Domingos. Este senhor, de mente brilhante, não precisou ser ousado, nem tão pouco desafiar Dhlakama. O seu trabalho político em prol da Renamo fê-lo brilhar e, sem se aperceber, violou a primeira lei do poder. Esta lei diz que o discípulo nunca deve brilhar mais do que o seu mestre, o subordinado nunca deve brilhar mais do que o seu chefe. Raul Domingos brilhou de 1990 a 1992, como chefe da equipe negocial da Renamo, em Roma. Depois brilhou como chefe de bancada da Renamo na Assembleia da República perante o isolamento e a demonização de que Dhlakama era alvo. Nessa altura, Dhlakama era a cara da guerra, apesar de ter assinado o acordo de paz (AGP) e Raul Domingos, a cara da diplomacia e da paz. Nos corredores diplomáticos internacionais, Raul Domingos estava a ter direito a tapete vermelho e exposição mediática, até sofrer aquela “cilada” ou armadilha política que o levou a expulsão do partido Renamo.
Assim, dentro da Renamo, a crítica ao líder Dhlakama e a sua liderança foram silenciadas. Desta forma, a Dhlakama instituiu a lei segundo a qual ELOGIA O LÍDER EM PÚBLICO E EM PRIVADO. Nunca criticar, nem em público, nem em privado, mesmo quando tomavam decisões políticas estrategicamente erradas, como foi o caso de não participar nas eleições autárquicas de 1998 e de 2013. A prova disso é que que não se conhecem críticas públicas a Dhlakama, vindas de membros da Renamo. As poucas críticas ensaiadas não passavam disso mesmo. Até mesmo os políticos proeminentes não tinham coragem de criticar Dhlakama - uns porque morriam de amores por Dhlakama, outros porque morriam de medo. Os homens das matas são uma excepcao por terem conseguido colocar Dhlakama na “prisão domiciliária em Gorongoza. Esta prisão até serviu para a Renamo obter ganhos políticos assinaláveis, mas depois provou-se estrategicamente errada porque o governo apertou o cerco até se provar que o poder bélico da Renamo estava longe do que aparecia na retórica.
Em consequência, Dhlakama tornou-se Renamo. Renamo tornou-se Dhlakama. Aliás, isto só se solidificou, pois no período da guerra que começou como desestabilização e terminou como uma guerra civil (1976 a 1992), Dhlakama já era Renamo. Renamo era Dhlakama. No período pós guerra, os órgãos ficaram reféns do peso do carisma de Dhlakama. O resultado foi a paralisia institucional da Renamo. Agora, sem Dhlakama, nota-se um investimento da Renamo nas instituições democráticas infra-partidária e o mais importante a nível estatal.
Portanto, a era pós Dhlakama é uma esperança para a Renamo e para a democracia ao nível do partido e ao nível de Moçambique 🇲🇿
Calton Cadeado
Ps: apesar de ter sido um obstáculo ao desenvolvimento institucional, Dhlakama é o responsável pelo peso político que a Renamo tem na sociedade.
Ps: Dhlakama foi um bom militar, mas os seus créditos político ficam por provar.
Ps: a Renamo tem que escrever e publicar sua própria história e a história de Dhlakama. Que tal começar criticando negativamente esta reflexão?
Ps: Dhlakama foi um bom militar, mas os seus créditos político ficam por provar.
Ps: a Renamo tem que escrever e publicar sua própria história e a história de Dhlakama. Que tal começar criticando negativamente esta reflexão?
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