OPINIÃO
A Rússia e os EUA estão em pólos opostos na crise síria, mas isso pode não afastar um compromisso.
Em Setembro de 2013, num dos muitos episódios suscitados pela guerra civil na Síria, que nessa altura já somava uns sangrentos dois anos e meio, Vladimir Putin chegou a sugerir que aceitaria uma acção militar contra o regime de Assad se viesse a ser provado que ele usara armas químicas contra a população civil. Nessa altura também, um alto representante do governo sírio dizia que não haveria cedências da parte do regime, nem mesmo que isso provocasse a terceira guerra mundial. Dois anos passados, nem acção militar nem guerra mundial, pelo menos nos termos sugeridos de forma tão inflamada. Mas a resistência do regime de Assad, primeiro contra o seu povo, depois contra grupos de rebeldes armados que sonharam derrubá-lo e por fim contra as investidas daqueles que se autodenominam Exército Islâmico, tem sido tenaz com a ajuda da Rússia e do Irão. A mesma Rússia que, na Assembleia Geral da ONU, pela voz autorizada do seu chefe, Vladimir Putin, elogiou o regime de Assad por estar “a combater o terrorismo cara a cara, com bravura”. O problema é que a “bravura” de Assad semeou milhares e milhares de mortos e, para se manter no poder a todo o custo, deixou em ruínas um país que gerou um êxodo de milhões, para países limítrofes e também para a Europa. A crise dos refugiados é, em primeiro lugar, “filha” dolorosa da guerra síria. Talvez por isso Obama, que ontem ia encontrar-se oficialmente com Putin, tenha dito na ONU, antes de se recusar a manter no poder um “tirano”: “Vamos recordar como tudo isto começou”.
O problema é que, quando a guerra na Síria já vai para cinco anos, vai ser preciso fazer muito de concreto, e em simultâneo, nas várias frentes: acudir aos refugiados; travar a guerra em nome de um plano que envolva Assad no curto prazo; e abrir a porta a eleições que não sejam uma farsa e que devolvam à Síria a dignidade de um país. Ou isto ou uma guerra internacional – que ninguém, inteligentemente, quer.
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