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Escrito por Redação Centro/ Norte |
Segundo relatos de cidadãos entrevistados pelo @Verdade, alguns dos quais foram forçosamente separados dos seus parentes – dados como desaparecidos em virtude de terem sido capturados por militares – os guerrilheiros da Renamo e as forças governamentais protagonizam assassinatos de cidadãos desde Outubro passado. Entretanto, os nossos interlocutores não sabem dizer por que motivos os militares estão a protagonizar tal “carnificina” e não apresentam provas concretas de pessoas que tenham sido vítimas da referida situação. Manuel da Costa Simão, Pastor da Igreja Nazareno de Moçambique, e residente na sede do posto administrativo de Vunduzi, disse-nos que o que se vive naquela região é triste pelo facto de haver pessoas que estão a ser executadas sumariamente, além de sofrerem várias ameaças por parte dos homens armados da Renamo; por isso, ele refugiou-se na vila de Gorongosa, em casa de familiares. Num outro desenvolvimento, o pároco afirmou que Vunduzi está deserto devido à situação político-militar que caracteriza a zona. Os “chapas” que transportavam pessoas e bens no troço vila de Gorongosa- -Vunduzi e vice-versa suspenderam as actividades por intimidação dos guerrilheiros do partido de Afonso Dhlakama. Segundo o nosso interlocutor, algumas famílias foram escorraçadas das suas comunidades pelas forcas governamentais, alegadamente por ser difícil identificar os elementos da Renamo no meio da população. Ele antevê que nas regiões afectadas pelo problema pode haver fome em virtude de as pessoas terem abandonado as suas machambas, das quais dependem para sobreviver, principalmente porque se está numa época em que algumas culturas alimentares precisam de ser sachadas. Manuel Simão assegurou-nos ter presenciado a execução sumária de duas pessoas por guerrilheiros de Afonso Dhlakama. As vítimas respondiam pelos nomes de Zacarias e Mabote. Ao primeiro arrancaram alguns bens e o segundo era perseguido pelos mesmos militares antes de ter sido morto. Mulher dá à luz sozinhaNo último domingo, 05 de Janeiro em curso, durante a fuga de Vunduzi para a vila municipal de Gorongosa, com os seus filhos menores de idade, Azeria Alficha deu à luz sem ajuda de ninguém. A dada altura do percurso, ela começou a queixar-se de dores de parto e, corajosamente, não fez mais nada senão interromper a caminhada e assumir o serviço de parteira. Em contacto com o nosso Jornal, a senhora confessou que foi difícil e quase perdia o seu bebé. “Mas porque Deus estava comigo, nenhum mal aconteceu”.Gente que tenta procurar comida nas zonas de origemElias Albino, outro cidadão entrevistado pela nossa reportagem, residente em Nhanhadzi, também, no posto administrativo de Vunduzi, contou que todos os seus bens ficaram na comunidade assolada pela tensão político-militar. Neste momento, ele e os parentes, acomodados na Escola Primária Completa de Mapombwe, estão a passar fome. Nalgumas vezes, sob o risco de serem interceptadas por militares e serem mortas, as pessoas tentam procurar formas de chegar a Vunduzi para irem buscar a comida que deixaram nas suas arrecadações.E há famílias que, quando chegaram à vila de Gorongosa, optaram por arrendar casas mas já não têm condições para o efeito. Eugénio Almeida, régulo da região de Kanda, considerou que perante esta situação existem pessoas que se apoderam dos bens das outras que estão no meio do sofrimento. Ele também foi vítima, tendo os malfeitores roubado os seus cabritos. O apoio é insuficienteO governo do distrito de Gorongosa assegurou-nos que oferece diariamente à população, que abandonou as zonas de “conflito”, feijão, óleo alimentar, arroz, repolho e farinha de milho. Todavia, os refugiados consideram que os produtos alocados não chegam, uma vez que as famílias são numerosas. As pessoas queixam-se igualmente das condições de alojamento que não são das melhores. Os dormitórios, por exemplo, são comuns o que impede que haja privacidade.
Criado centro para refugiados
O governo da província de Sofala criou um centro de acomodação para as populações refugiadas na vila de Gorongosa à procura de abrigo e segurança. O lugar vai albergar 180 famílias, o que corresponde a 3.845 pessoas, que, neste momento, se encontram nas escolas. Numa primeira fase, os indivíduos em causa serão alojados em 100 tendas, que não são suficientes, de acordo com o governo local. Porém, a medida visa descongestionar os estabelecimentos de ensino, uma vez que as aulas vão arrancar brevemente.Gerónimo Langa, porta-voz do governo distrital de Gorongosa, explicou que o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) disponibilizou seis toneladas de arroz,14 sacos de farinha de milho, duas toneladas de açúcar, 2.000 litros de óleo e duas toneladas e meia de feijão, para garantir a alimentação da população, durante 15 dias. Os produtos beneficiam, também, as famílias que vivem em casas arrendadas. Perguntámos ao porta-voz sobre a solução que se prevê para as crianças que se encontram refugiadas na vila de Gorongosa com os seus pais, uma vez que correm o risco de perder o ano escolar, por causa do ambiente de guerra que se vive nas suas zonas de origem, e a resposta foi a de que todas elas estão a ser inscritas para continuarem a estudar nas escolas da vila sede. De acordo Gerónimo Langa, devido à situação político- -militar que se vive em Gorongosa, a unidade sanitária da vila municipal atende, por dia, 350 a 500 doentes e, como forma de descongestionar os serviços, foram criados, em todos os locais onde se encontram os refugiados, postos para a prestação dos primeiros socorros. |
segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
Gorongosa está em alvoroço
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