A Renamo afirmou hoje que Afonso Dhlakama "está no mato, bem de saúde e com o partido sob seu controlo", apelando aos seus militares para não retaliarem o incidente de sexta-feira.
"Ainda há uma hora [início da tarde em Moçambique] falei com o presidente Afonso Dhlakama, ele está no mato, bem de saúde e com o partido sob seu controlo. Exorta aos militantes do partido para não retaliarem o ataque que sofreu, porque isso seria fazer o jogo dos que o querem matar", disse, em declarações à Lusa, o porta-voz da Renamo, António Muchanga.
Sem especificar o local onde se encontra Dhlakama, "porque isso não interessa", Muchanga afirmou que o líder da Renamo caminhou a pé na sexta-feira, após a alegada emboscada, pelo mato até ao local onde actualmente se encontra.
Desde sexta-feira que persistem rumores sobre o paradeiro de Dhlakama e que este teria regressado à chamada "parte incerta", na serra da Gorongosa, à semelhança do que fez durante dois anos, no último conflito entre Governo e Renamo e que só terminou em Setembro de 2014.
A polícia de Manica disse que também desconhece a localização de Dhlakama e ofereceu-se para o proteger.
Em declarações hoje à Lusa, o porta-voz da Renamo anunciou para os próximos tempos uma posição do partido sobre o sucedido, mas rejeitou que a Renamo se esteja a preparar para uma nova guerra.
"Amamos a paz, somos pela paz, pelo que a mensagem mais importante é no sentido de os nossos membros agirem com contenção", afirmou o porta-voz do principal partido de oposição.
O último incidente de violência política em Moçambique aconteceu ao fim da manhã de sexta-feira, na Estrada Nacional 6 (EN6) em Zimpinga, distrito de Gondola, quando a comitiva do líder do maior partido de oposição seguia para Nampula, norte de Moçambique.
O líder da Renamo disse à Lusa que foi alvo de uma emboscada das forças de defesa e segurança, mas a polícia rebateu esta versão, sustentando que foi a comitiva de Dhlakama que provocou o incidente ao assassinar o motorista de um 'chapa' (carrinha de transporte semi-público) que passava no local.
A Renamo disse que resultaram desde incidente sete mortos entre a comitiva de Dhlakama e dezenas entre os alegados atacantes e a polícia refere 20 vítimas mortais, 19 do partido de oposição e um civil.
Na reacção ao incidente, a Frelimo, partido no poder, descreveu Dhlakama como um fora de lei e terrorista, instando-o a abandonar as armas, enquanto a Renamo acusou o Governo de tentar assassinar o seu presidente.
Este é o segundo incidente em menos de duas semanas que envolve o líder da Renamo, depois de no passado dia 12 de Setembro, a comitiva de Dhlakama ter sido atacada perto do Chimoio, também na província de Manica.
Na altura, a Frelimo acusou a Renamo de simular a emboscada, enquanto a polícia negou o seu envolvimento, acrescentando que estava a investigar.
Em entrevista ao semanário Savana, o ministro da Defesa, Salvador Mtumuke, também negou o envolvimento do exército.
Moçambique vive sob o espectro de uma nova guerra, devido às ameaças da Renamo de governar pela força nas seis províncias do centro e norte do país onde o movimento reivindica vitória nas eleições gerais de 15 de Outubro do ano passado.
Lusa – 28.09.2015
NOTA:
“Na altura, a Frelimo acusou a Renamo de simular a emboscada, enquanto a polícia negou o seu envolvimento, acrescentando que estava a investigar.
Em entrevista ao semanário Savana, o ministro da Defesa, Salvador Mtumuke, também negou o envolvimento do exército.”
Não entendo: O incidente deu-se cerca das 12H00 de 25.09.2015. Como é que já o investigavam e o MD negava o envolvimento do exército? Adivinhos?
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
Dhlakama garante que está bem e seguro e promete não retaliar
A partir de parte incerta
Circulação na EN6 está neste momento condicionada e realiza-se em colunas.
Governo reforça presença militar no terreno.
Rádio Moçambique e Televisão de Moçambique intensificam campanha de desinformação contra a Renamo.
O presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, disse na manhã de ontem, domingo, a partir de parte incerta no interior da província de Manica, que está bem de saúde e muito seguro no local onde se encontra.
Afonso Dhlakama falou por teleconferência para alguns quadros do partido que se reuniram na sede da Renamo, e disse que era para dissipar dúvidas sobre o seu estado de saúde e segurança.
O presidente da Renamo prometeu aos quadros do seu partido que brevemente vai reaparecer, logo que as condições permitirem.
O chefe do Gabinete do Presidente da Renamo, Augusto Mateus, disse ao “Canalmoz”, no final do encontro, que Afonso Dhlakama prometeu aos moçambicanos que não vai retaliar, porque tal implicaria mergulhar o país numa nova guerra, como pretende a Frelimo.
Augusto Mateus disse que Afonso Dhlakama continua a optar pelo diálogo como forma de resolver a actual crise política.
Recorde-se que uma caravana de Afonso Dhlakama, que saía da cidade de Chimoio, na província de Manica, com destino a Nampula foi alvo de uma emboscada na EN6, distrito de Gondola, no troço entre Amatongas e o Inchope.
A emboscada foi montada por homens armados, que se supõe serem das forças governamentais.
O ataque começou às 10.00 horas de sexta-feira e prolongou-se até ao princípio da noite. Civis que vinham num “minibus” que tentava ultrapassar a caravana da Renamo foram alvejados pelos atacantes, confundidos como parte da delegação daquele partido.
O porta-voz da Renamo, o deputado António Muchanga, disse ao “Canalmoz” que, devido à intensidade da emboscada, o presidente da Renamo e os seus homens foram obrigados a abandonar as viaturas e estão refugiados em parte incerta nas matas.
Numa comunicação ao país, o porta-voz da Renamo disse que os militares governamentais da Frelimo que foram mortos em combate estavam à paisana, mas traziam coletes à prova de bala debaixo das camisas.
O porta-voz da Renamo disse em conferência de imprensa na tarde do passado sábado, que, segundo o balanço feito ao ataque que pretendia assassinar Afonso Dhlakama, morreram sete elementos da Renamo, dos quais três militares.
Segundo Muchanga, do lado das tropas do Governo da Frelimo foram contabilizadas baixas de cerca de duas dezenas e foram capturadas cinco armas AKM-47, uma RPG-7 (“bazooka”) e uma RPD.
António Muchanga informou que o presidente da Renamo escapou ileso da emboscada e continua no interior da província de Manica. Anunciou que Afonso Dhlakama está preocupado com o rumo dos acontecimentos, mas garante que continuará com a luta.
As mentiras da Rádio Moçambique e da Polícia
Enquanto isso, na comunicação social controlada pela Frelimo – principal suspeita da autoria dos ataques – há uma verdadeira campanha de manipulação e desinformação que conta com os préstimos da Polícia da República de Moçambique.
A Rádio Moçambique noticiou, citando fontes da Polícia, que o ataque foi perpetrado pelos próprios homens da Renamo. O comandante Provincial da PRM em Manica, Armando Mude, disse na tarde de domingo, em declarações exclusivas ao “Canalmoz”, que a Polícia matou dezanove guerrilheiros da Renamo, que disse serem “recrutas e sem experiência de combate e de manejo de armas”.
Disse que também morreu um motorista de “minibus”, e que quatro civis ficaram gravemente feridos.
Armando Mude disse que não houve detenções e que a Renamo, apesar de ter perdido dezanove homens, “não deixou nenhuma arma nem munição”.
Questionado sobre como seria possível, com este número de mortos, não ter havido detenções nem feridos nem captura de equipamento militar da Renamo, Armando Mude respondeu: “Pensamos que os colegas foram levando, durante a fuga”.
A Polícia diz que não teve nenhuma baixa nem feridos nas suas fileiras.
O comandante provincial da Polícia em Manica disse que oito viaturas da Renamo foram incendiadas, mas atribuiu a responsabilidade à população. Disse que outras quatro viaturas da Renamo estão parqueadas no Comando Provincial da PRM em Manica.
Neste momento, a circulação daquele troço está sendo feita por colunas escoltadas pelas forças governamentais, apesar de Armando Mude ter dito que já não estão a ser feitas colunas.
Armando Mude confirmou a presença das forças governamentais no local do ataque e declarou que alguns homens da Renamo continuam nas matas, mas negou a existência de quaisquer operações de perseguição contra o presidente da Renamo e os seus homens.
Reunião com os embaixadores da UE
O “Canalmoz” sabe que os embaixadores dos países que fazem parte da União Europeia marcaram para hoje, segunda-feira, um encontro com a Renamo, para análise da situação político-militar no país.
Não foram divulgados os pormenores da agenda do encontro, mas sabe-se que a comunidade internacional está preocupada com a evolução do conflito.
O próprio Afonso Dhlakama disse, no domingo, que a comunidade internacional tem um papel a desempenhar na procura de soluções para a actual crise. (Bernardo Álvaro)
CANALMOZ – 28.09.2015
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