- 21 Fevereiro 2013
- Opinião
Lubango - O recente relatório de Edward Mosses, patrocinado pelo gigante grupo financeiro CITI, publicado pela CNBC http://www.cnbc.com/id/100450133 (acedido 10:25AM, 13/02/2013), traça um quadro muito negro para os países exportadores de petróleo, que têm no mercado Americano como o principal destino do actual ouro negro.
Fonte: Club-k.net
Embora, segundo a Agência da Administração de Informação de Energia dos Estados Unidos de América (EIA), nos últimos anos a China tenha passado a ser o principal destino das exportações Angolanas de petróleo, 38% contra 14% dos 1.454 milhões de barris exportados por dia (http://www.eia.gov/countries/cab.cfm?fips=AO) (acedido 110:30 AM, 3/02/2013), e as exportações estarem razoavelmente bem distribuídas pelos diversos mercados do mundo, o assunto deve merecer profunda reflexão e acção imediata por parte de quem de direito, porque a acontecer tal como descrito no relatório, outros países vão seguir a receita e a redução do consumo é eminente, com consequências directas no preço.
Diz-se que “a necessidade faz o mós”. Um desses vi na CNN um Senador Americano, criticando a política de energia dos EUA, dizendo que o país estava viciado no consumo de derivados de petróleo e demasiadamente dependente de fornecedores hostis à América, pelo que, segundo este Senador, teriam que investir seriamente em diversas vertentes, com vista a inverter-se o status quo, estávamos nós no ano de 2008, em plena campanha presidencial. Na altura pensei comigo mesmo que, apesar de constituir uma séria ameaça para viabilidade de muitos Estados, particularmente árabes e africanos, como aliás, refere relatório que temos vindo a citar, a maior parte destes países não iriam fazer caso das consequências da proposta estratégia. Aqui estamos, passados seis anos os resultados estão à vista. Que saída existe para países como Angola, cujo Orçamento Geral do Estado (OGE) depende 50%) de receitas petrolíferas (2013)?
Há acontecer tal desiderato tal como descrito no Relatório Mosses, seria certamente uma catástrofe, o efeito colateral imediato será a multiplicação de Estados falhados, pois a contestação aos regimes estabelecidos vai se acentuar, na medida em que, a distribuição dos benefícios do petróleo é, por si, mal feita no momento de abundância, agravar-se-á na escassez. Alguns dos países referidos no relatório como a Nigéria, por exemplo, já vivem situações internas de instabilidade. A Nigéria exporta cerca de um milhão de barris de petróleo dia para os EUA.
No caso específico de Angola que dependente em cerca de 80% das exportações de petróleo para obtenção de divisas, dependente de importações para abastecer o mercado interno de produtos de consumo básico, dada a sua ainda muito frágil capacidade de produção nacional, o quadro será muito dramático. As acções atinentes à inversão do actual estado extrovertido (mono exportador e multi importador) da economia angolana estão a processar-se muito lentamente.
Este relatório é um alerta muito sério para a classe política, para a sociedade civil, para todas as forças vivas da nação, devemos todos reflectir sobre a matéria, com urgência. Na minha perspectiva um dos grandes problemas é o processo centralizado de tomada de decisão. Enquanto os Governos Províncias forem simplesmente caixas-de-ressonância do poder central, continuaremos a progredir à passo de camaleão. As experiências recentes de países que atingiram progresso e prosperidade, em tão pouco tempo, como a China, India, etc, foram através de processos de descentralização de tomada de decisão no fórum económico, com o surgimento de “states regions”, sugeridos pelo Japonês Kenichi Ohmae (2004), em The Next Global Stage. Os Governadores Provinciais têm que transformar-se em verdadeiros “Chief Marketer officers” e “Chief Executives Officers” verdadeiros executivos das suas províncias, publicitando as oportunidades de investimentos e facilidades existentes nas suas províncias. Para o efeito, precisam de ter autonomia na tomada de decisão.
A prosperidade dos países no novo contexto do mundo não deriva dos recursos naturais. Existem inúmeros exemplos de países que não foram agraciados pela natureza com minérios, mas estão entre os países mais ricos do mundo. O Japão é o exemplo mais paradigmático, até muito recentemente, a segunda economia do mundo. O recurso mais importante nesta era é o homem, que deve ser educado, trainado e bem motivado. Observando a realidade angolana, pese os investimentos que se vêm fazendo nos últimos anos, denota-se um certo desnorteio. A qualidade da formação é ainda muito débil. Abundam PhDs pelo país adentro, mas a sua capacidade de produção e disseminação de conhecimento é quase nula. A era das plataformas das TICs, exige rapidez e flexibilidade de raciocínio e acção, o que requere profissionais competentes, geradores de conhecimento, que o actual estado clientelista e lealdade partidária não permitem.
Angola tem que acordar para a nova realidade, não pode continuar viciada e dependente ao petróleo, para além de não ser um recurso renovável, vai perder o protagonismo e a hegemonia que tem hoje. Há que ser célere na implementação de programas que vão inverter o actual quadro de dependência, sem o qual o país continuará escravo e dominado pelos arbítrios externos, perigando a aparente estabilidade política prevalecente.
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