A bancada parlamentar da Renamo considerou hoje que os incidentes com a comitiva do presidente do partido revelam um plano para eliminá-lo, acusando o Governo moçambicano de limitar a circulação de Afonso Dhlakama em violação dos acordos de paz.
"Ambos os ataques foram protagonizados durante a circulação rodoviária da comitiva presidencial da Renamo em Manica, demonstrando claramente o intuito de assassinar o senhor presidente [Afonso Dhlakama]", refere um comunicado da bancada parlamentar da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana, principal partido de oposição), enviado hoje à Lusa.
O último incidente aconteceu ao fim da manhã de sexta-feira, na Estrada Nacional 6 (EN6) em Zimpinga, distrito de Gondola, quando a comitiva do líder do maior partido de oposição seguia para Nampula, norte de Moçambique.
O líder da Renamo disse à Lusa que se tratou de uma emboscada, mas a polícia rebateu esta versão, sustentando que foi a comitiva de Dhlakama que provocou o incidente ao assassinar o motorista de um `chapa´ (carrinha de transporte semipúblico) que passava no local.
No seu comunicado, a bancada parlamentar da Renamo acusa o Governo moçambicano de não estar a cumprir com os entendimentos assinados entre as partes, nomeadamente o Acordo de Cessação de Hostilidades Militares, de 05 de setembro de 2014, e o Acordo Geral de Paz, assinado em 1992, marcando o fim de um conflito de 16 anos, que causou a morte de quase um milhão de pessoas.
"O Governo está a pôr em causa este acordo assinado em Roma perante altas identidades representativas de muitos países e organizações", escreve a Renamo, acrescentado que as autoridades moçambicanas deviam, pelo contrário, preocupar -se em responder aos "sucessivos assassinatos" de jornalistas e académicos registados nos últimos tempos em Moçambique.
A Renamo acusa ainda o Governo moçambicano de tentar reinstalar um sistema monopartidário, considerando que a democracia não pode ser considerada sinónimo de submissão da Renamo.
"O nosso caminho, assim como os nossos propósitos de representação e defesa do povo moçambicano ao abrigo de uma democracia efetiva, irá continuar, disso não abdicaremos", salienta o documento da bancada parlamentar do maior partido de oposição em Moçambique.
O pronunciamento dos deputados da Renamo seguiu-se a uma conferência de imprensa do porta-voz do partido, António Muchanga, que assumiu sete baixas entre a comitiva de Dhlakama, na sexta-feira, e declarando que o dirigente político saiu ileso de uma emboscada e que se encontrava algures na província de Manica.
Este é o segundo incidente em menos de duas semanas que envolve o líder da Renamo, depois de no passado dia 12 de setembro, a comitiva de Dhlakama ter sido atacada perto do Chimoio, também na província de Manica.
Na altura, a Frelimo acusou a Renamo de simular a emboscada e hoje voltou a atribuir ao partido de oposição a responsabilidade pelo incidente e devolveu a acusação de violação dos acordos de paz.
"O senhor Dhlakama precisa, mais uma vez, de por a mão na consciência e perceber que, 23 anos depois do Acordo Geral de Paz, não há nenhum argumento que possa convencer seja quem for que no nosso país, entre tantos partidos que temos, a Renamo seja o único partido armado", salientou à Lusa Damião José, porta-voz da Frelimo.
Após o primeiro ataque, testemunhado por jornalistas e que ocorreu em circunstâncias ainda por esclarecer, a polícia negou o seu envolvimento, acrescentando que estava a investigar, e, em entrevista ao semanário Savana, o ministro da Defesa, Salvador Mtumuke, também negou a participação do exército.
Moçambique vive sob o espetro de uma nova guerra, devido às ameaças da Renamo de governar pela força nas seis províncias do centro e norte do país onde o movimento reivindica vitória nas eleições gerais de 15 de outubro do ano passado.
SAPO – 27.09.2015
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