sexta-feira, 12 de julho de 2013

Senhor Guebuza, pare de lixar este País

 
 
Canal de Opinião

Senhor Guebuza, pare de lixar este País! (#canalmoz)

Maputo (Canalmoz) – Por uma questão de humildade intelectual, devo confessar que o título não é da minha inteira responsabilidade. As palavras originais são de uma humilde senhora que em reacção à interrupção de fornecimento de água por manifesta i...ncompetência do Governo, disse a STV as seguintes palavras: “senhor Guebuza, se não quer Governar nos deixe em paz”! O pronunciamento não podia estar mais imerso no poço da lucidez, tal como a intervenção não podia estar mais inspirada nos mais elementares cânones do patriotismo.
Senhor presidente, tomei a liberdade de lhe escrever este pequeno comentário, para na qualidade de cidadão discordar in toto com os seus procedimentos. Mas, gostaria antes, de lhe informar, caso não saiba, que o senhor Presidente é, neste momento o cidadão mais impopular da nossa praça.
Contrariamente ao que os seus correligionários dizem, o senhor presidente é, simplesmente, o cidadão menos querido de um total de mais de 22 milhões de moçambicanos. E isso não é fixação, senhor Presidente, é a mais crua realidade. Aliás, mais da metade da população moçambicana encontra no senhor Guebuza o culpado pelo seu insucesso, falta de esperança e frustração. Uma das cidadãs é a que teve a oportunidade de o dizer ontem diante de câmaras na televisão.
E esta grossa franja da população tem suas razões. Uns votaram por duas vezes em si e acreditaram no que o senhor andou a prometer durante as duas campanhas eleitorais. Outros simplesmente já o conheciam e não acreditavam no senhor e vêem-se agora a viver o apocalipse político-social de um País que tinha tudo para dar certo, e ser um lugar normal para se viver.
Mas convêm esclarecer-lhe senhor presidente, onde tudo começou. Se bem que Carlos Cardoso em 1997 previu que tudo iria começar com a sua indigitação a candidato à presidência da República. Profecias, embora certas, à parte! tudo começou com a gestão de expectativa. O senhor apresentou-se como o salvador do País, com um discurso intriguista que visava colocar o Presidente Chissano numa situação de vilão. Prometeu acabar com tudo que na sua óptica, foi introduzido por Joaquim Chissano. Mas o tempo e os acontecimentos estão a provar que era tudo mentira! Da corrupção à pobreza, tudo aumentou. Das oportunidades à esperança, tudo privatizou. Liberdades? Simplesmente coarctou-as.
Transformou a Frelimo numa seita religiosa que difunde o medo e o ódio. Medo de Guebuza e ódio a quem não cultua Guebuza. Transformou pessoas inteligentes em autênticos pacóvios. Conseguiu levar jovens com formação superior e com tanta energia e conhecimento, e transformou-os em sindicalistas do delírio. Andam de televisão em televisão e nas redes sociais a demonstrarem a necessidade urgente de um psiquiatra nas suas vidas, tudo em defesa do indefensável materialmente corporizado pelo senhor.
Senhor presidente, o senhor apresentou-se como “salvador” do País, e tudo indica que vai sair certamente, como o “destruidor” do País. Na verdade o senhor Guebuza está agora a ser vítima da sua campanha populista. O que houve na verdade, é uma espécie de “inflação de expectativas” e o correspondente efeito “boomerang” tratado em Marketing político. O senhor inflacionou as expectativas dos eleitores e não conseguiu cumprir um terço daquilo que andou a prometer. Tudo que disse que ia combater triplicou ou quadruplicou no seu reinado. Tudo o que disse que ia dar não deu e acumulou para si. Não é por acaso que todos os seus próximos são os cidadãos mais ricos do País e estão entre os mais ricos de África. Que o diga a sua primogénita filha, senhor presidente.
Nos últimos seis meses, não deixa de ser estranho, senhor presidente, que todos os jornais e televisões abram os seus serviços noticiosos com pessoas vítimas do “Guebuzismo”. Para efeitos deste comentário, vamos defini-los como todos os cidadãos que o senhor está a prejudicar com a sua desgovernação. Ora são funcionários que lhes é negado o direito à greve, ora são médicos a serem detidos, são desmobilizados a serem espancados e detidos ilegalmente, são milhares de jovens licenciados que continuam pendurados nas residências universitárias e terraços sem qualquer tipo de esperança, são jovens que passam a vida a subtrair dias da sua própria esperança de vida com bebidas espirituosas que o senhor deixou entrar como “investimento”, são militantes da oposição a serem perseguidos e detidos ilegalmente, antigos combatentes de que o senhor tanto fala a serem desalojados das casas em que vivem há 38 anos para lugar incerto, é a população que vai ficar sem água nos próximos dias por culpa da arrogância da sua equipa. Até militares já assaltam cidadãos! Todos esses sabem que o culpado de tudo chama-se Armando Guebuza. Todos estes sabem que é Guebuza que está a dar-lhes cabo da vida. Todos esses, sabem que estão como estão, por culpa do senhor Guebuza.
Nas redes sociais só se fala do senhor, pelas mais desprestigiantes motivações. Aliás nas igrejas, nos hospitais, nos bares, nas casas de prostituição, nas escolas, nos “chapas” e nos cafés só se fala do senhor Presidente como o cidadão mais impopular. Os debates televisivos tratam do senhor pela negativa. Todo mundo diz que o senhor está a dar cabo do País. E isso, infelizmente é verdade, senhor Presidente.
Sei que este meu comentário lhe chegará às mãos, e estará um grupo de pessoas a dizer-lhe que tudo isto que aqui elenquei são mentiras inspiradas no antipatriotismo. Sei disso senhor Presidente. Mas se achar que tudo isto é mentira coloque-se o seguinte desafio: entre numa escola, mercado, igreja ou bar e apresente-se como Armando Guebuza e fique atento ao que vai acontecer nos próximos segundos.
O senhor teve o mérito de colocar o País numa situação de extrema pobreza e de falta de esperança já mais visto. Não há registo de tanta miséria nas famílias, e revolta acumulada como agora, excepto quando estávamos em guerra. E isso é obra senhor Presidente! Obra da incapacidade! Em nome do bom senso subscrevo-me com um patriótico pedido que sinceramente espero colher da vossa parte uma afável receptividade: senhor Guebuza, pare de lixar este País! (Matias Guente)
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