Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Entre Goebbels, ministro da Informação de Sadaam Hussein, Edson Macuácua e Damião José
Os nomes não vêm ao acaso. São parte da história, e algo do que cada um disse e defendeu teve os impactos que se conhecem.
Se, com Goebbels, exímio propagandista,a frente dos nacionais-socialistas alemães, a tarefa era facilitada por causa de toda a envolvente política dos seus dias, com os outros o desempenho teve percalços dignos de registo. O ministro de Informação iraquiano cantava vitórias quando os americanos estavam já entrando em Bagdad.
Edson Macuácua, o “cultor dos imperativos”, durou enquanto seu mentor, AEG, reinava. Após o congresso de Pemba, a sua estrela terá deixado de brilhar, e hoje mexe as coisas no parlamento quase como que “despedida” da política activa.
Damião José aparece incendiário com pretensões de iluminado.
O seu verbo calculado e feroz é e faz voz de uma forte Comissão Política que não quer deixar dúvidas sobre quem continua dando cartas em Moçambique. Esforços remarcáveis mas de impacto limitado porque provas acumulam-se sobre o conteúdo falso das suas proclamações.
Já se duvida de quem é ele realmente porta-voz. É a personificação da existência de uma Frelimo dividida? Só o tempo o dirá.
A emergência de comportamentos obtusos e de negação completa da racionalidade com que pessoas devem agir e comportar-se leva a que se tirem conclusões diversas.
Será que o “jogo do pão” é tão crucial que abandonam características intrínsecas ao homem? Ou será antes uma questão de mediocridade endógena que os leva a trilhar por caminhos escusos e deploráveis?
Quem até ostenta diplomas universitários deveria ter uma prática diferente do que nos é dado a ver nos dias de hoje.
Se antes um porta-voz precocemente reformado nos dizia e induzia a acreditarmos que era um “imperativo nacional” que o seu partido e o seu presidente continuassem a liderar Moçambique, hoje aparece outro que, por outras palavras, nos diz o mesmo.
Não se pode negar o direito de expressarem o que decidam e o que lhes tenha sido encomendado.
Afinal política tem contornos variados e para todos os gostos.
Agora que procurem fazer de todo um povo um conjunto amorfo incapaz de discernir, isso é outra coisa.
Houve tempos em que existia um DIP, Departamento de Informação e Propaganda da Frelimo.
Dele emanavam orientações que, por causa do domínio completo do partido-Estado, simplificava a sua aceitação ou que, com conformismo, fossem cumpridas. Era fácil e linear o que acontecia, e não havia surpresas. Afinal reinava omnipresente um aparato de segurança que se estendia aos bairros através dos grupos de vigilância e dos grupos dinamizadores. Alguns dos mais “esclarecidos” e activos membros da elite da Frelimo que hoje pontificam na comunicação social pertenciam ao DIP e aos meandros dos serviços de segurança e inteligência. Era assim que se mantinha e se defendia o partido único que se replicava em Estado quando fosse necessário.
Dia 16 de Setembro de 2015 joga-se uma grande batalha pela justiça em Moçambique. A sentença de dois moçambicanos arguidos num caso claramente encomendado pelo poder político será lida. Não admira que depois surjam outros “ministros de informação” recrutados à última hora a dizer que a justiça foi feita.
O servilismo de alguns cria semi-deuses ou homens endeusados a quem se deve temer. Este servilismo é como um estupefaciente que envenena mentes e através de um processo coordenado se espalha e instrumentaliza multidões.
Moçambique ressente-se da inexistência de um amplo campo aberto de expressão de opinião e da viciação das regras da comunicação social.
Já é tempo de tomada de decisão sobre o programa “Café da Manhã” da RM, não porque ele não seja importante, mas porque, nos moldes actuais, dá voz somente a correligionários dos detentores do poder. Uma estação pública de rádio ou de televisão não pode ser espaço para a exclusão dos partidos que militam na oposição, como acontece actualmente.
Quando se fala de despartidarização, isso deve estender-se a tudo o que seja público.
A AIM, RM, TVM, “Notícias” devem ser instruídas no sentido de ajustar a sua política editorial com aquilo que está estatuído e aquilo que são os interesses actuais da nação.
Não se pode ter uma comunicação social pública funcionando nos moldes dos tempos do partido único. Não é preciso ser mágico ou vidente para tirar essa conclusão.
Não basta o PM demitir ou exonerar directores-gerais, mas é a substância que deve ser alterada.
Ao PR recomenda-se que se entregue às suas funções e assuma a dimensão de sua posição e cargo. Para não deixar os seus créditos em mãos alheias, deverá urgentemente decidir-se sobre os seus porta-vozes e assessores.
O carisma e a liderança ganham-se num processo que pode ser mais fácil ou complicado, mas “quem anda à chuva molha-se”.
Há que manter os canais de comunicação abertos em defesa de Moçambique, da Paz e da sua estabilidade.
Damião José deve ser admoestado pelos seus pares, e aquela petulância e arrogância de prender membros da oposição por proferirem discursos belicistas deve ser aplicada também a esses “mensageiros do diabo”.
A justiça moçambicana tem a obrigação de libertar-se de interesses privados e contribuir para a fortificação do Estado democrático e de direito.
Agora que se enfrenta uma crise pós-eleitoral, o Conselho Constitucional e a CNE/STAE, seus principais instigadores e precursores, estão virtualmente em férias.
Hermenegildo Gamito terá a sua página na História de Moçambique.
Agora, ao seu passado de gestor de grandes empresas que faliram nas suas mãos, Maquinag, Mabor, BPD e outras, junta-se o Conselho Constitucional, que conseguiu homologar “milagrosamente” resultados eleitorais sem editais.
Mas obviamente que a comunicação social conveniente e subserviente não consegue dar destaque a estes factos. Dos altos escalões do poder político tomam-se decisões, e os encarregados da sua implementação devem fazer a ginástica para executar.
Moçambique não se pode arriscar a escorregar para o abismo da guerra só porque há pessoas como DJ, de horizonte visual restringido pelas suas ambições e pretensões.
Lesa-pátrias e vende-pátrias estão identificados, e a eles não será permitido triunfarem. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 30.09.2015
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